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DISCURSO DO SENHOR GIOVANNI GALASSI,
DECANO DO CORPO DIPLOMÁTICO
CREDENCIADO JUNTO DA SANTA SÉ,
EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DE SÃO MARINO*
  

  10 de janeiro de 2005

 

Santo Padre!

Em nome do Corpo diplomático acreditado junto da Santa Sé, apraz-ma transmitir os nossos votos mais sinceros para o Novo Ano que, mais uma vez, se apresenta cheio de doeu dadas e de contradições.

De facto, depois do acontecimento espiritual do Grande Jubileu, do qual poderíamos pensar que representou o inicio de uma nova ara para a humanidade, que jamais se encontrou em condições tão favoráveis devido aos progressos realizados nos âmbitos cientifico e da comunicação mundial, pelo contrario o nosso terceiro milénio apresenta-se marcado por uma série interminável de dramas, face aos quais parece que não temos defesas e aos quais não queremos ou não podemos por fim. O terrorismo internacional continua com uma violência inaudita e uma grande vileza a fazer vitimas no mundo inteiro, atingindo ápices do horror como na tragédia de Beslan, na qual as próprias mulheres não tiveram piedade alguma por crianças pequeninas.

A guerra que se prolonga no Iraque, com a sua luta quotidiana de sangue derramado por militares e civis, levanos a reflectir acerca das suas palavras proféticas que realçam o facto de que não se pode conceber as armas como a única solução para as divergências entre os países.

O sentimento do ódio e da vingança que se apodera de amplas camadas das populações israelita e palestre torna ainda infrutuoso na Terra Santa uma negociação leal, a qual dificilmente se poderá alcançar se os critérios de justiça não torem acompanhados por sentimentos de perdão reciproco e por uma vontade de construir ir juntes o porvir . Os focos de guerra presentes em vários países devastam em particular o Continente africano, já duramente provado, e com frequência estão ligados a interesses económicos não relaciona dos com as realidades locais, o que favorace um comércio de armas indigno e vergonhoso que a nossa sociedade já deveria ter interrompido há muito tempo.

As catástrofes naturais como a recente e imane tragédia no Sudeste Asiático, e a degradação inconsiderada do meio ambiente deixam sem possibilidade de defesa nem recursos para a própria existência populações inteiras, dizimadas periodicamente pela fúria do ambiente. 

Todos os dias nos descobrimos mais frágeis e senti defesas, enquanto o receio, o egoísmo e o sentido de insegurança perseguem o nosso futuro e nos encerram, ansiosos, no presente, cada vez mais incapazes de enfrentar, por unanimidade, os desafios que o nosso tempo nos apresenta. Para isto contribui o carácter superficial dos meios de comunicação, que condicionados por um relativismo difundido, nos propõem sem discernimento algum unicamente canas de violência e de morte, ou pior ainda, de um mundo sera valores e sem alma.

Santo Padre, perante esta situação desesperadora, nos encontramos conforto no seu Magistério com o qual, incansavelmente e com um amor paterno, nos estimula a educar os povos para a paz, para o diálogo constante e para a compreensão entre as pessoas, a respeitar a lei moral universal a fim de construir uma terra fraterna, onde não haja quem se sente estrangeiro, e onde, numa solidariedade reciproca, se possa alcançar a realização de uma sociedade de justiça autêntica e sem discriminações, iluminada pelos valores espirituais. 

O caminho que Vossa Santidade nos índice, mostra-se indispensável no momento actual, marcado por profundas transformações dos equilíbrios mundiais. ao progresso constante da União Europeia, que surgiu do dialogo entre países paritários e talvez ainda incerta perante uma laicidade mal compreendida, juntam-se o progresso socioeconómico rápido de países enormes como a China e a Índia, a consolidação de novas politicas comunitárias na América Latina, as tentativas constantes dos países do Continente africano de consecução da sua independência politica e económica, constituem numerosos elementos que levam a pensar que o nosso planeta terá cada vez mais necessidade de decisões negociadas e multilaterais para não se tornar vitima de oposições funestas ditadas por egoísmos nacionalistas.

