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SYNODUS EPISCOPORUM

II COETUS SPECIALIS PRO AFRICA

 

RELATIO POST DISCEPTATIONEM

 

EXC.MO E REV.MO CARD. PETER KODWO APPIAH TURKSON
ARCEBISPO DE CAPE COAST
RELATOR GERAL

 

A Igreja em África ao serviço
da reconciliação, da justiça e da paz.
«Vós sois o sal da terra...
Vós sois a luz do mundo» (Mt 5, 13.14)

 

TEXTUS LUSITANUS

 

E CIVITATE VATICANA
13 de Outubro de 2009

 

© Copyright Secretaria Generalis Synodi Episcoporum - Libreria Editrice Vaticana.
TYPIS VATICANIS 2009


 

INTRODUÇÃO

NOVAMENTE REUNIDOS NUMA ASSEMBLEIA ESPECIAL PARA A ÁFRICA DO SÍNODO DE BISPOS

OUTRAS ESTRUTURAS DE COMUNHÃO ECLESIAL

O CENÁRIO DA SEGUNDA ASSEMBLEIA: MISÉRIAS OU DESAFIOS DE ÁFRICA?

Igrejas locais
Âmbito sociocultural
Âmbito sociopolítico
Âmbito socioeconómico

O REFORÇO DA FÉ EM CRISTO

CRISTO NOSSA RECONCILIAÇÃO

CRISTO NOSSA JUSTIÇA

CRISTO NOSSA PAZ

DISCÍPULOS, SERVIDORES DA RECONCILIAÇÃO, DA JUSTIÇA E DA PAZ

A FAMÍLIA

DIGNIDADE DA MULHER E O SEU PAPEL AO SERVIÇO DA RECONCILIAÇÃO,
DA JUSTIÇA E DA PAZ

O ÂMBITO SOCIORELIGIOSO

A MISSÃO PROFÉTICA DA IGREJA-FAMÍLIA DE DEUS NA ÁFRICA

OS LEIGOS

OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

OS CLÉRIGOS

A VIDA CONSAGRADA

UMA SÓ IGREJA-FAMÍLIA DE DEUS COM MUITOS ROSTOS

CONCLUSÃO

PERGUNTAS


 

INTRODUÇÃO

A Segunda Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a África oferece-nos uma oportunidade singular para aprofundar a noção da Igreja como Família de Deus e reflectir sobre o exercício da sua missão em África e nas suas Ilhas. Nesta linha, talvez fosse preferível ler a referência à “Igreja em África” do tema do Sínodo no sentido da “Igreja-Família de Deus em África”.

Quando o Servo de Deus João Paulo II reconheceu, com discernimento apostólico, que o tempo estava maduro para passar da fase de implementação da Ecclesia in Africa à convocação de um segundo Sínodo para a África, ele referiu-se, uma vez mais, às “luzes e sombras” do continente e das suas ilhas, exortando o continente a um esforço de cooperação e ao fortalecimento da sua fé em Cristo: «A África», disse então, «enfrenta sempre terríveis flagelos como os conflitos armados, a pobreza persistente, as doenças e as suas consequências devastadoras, começando pelo drama social da SIDA, pela insegurança difundida e, por fim, a corrupção presente em numerosas regiões. Tudo isto enfraquece a África, esgota as suas energias, dizima as novas gerações e hipoteca o seu futuro. Para construir uma sociedade próspera e estável, a África precisa que todos os seus filhos unam os seus esforços ... Que a futura Assembleia especial do Sínodo dos Bispos para a África favoreça também um fortalecimento da fé em Cristo Salvador, nossa autêntica reconciliação!» (1).

Esta é aquela “futura assembleia especial para a África”, graças a sua Santidade, o Papa Bento XVI, o qual graciosamente confirmou o projecto do seu antecessor e formulou o seu tema (2).

Os exemplos analisados e as reflexões sobre estas “luzes e sombras”, tal como os Padres sinodais as exprimiram, devem ser considerados, à luz da nossa fé em Cristo, a quem o primeiro Sínodo chamou “nossa esperança e nossa ressurreição” como desafios e oportunidades de conversão. A transformação destas “luzes e sombras” em Cristo deveria levar-nos ao fortalecimento da nossa fé em Cristo, nosso Salvador, nossa reconciliação, nossa justiça e nossa paz (cf. Instr. Lab 46).

