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  DISCURSO DO SENHOR GIOVANNI GALASSI,
DECANO DO CORPO DIPLOMÁTICO
CREDENCIADO JUNTO DA SANTA SÉ,
EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DE SÃO MARINO*

Segunda feira, 9 de janeiro de 2006

 


Santo Padre

Em nome do Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé, é com prazer que lhe dirijo os nossos votos mais sinceros para o Novo Ano que, mais uma vez, deixa entrever desafios entusias mentes para o progresso da humanidade, mas também dificuldades preocupentes e dissimuladas.

Depois da queda das ideologias ateias e totalitárias do século passado, torna-se cada vez mais insistente, sobretudo nos países mais progredidos, uma utopia de liberdade sem valores, que se desenvolveu no âmbito de um relativismo agnóstico! no qual a exis tãncia humana é considerada não em junção de verdades objectivas e, por conseguinte, transcendentes, mas unicamente em tuncão de consentimentos, variáveis segundo o agrado de maiorias efémeras, que podem transformarse em licenciosidade na vida individual e em arbitrariedade a nível social e político.

Nos estamos-lhe gratos, Santo Padre, pelas suas chamadas paternas mas determinadas a não sobrestimar este perigo evidente, que leva a um vazio do coração! tendo como consequãncia o perder de vista o «porquê», e o «como» da vida e da coexistência humana, para naufragar muitas vezes num fundamentalismo fanatico ou no niilismo total, como se verifica no caso do terrorismo que continua a causar vitimas inocentes, num desígnio bárbaro e louco de poder ou de vingança aberrante em relação a outros poderes.

Ao mesmo tempo, hoje nos somos chamados a impedir, com grande determinapão, as numerosas guerras endé m ices, por vezes ligadas a interesses económicos que nada têm a ver com as realidades locais, que destroem de ma neira repetida diferentes partes do mundo e sobretudo a Africa, levandolhe unicamente destruição e morte.

Vêm espontaneamente a memória as palavras de esperança do projete Isaias, o qual afirma que a paz só poderá surgir se das suas espadas, os povos torjarem relhas de arados, e das suas lanças foices» (cf. Is 2, 4). Ao contrário! nós assistimos, como numa espécie de antítese as esperanças de uma grande parte da humanidade e as suas repetidas exortações, ao aumento vertiginoso das despesas militares para armas cada vez mais sofisticadas, ao seu vergonhoso comércio internacional, a manutenção de grandes arsenais de armas nucleares e as tentativas ameaçadoras leites por certos países para realizar novas, com a finalidade de um ataque ou de uma defesa irrealista, es quecendo de forma culpável as enormes tragédias de Hiroxima e de Negasaqui, ha precisamente sessenta anos. Contudo, os sinais positivos não taltam, mesmo se ainda são incertos, como a atenuação progressiva de determinados conflitos regionais e a situação na Terra Santa, na esperança que seja realizada o Road Map, a caminhada dolorosa do Afeganistão e do Iraque rumo a democracia, a renúncia a luta armada da parte de movimentos separatistas. Estamos convencidos de que a acção diplomática paciente e tenaz, com a qual todos nos estamos chamados a colaborar, acção que se baseia no dialogo honesto e na compreensão entre os costumes e as culturas diversas, poderá contribuir eficazmente para abrir horizontes plenos de esperança e para construir, numa solidariedade reciproca, uma terra fraterna, da qual ninguém se sinta excluido.

É neste sentido que trabalham também as Instituições internacionais e de modo especial e ONU, onde a presença da Santa Sé é cada vez mais dinâmica, cada um aspira por que a reorganizacão que esta a decorrer permita que esta Instituição melhore a sua atenção as realidades exigentes dos povos, mais do que aos equilíbrios de poder, e seja capaz de Jazer respeitar concretamente as resoluções assumidas.

