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 DISCURSO DO PRESIDENTE
DA REPÚBLICA DO BRASIL
MARECHAL ARTHUR DA COSTA E SILVA
 AO PAPA PAULO VI

Quinta-feira, 5 de Janeiro de 1967

 

Santíssimo Padre,

Em menos de um ano cabe-me a honra de, pela segunda vez, ser recebido por Vossa Santidade. Se a primeira audiência deixou no então Ministro da Guerra uma impressão viva, a maior da viagem que naquela época empreendia, a visita oficial que hoje faço a Vossa Santidade, como Presidente eleito do Brasil, tem para mim, para o meu país e seu povo um significado especial, por isso que é a ocasião única de vir prestar ao Chefe da Igreja Católica, antes de iniciar o Govêrno, as homenagens e os protestos de fidelidade e reverência de um povo que se orgulha de ser o mais numeroso dentre os católicos do Mundo.

Permita-me recordar, com justificado orgulho, a visita que na qualidade de Cardeal-Arcebispo de Milão Vossa Santidade fêz ao Brasil no ano de 1960. Se foi profunda a marca deixada pelo então Príncipe de Igreja, essa impressão ainda mais cresceu com os feitos do atual Pontificado. O povo brasileiro, que recebeu com imenso júbilo a Sua elevação à Cátedra de São Pedro, mercê da Providência Divina, acompanhou com particular interêsse o desenrolar dos trabalhos do Concílio Ecumênico Vaticano II levado a bom têrmo pela mão segura de Vossa Santidade, digno continuador da grande obra de outro Papa igualmente ilustre. E não pode ficar indiferente à obra imensa de adaptação da Igreja ao Mundo moderno que se está processando no período post-conciliar. Os Seus esforços em favor do restabelecimento da paz no Mundo, da paz em tôda a plenitude, segundo o conceito de Santo Agostinho, encontram no Brasil não só a ressonância das grandes vozes como o apoio e a admiração que só as idéias generosas são capazes de gerar.

Nós, brasileiros, temos plena consciência das sucessivas manifestações de aprêço e de paternal benevolência que, do início do Pontificado, Vossa Santidade não cessa de nos dispensar, desde a criação de mais um Cardeal para a sede de São Paulo até os auxílios espirituais e morais com que vem acudindo aos anseios do povo e favorecendo a elevação de nível das regiões menos favorecidas do país. A essas provas de amor do Pai comum somos " imensamente reconhecidos e aqui vim para Lhe trazer o penhor dêsse sentimento, que é profundo e sincero e que só se poderá traduzir por demonstrações inequívocas de fidelidade à pessoa do Papa.

As palavras com que Vossa Santidade acolheu o Presidente eleito do Brasil são um testemunho do particular interêsse pelo meu país e seu povo. Se, por um lado, traduzem Sua paternal preocupação pelos graves problemas com que se haverá de defrontar o meu Govêrno, constituem, por outro lado, um hino de confiança e de otimismo no futuro do Brasil. A solução dêsses problemas, objeto da justa preocupação de Vossa Santidade, constitui o eixo do meu programa de Govêrno, cuja meta principal é o Homem através do bem-estar social; confio em que, com a assistência da Divina Providência, possa cumprir êsse programa para o que conto com a valiosa colaboração da Igreja.

Creia que ao ouvir a voz augusta do Papa, ao sentir os votos que lhes formula o Vigário de Cristo, os brasileiros encontrarão fôrças novas e orientação segura para trilhar o caminho que os haverá de levar à realização do destino que Vossa Santidade acaba de lhes traçar. Que sejam, portanto, do mais comovido reconhecimento as expressões que neste momento tenho o honroso privilégio de Lhe manifestar.

E, neste dia, tão excepcional não só pela transcendental importância como pelo seu significado na história das relações da Igreja com o Brasil, permita-me manifestar uma aspiração que é, ao mesmo tempo, um imenso desejo e uma grandíssima esperança, de que numa data que desejaria fôsse não muito longínqua, Vossa Santidade atendesse ao apêlo de milhões de brasileiros e voltasse a sentir de perto a fôrça da sua Fé, as suas realizações em todos os campos da atividade humana e as incomensuráveis reservas para o futuro, reservas de bens materiais, é certo, mas principalmente de riquezas espirituais com que hão de retribuir largamente o interêsse que Vossa Santidade, a exemplo dos Seus próximos antecessores, dispensa àquele país descoberto e formado sob o signo de Cristo. E o Brasil abrirá então os braços e o coração para receber desta vez como Pontífice, Aquele que o visitou como Arcebispo de Milão.

 


*Insegnamenti di Paolo VI, vol. V, p.11-12.

L’Attività della Santa Sede 1967, p.22-23.

L’Osservatore Romano, 6.1.1967.

 

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