 

NOVAMENTE REUNIDOS NUMA ASSEMBLEIA ESPECIAL
 PARA A ÁFRICA DO SÍNODO DOS BISPOS

É claro que a maioria dos participantes da nossa Assembleia são africanos ou têm a ver com a África; mas isto não deve desvirtuar nem diminuir o carácter verdadeiramente universal e eclesial do nosso encontro e deste acto colegial. É um acto de comunhão eclesial, tal como nos foi recordado nesta assembleia por diversas vezes. Assim, este Sínodo, tal como todos os Sínodos, celebra o laço íntimo de união entre o Sumo Pontífice e os Bispos, assiste o Bispo de Roma no exercício da sua missão universal, estuda e reflecte juntamente com o Santo Padre sobre os problemas e os assuntos relacionados com as actividades da Igreja no mundo. Deste modo, quer estando presente para rezar com o Santo Padre e os Padres Sinodais e para expressar os seus pontos de vista, quer estando ausente, mas unida em espírito e oração com a Assembleia sinodal, é a Igreja universal que está reunida em Sínodo debruçando-se sobre a sua presença em África (Igreja em África). Este é um acto universal de toda a família de Deus e do Corpo místico… na sua pertença mútua, compartilhando a sua vida comum em Cristo. Não se trata, pois, de um assunto exclusivamente africano ou de uma mera assembleia com participantes não-africanos. Trata-se antes do discernimento da Igreja universal sobre o modo de manter saudável o enorme pulmão espiritual da África em favor da humanidade (cf. Homilia do Papa, 4.X.2009), no cumprimento da sua missão de ser sal e luz.

 

OUTRAS ESTRUTURAS DE COMUNHÃO ECLESIAL

Partindo da natureza do “Sínodo” como um acto de comunhão eclesial, os Padres sinodais detiveram-se a examinar e a sublinhar a necessidade da união dos Bispos entre si (Instr. Lab. 110), a sua vida em comunhão eclesial e o testemunho de ambas a nível das diversas formas e órgãos de cooperação ministerial. A este propósito, muitos Padres sinodais mencionaram o SECAM, e a necessidade de uma colaboração dos pastores do continente com este órgão, que os seus predecessores fundaram há quarenta anos atrás, a fim de promover a “Evangelização em co-responsabilidade”. A CELAM, a FABC e a CCEE esperam estabelecer e continuar a estreitar laços com o SECAM como também com a USCBC, etc.

Espera-se que o SECAM consiga obter o estatuto de observador na União Africana, estando a proceder de modo semelhante as conferências regionais em relação aos parlamentos regionais e parlamentos nacionais, tal como já acontece na África do Sul.

Um exemplo recente deste desejo de testemunhar e viver em comunhão eclesial activa é a decisão das Conferências Episcopais Regionais da África Ocidental de Língua Inglesa (AECAWA) e da África Ocidental de Língua Francesa (CERAO), até há pouco separadas, de formar uma única Conferência Episcopal Regional (RECOWA / CERAO).

Na mesma linha, os Institutos de Vida Consagrada e Religiosa confirmaram também a sua necessidade de viver em comunhão, estando-se a explorar a nível dos seus diversos corpos agregados (eg. MAC, COSMAM etc.) novos caminhos de colaboração ministerial no seio da Igreja continental, nacional e local.

 

O CENÁRIO DA SEGUNDA ASSEMBLEIA:
 MISÉRIAS OU DESAFIOS DE ÁFRICA?

Registaram-se muitas mudanças positivas quer na Igreja quer na maior parte da sociedade em África desde a primeira Assembleia Especial para a África. Algumas destas mudanças positivas são directamente atribuíveis aos efeitos do Sínodo. No entanto, ainda há muitas sombras na Igreja e na sociedade, quinze anos após a conclusão da primeira Assembleia que, aliás, foi descrita como um Sínodo de ressurreição e de esperança, e do qual se esperava que assinalasse um momento decisivo na história do continente (3).