Ao contrario, permanece uma preocupação os numerosos danos provocados no nosso habitat pela exploração selvagem dos recursos do planeta e pela sua poluição progressiva, que poderá tornar-se insuportável se for continuada uma industrialização frenética, assim como pelas dramáticas catastrotes naturais que têm causado graves consequãncias para a sobrevivência de milhões de pessoas.

Como Vossa Santidade realçou, permanece de igual modo sem resolução o problema da pobreza de numerosos povos, que muitas vezes é causado por uma distribuição não equitativa dos bens da terra e do seu comércio não obstante certas aberturas dos países mais progredidos aos mais pobres, o Relatório de 2005 das Nações Unidas para o Desenvolvimento e o Relatório anual da FAO sobre a situação de insegurança alimentar no mundo foram muito decepcio nantes em relação aos objectivos esta belecidos o mesmo se verificou com a últimaCimeira de Hong-Kong sobre o mercado equitativo e partilhado, que não foi exaltaste.

Como afirmam numerosos países, é necessária uma solidariedade mais Ira- terna para com os países em vias de desenvolvimento, com uma revisão drástica da sua divida externa, com o apoio da sua agricultura que, com frequãncia, constituiu a sua única fonte, com regras comerciais mais justas, a lim de contribuir para a redução concreta do abismo profundo que existe entre os países nos quais existe um consumismo desenfreado e os países nos quais a miséria é o destino quotidiano.

A tome e a subalimentação que perduram em numerosas partes do planeta ressentem de maneira negativa do egoísmo de estruturas económicas internacionais muitas vezes voltadas unicamente para o lucro, que se pode traduzir em praticas contra a vida humana e em sistemas ideológicos que reduzem o homem a um simples instrumento de mercado, sem considerar as suas necessidades primordiais e as suas aspirações legitimas, atentando a sua dignidade.

A libertação da tome, da sede e da miséria total é uma condição prioritária para permitir que milhões de pessoas saiam da escravidão, progridam concretamente na organização de sistemas ordenados de governo, procedam a erradicação do analfabetismo e da corrupcão, realizem sistemas de saúde validos contra as pandemias velhas e novas, mas ainda devastadoras.

Vossa Santidade exortou-nos recentemente a realizar a paz na verdade e não se tem acesso a verdade se não se considera o homem como um fruto do amor do Criador e, como tal, o homem deve ser detend ido contra qualquer forma de instrumentalizacão.

Nesta perspectiva, numerosos países prosseguem a luta contra a droga e contra o trafico indigno de seres huma nos, considerados como objectos de trabalho, de prazer ou de barata expioração egoísta, de igual modo, é oportuno defender a dignidade dos embriões humanos, que não devem ser considerados como simples amontoado de células à disposição da pesquisa cientifica.

Vossa Santidade afirmou com grande clareza que, numa cultura e numa sociedade na qual Deus é eliminado, a humanidade não pode viver de modo verdadeiro, e o grande número de jovens reunidos em Oolonia demonstra rem com entusiasmo a sua vontade de se deixarem inflamar pelo logo do Espirito e de se tornarem testemunhas da alegria, da bondade e da torpe, que só os valores transcendentais podem dar. O sofrimento silencioso do nosso amado João Paulo II, durante os seus útimos dias de vida, sublimado numa mensagem heróica de amor para com todos, o Ano da Eucaristia e o recente Sínodo dos Bispos estimulam-nos para um caminho de partilha na justiça e na Iratern idade universal.

Também nos, Santo Padre, procuramos basear-nos no seu Magistério para apoiar a liberdade religiosa de cada um, defender a tamil ia, pedra angular da sociedade, a lim de dar continuidade a um dialogo fecundo entre culturas e religiões, para recordar a prioridade da lei moral universal, na esperança certa de jazer florescer um renovado huma nismo que ponha em primeiro plano a dignidade de cada homem, em harmosia com os seus irmãos e com toda a criação.

Bom Ano, Santo Padre!


*L'Osservatore Romano. Edição semanal em português n°2, p.5.

 

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