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INTERVENÇÃO DO REPRESENTANTE DA SANTA SÉ NA XXI CONFERÊNCIA DOS ESTADOS PARTES NA CONVENÇÃO - COP21
[PARIS, 30 DE NOVEMBRO - 11 DE DEZEMBRO DE 2015] 

DISCURSO DO SECRETÁRIO DE ESTADO
CARDEAL
 PIETRO PAROLIN

Segunda-feira, 30 de Novembro de 2015

 

Em nome do Papa Francisco, dirijo a todos vós uma cordial saudação, juntamente com o meu sincero encorajamento a trabalhar com entusiasmo por um êxito fecundo desta Cop21.

No dia 26 de Novembro passado, durante o seu discurso no Centro da Onu em Nairobi, o Santo Padre fez amplas referências à Cop21, fazendo votos que ela se conclua com a adopção de um Acordo global e «transformador», fundado nos princípios da solidariedade, da justiça, da igualdade e da participação, orientado para a obtenção de três objectivos complexos e interdependentes: aliviar os impactos da mudança climática, combater a pobreza, fazer florescer a dignidade da pessoa humana. Seria trágico, acrescentou, se os interesses particulares prevalecessem sobre o bem comum e levassem especialmente a manipular a informação.

Um acordo global e transformador deveria ancorar os seus fundamentos em três pilares.

O primeiro consiste na adopção de uma clara orientação ética, que inspire as motivações e as finalidades do Acordo a ser implementado. Sabemos bem que as pessoas mais vulneráveis ao impacto do fenómeno da mudança climática são as mais pobres e as gerações futuras, que sofrem as suas consequências mais graves sem ser na maioria das vezes responsáveis por elas. Contudo, devemos frisar que este fenómeno não conhece fronteiras nem barreiras políticas ou sociais que permitam o nosso isolamento; reforça em nós a consciência de que somos uma única família humana e que não há espaço para a chamada globalização da indiferença. Face à urgência de uma situação que exige a mais ampla colaboração possível para estabelecer um plano comum, é importante que este Acordo se baseie no reconhecimento tanto do imperativo ético a agir num contexto de solidariedade global, como da responsabilidade comum mas diferenciada de cada um, segundo as respectivas capacidades e condições.

O segundo pilar refere-se ao facto de que o Acordo deveria não só indicar as modalidades para a sua actuação, mas também e, sobretudo, transmitir sinais claros que orientem os comportamentos de todos os actores interessados, a começar pelos Governos, mas também as autoridades locais, o mundo empresarial, a comunidade científica e a sociedade civil. Comportamentos destinados a alcançar os três objectivos indicados pelo Santo Padre. Isto exige que se empreenda com convicção o caminho para uma economia a baixo conteúdo de dióxido de carbono e rumo a um desenvolvimento humano integral. A dinâmica deste percurso dependerá de quanto todos os actores citados se empenharem e colaborarem para tal âmbito, onde são numerosas as possibilidades de utilizar a inventiva humana, capaz de fazer florescer a dignidade da pessoa. Nesta perspectiva, os países com maiores recursos e capacidades deveriam dar o bom exemplo, levando recursos aos países mais necessitados a fim de promover políticas e programas de desenvolvimento sustentável. Penso por exemplo na promoção das energias renováveis e da desmaterialização, assim como no desenvolvimento da eficiência energética; ou ainda numa gestão adequada das florestas, do transporte e do lixo; no desenvolvimento de um modelo circular da economia; na actuação de programas apropriados, sustentáveis e diversificados de segurança alimentar e de luta contra o desperdício de alimentos; na estratégia de contraste a especulações e subsídios ineficazes e às vezes até iníquos; e no desenvolvimento e transferência de tecnologias apropriadas. São aspectos cuja actuação eficaz deveria ser inspirada pelo novo Acordo.

O terceiro pilar diz respeito à visão do mundo. A Cop21 não representa um momento de chegada nem de partida mas uma etapa crucial de um percurso que certamente não acabará em 2015. Um Acordo com uma ampla perspectiva temporal como esta deveria prever processos de revisão dos compromissos e de follow-up transparentes, eficazes e dinâmicos, capazes de aumentar progressivamente o nível de ambição, além de garantir um controle adequado. É necessário considerar também seriamente a actuação de modelos de produção e consumo sustentáveis e de novas atitudes e estilos de vida. Aqui entramos nos fundamentais campos da educação e da formação, que infelizmente muitas vezes são deixados às margens das negociações sobre os Acordos internacionais. As soluções técnicas são necessárias mas insuficientes, se não se abordar a educação para estilos de vida sustentáveis e com uma consciência responsável. O estilo de vida actual, com a sua cultura do descartável, é insustentável e não deve ter espaço nos nossos modelos de educação e de desenvolvimento. Trata-se de «um grande desafio cultural, espiritual e educativo que implicará longos processos de regeneração» (Laudato si’, n. 202).

O Santo Padre encoraja todos nós a fim de que a Cop21 possa concluir-se com a adopção de um Acordo global e transformador que tenha uma clara orientação ética, que transmita fortes sinais para todos os actores envolvidos e que adopte uma visão consistente a longo prazo com a obtenção dos três objectivos mencionados: aliviar os impactos da mudança climática, combater a pobreza e fazer florescer a dignidade do ser humano.