Os Padres sinodais citaram muitos exemplos e reflexões relativas às “sombras” ao longo das diversas sessões desta Assembleia. Assim, a nível de

Igrejas locais:

Os Padres sinodais reconheceram francamente o apreço insuficiente pelo papel das mulheres e dos jovens nas comunidades locais, bem como a pobreza da sua formação no campo da fé. Os políticos e outros funcionários públicos nem sempre puderam desfrutar daquele acompanhamento e formação que lhes teria permitido testemunhar de forma conveniente a fé na sua vida e trabalho. O uso dos meios de comunicação social deve ser incrementado além do uso de estações de rádio locais. O testemunho da Igreja fica comprometido pela dificuldade que alguns agentes pastorais têm de ser fiéis aos seus votos, vocação e estados de vida.

 

Âmbito sociocultural:

Os Padres sinodais tiveram que deplorar numerosos pontos da sociedade africana. Além da menção especial ao nomadismo e aos conflitos por causa de águas e zonas de pasto, a maior fonte de pesar para os Padres sinodais tem a ver com o aparecimento de tendências na sociedade de carácter e conteúdo duvidoso que se afastam e opõem aos valores tradicionais. Foi sugerido que, em vez de falar num “conflito de culturas”, o Sínodo deveria considerar a experiência sobretudo como um “encontro de culturas”. Por outro lado, a maioria das observações recaiu sobre os agentes sociais.

Muitos Padres sinodais lamentaram a sorte da família em África, ou seja “a destruição de uma autêntica ideia de matrimónio e da noção de uma família sã” (Instr. Lab. 31), considerando que a instituição familiar está a ser seriamente submetida à ameaça de instabilidade e dissolução em virtude da pobreza, dos conflitos, das crenças e práticas tradicionais (feitiçaria) e de infecções, principalmente a malária e a SIDA. Foram relatadas diversas iniciativas para libertar as mulheres de práticas culturais negativas.

Os Padres sinodais também descreveram de diversas formas o ataque feroz à família e à instituição fundamental do matrimónio, com ela relacionada, que provém de fora da África, tendo-o atribuído a diversos factores: o ideológico (ideologia de género, nova ética sexual global, engenharia genética); o clínico (contracepção: planeamento da paternidade e educação sanitária da reprodução, esterilização); e a emergência de estilos de vida “alternativos” (matrimónios homossexuais, uniões de facto). Mas é também do exterior de África que procederam nobres iniciativas, tais como: a Fundação Jimmy Carter contra o verme-da-Guiné em África, a Fundação Tony Blair para a Acção inter-confessional contra p.e. a malária.

As mulheres, referidas na primeira Assembleia Especial para a África como “animais de carga”, começaram a emergir em certos países em lugares proeminentes, desempenhando papéis de chefia em direito, política, economia e engenharia. Mas elas também são “recursos sub-desenvolvidos” em certos países, sofrendo da exclusão de papéis sociais, de heranças, da educação e dos lugares de decisão do poder. Eles são vítimas indefesas em zonas de conflito: vítimas de matrimónios polígamos, vítimas de abusos, de tráfico para prostituição etc. Mas o NEPAD insta com os Governos para que apressem a dotação de poder às mulheres.

As crianças, “o sector sofrente da população africana” (Homilia do Santo Padre, 04/10/09) foram apontadas como vítimas de abuso (crianças-soldado, trabalho e tráfico de crianças) e privadas do direito à educação. Noutros lugares, porém, elas têm beneficiado de programas escolares de computorização enérgicos.

O tema da juventude foi abordado a partir da menção dos problemas de África por causa da sua exposição ao abuso das drogar, da infecção da SIDA, da gravidez precoce de adolescentes, das migrações, do tráfico de seres humanos e de viagens que os fazem chegar ao destino em condições servis. Estas misérias também indicam uma pobreza de políticas e programas governamentais a nível da educação e do emprego e a pobreza da sua relação com a Igreja, devido à deficiente qualidade da sua formação e da formação contínua, e da sua deriva para fora da Igreja. Mas também se deve mencionar que a Fundação Hewlett irá estabelecer centros de excelência em cidades africanas a fim de conter as migrações e fuga de cérebros.

O tema das “migrações” foi mencionado de forma especial por causa da emanação de legislações em países Ocidentais, que parecem destinar-se a não deixar entrar os africanos.

A Assembleia também foi convidada a reflectir sobre o tema “étnico”. Quando este se desenvolve assumindo traços de exclusivismo, destrói a convivência comunitária, torna-se intolerante em relação às outras culturas e grupos étnicos, tal como o racismo.