Neste perspective, o papal da ONU permanecera insubstituível sob a condição de que, após 60 anos da sua instituição, ela disponha de novas forcas e meios para ser concretamente uma verdadeira família de Nações, na qual a Santa Sé, após a assinatura do seu novo estatuto em Julho de 2004, possa intervir cada vez mais para depender os interesses gerais da humanidade inteira. De igual modo, são numerosos os países que desejam que as Organizações internacionais encarregadas do desenvolvimento e do comércio desempenhem um papel mais importante, para que, numa interdependência reciproca e no respeito de regras internacionais que não estejam unicamente ao serviço dos interesses financeiros, possam fazer surgir uma solidariedade criativa para um desenvolvimento mais harmonioso dos países mais débeis, graças a eliminação do proteccionismo, dos monopólios e do uso abusivo de zonas inteiras, que na realidade conduzem a um empobrecimento do meio ambiente natural e a agravação da sua pobreza a que isso de origem. Os bens da terra, como Vossa Santidade realçou varias vezes, são destinados ao uso de todos os homens, chamados a usá-los, como cidadãos do mundo, segundo o principio da honestidade.

E graças a uma solidariedade mundial e quotidiana que poderá ser reduzido o fosso cada vez mais profundo que separa os países mais desenvolvidos dos que estão atormentados pela pobreza ou até pela miséria, que lesa a sua existência e a dignidade de pessoas.

Ao contrario, certes países permanecem numa situação dramática por vários motivos a divida externa que foi contraída e que não pode ser saldada, a pressão injusta de numerosos financiamentos concordados e cheios de regras coercitivas, a desertificação e a penúria de recursos de agua que subvertem Inteiras regiões do planeta, a degradação da situação no campo da saúde relacionada com pandemias que atingem numerosas pessoas em certos países, a alta mortalidade infantil persistente, a exploração indigna de seres humanos, sobretudo de mulheres e crianças, a tome insistente que oprime numerosos povos.

Durante o século actual, o nosso desafio consiste em ter a capacidade de resolver os numerosos problemas. a Paz não pode ser considerada simplesmente como um dom mas deve ser também o resultado de um trabalho continuo e intenso de cada um de nos, orientado, como Vossa Santidade nos exortou na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2005, «com», e «para» o próximo, na busca constante do bem comum e partilhado, não só a nível económico, mas também cultural, sem esquecer o seu aspecto transcendente.

Santo Padre, as suas continuas exortações acerca do valor sagrado da pessoa e do vinculo concreto que ela mantém com o seu Criador estimulam a consciência dos povos a orientar-se para os ideais que só o espírito e o dialogo podem aumentar.

Neste sentido, desejamos expressar lhe quanto apreciamos o seu magistério, assim como o seu livro «Levantaivos, vamos, e o trabalho realizado pela Secretaria de Estado e pelo Pontifício Conselho «Justice e Paz, desenvolvido no Compêndio da Doutrina Social da Igreja que, para os homens corajosos e de boa vontade, construirá uma orientação segura em vista da edificação de uma sociedade melhor.

Para isto contribua de maneira importante o seu compromisso perseverante no dialogo com todas as religiões e na busca da unidade dos cristãos. o recente encontro com Sua Santidade Bartolomeu I, durante o qual foram restituídas as relíquias de Gregório de Nazianzo e de João Crisóstomo, e a entrega a Sua Santidade Alexis II do venerável ícone da Mãe de Deus de Kazan são disso provas tangíveis.

Por fim, Santo Padre, agredecemoslhe ter lançado, num período com frequência pouco inclinado para a reflexão sobre os valores espirituais, o Ano da Eucaristia, sacramento fundamental no cristianismo, mas ainda fonte de comunhão para quantos desejam sentir-se parte activa da única e mesma família humana, a fim de alcançar a finalidade que Vossa Santidade sempre inspirou: a civilização do amor.

Bom Ano, Santo Padre.


*L'Osservatore Romano. Edição semanal em português n°3, p.7.

 

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