Âmbito sociopolítico:

Além da menção especial à estabilidade política do Senegal, ao governo democrático da África do Sul e ao sucesso crescente do Gana com um governo democrático, a maior parte das referências às políticas e governos no continente foi muito crítico por várias razões, tendo-se proposto que as Igrejas locais instituam capelanias e acompanhamento dos políticos juntamente com uma formação na “Doutrina Social da Igreja”. A necessidade mais urgente é a de ter Governos e políticos que exerçam uma “chefia servidora” no exercício transparente e responsável do poder, no respeito dos direitos humanos e na administração da riqueza nacional em favor do bem-estar público.

Mas também aqui, o NEPAD, subscrito por todos os estados componentes da União Africana, requer que se respeito o governo democrático, que não haja nenhuma tolerância em relação aos golpes de estado e que se institua um “Mecanismo de Revisão Paritária” que examine a acção dos governos.

Âmbito socioeconómico:

“Pobre” e “pobreza” foram duas expressões recorrentes que, em geral, os Padres Sinodais usaram acerca dos seus países, governos, povos e igrejas. Em muitas intervenções, ficou claro que a pobreza do povo tinha justificado projectos de desenvolvimento conduzidos pela Igreja. Ela inspirou iniciativas de autonomia financeira (bancos, propriedades, companhias de seguro, etc.) e proporcionou uma ocasião de generosa troca de experiências sobre o assunto. Mas foi, também, motivo para os Padres Sinodais solicitarem apoio.

A Assembleia criticou, em relação aos níveis nacional e governamental, a incidência da corrupção e do suborno, mas, também, da negociação de contratos com investidores, particularmente de indústrias extractivas, sem qualquer benefício para a população, mas que, antes, causam conflitos e degradam o meio ambiente.

A taxa de industrialização é baixa na maioria dos países africanos e as suas economias são agrícolas e produtoras de matérias-primas. As condições de comercialização estabelecidas pela Organização Mundial do Comércio e pelos países ocidentais significam morte à vista para muitas economias africanas.

As economias baseadas na produção de matérias-primas são pouco lucrativas, necessitam de ajuda externa, de governos estrangeiros, do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional para financiar os seus orçamentos e implementarem projectos de desenvolvimento. Esta é a causa mais comum (“les origines calamiteuses”, como diz o Sínodo) do fardo da dívida que foi mencionado na Assembleia.

Aqui, também, se pode observar que os objectivos primordiais da NEPAD (Nova Parceria para o Desenvolvimento de África), como quadro ou projecto estratégico de desenvolvimento económico, são para erradicar a pobreza, colocar os países africanos na rota do crescimento e do desenvolvimento sustentáveis, para pôr fim à marginalização de África do processo da globalização.

Evidentemente, a África ainda não saiu das sombras. Ela ainda está nelas. Mas já teve alguns êxitos. “Embora a situação do Continente, das suas Ilhas e da Igreja ainda comporte algumas das “luzes e das sombras” que motivaram o primeiro Sínodo, tal situação mudou consideravelmente (4). Portanto, como declarou o primeiro sínodo, as sombras, apesar de tudo, nunca apagaram as esperanças de África; porque “a nossa esperança não decepciona” (Rom 5, 5). Evidentemente, é “na esperança (que) somos salvos” (Rom 8, 24), porque conhecemos Aquele em quem cremos (cfr. 2 Tim 1, 12). É a nossa fé no Senhor Ressuscitado que nos dá esta esperança.

Deste modo, a Igreja pode ver as presentes e persistentes sombras em África como desafios e oportunidades para crescer em intimidade com o Senhor. Os desafios referidos acima e os demais que foram mencionados na Assembleia (por exemplo, meio ambiente, tráfico de armas, etc.) convidam-nos a uma verdadeira conversão dos corações: “corações humanos feridos, o último lugar escondido de todas as causas de tudo o que desestabiliza o continente Africano” (5). Assim, seremos agentes efectivos do Espírito Santo e servos da reconciliação, da justiça e da paz.

 

O REFORÇO DA FÉ EM CRISTO

Os Padres Sinodais reunidos em Assembleia lembraram-se de que “um Sínodo dos Bispos não pode ser entendido como uma sessão especial das Nações Unidas para a África, com suas declarações públicas”. Esta foi uma forte chamada de atenção para a Assembleia Sinodal como Igreja reunida e como Assembleia de fé, que no poder do Espírito Santo professa a fé em Deus e em Cristo, seu Filho, e que está reunida para descobrir a vontade de Deus e a direcção para a sua família em África.

Isto foi seguido por outro convite da Assembleia para nos vermos como “filhos de Deus em Cristo” (confiliação) com toda a humanidade.

A Primeira Assembleia Especial, como deve ser recordado, encarregou a Igreja em África de inculturar-se, entendendo-se a si mesma como família de Deus. Enquanto Igreja, no entanto, esta identidade é realizada somente em Deus, que é comunhão (“família”), e através de Jesus que no-la revela pela proclamação do seu Evangelho. Como “primogénito de muitos irmãos”, é Jesus, o Filho de Deus, que partilha a sua filiação connosco, constituindo-nos a todos como filhos (Nele) e introduzindo-nos na vida da Trindade como família de Deus.

A referência à Igreja como família de Deus não é, portanto, uma mera aplicação de determinados conceitos antropológicos. É uma expressão da verdade da Igreja e da sua identidade que partilha da vida do Deus Uno e Trino através de Cristo. A missão de Cristo, que se torna na vida e no ministério da Igreja, deriva, portanto, da vida do Deus Uno e Trino; ora, reconciliação, justiça e paz, devem ser vistas como derivadas da vida de Deus. Pertencem ao Reino de Deus; e são vividas através da fé em Cristo, por meio de quem nos tornamos filhos (e filhas) do Reino.

Portanto, nas suas intervenções, os Padres Sinodais, várias vezes, afirmaram a centralidade de Cristo (Cristocentrismo) no tema do Sínodo, e a necessidade de entende-lo e de vivê-lo centrados em Cristo. O Instrumentum Laboris começou a sua discussão sobre o tema do Sínodo com um capítulo de “Reflexões Teológicas sobre o Tema do Sínodo” (nn. 15-19) e seguiu com uma secção sobre “Haurir a força da Fé em Cristo” (nn. 75-86). A apresentação do tema do Sínodo na Relatio ante disceptationem foi, do mesmo modo, fortemente centrada em Deus e em Cristo. Nas suas apresentações, os Padres Sinodais e os outros participantes, de várias maneiras, chamaram à atenção para uma consideração Cristológica, Eucarística e Pneumatológica do tema do Sínodo.

Os actores do tema, de acordo com a Assembleia, devem ser evangelizados, convertidos, formados na fé e serem testemunhas vivas numa vida de discípulos de Cristo (como Charles de Fouchauld); porque é a nossa comum filiação em Cristo que é a base da nossa justiça e da nossa reconciliação.

Portanto, todas as formas de experiência e de prática do tema do Sínodo (reconciliação, justice e paz) devem ser “evangelizadas” (impregnadas) pelo Evangelho.

 

CRISTO NOSSA RECONCILIAÇÃO

Foi observado na Assembleia (Relatio ante disceptationem) que “numa Igreja, que é uma família em comunhão, a reconciliação não se torna nem um estado nem um acto, mas um processo dinâmico, uma tarefa a ser cumprida todos os dias, um objective pelo qual lutar, um imparável recomeçar, através do perdão e da misericórdia, da amizade sem limites, de laços fraternais e da confiança”. Isto é tão importante que é exigido pela nossa natureza e pela nossa identidade: o que somos com Deus e diante de Deus em Cristo. É a nossa relação em Cristo com Deus e com os outros que exige reconciliação; e a sua razão de ser é reparar e restaurar a comunhão que a aliança com Deus e a nossa filiação em Cristo estabelecem, mas que o pecado ameaça e destrói.

É em Cristo, pois, que estamos em comunhão com Deus; e é nele que alcançamos a nossa reconciliação com Deus. Na verdade, Ele é a nossa reconciliação; e é por Ele e Nele que oferecemos e recebemos reconciliação.

Pois, nas palavra de S. Paulo,

1. “Se estamos em Cristo somos uma nova criação”. A relação e a comunhão estabelecidas entre Deus e a pessoa humana pela criação da mesma pessoa humana à semelhança e à imagem de Deus, é suplantada pela sua redenção e pela sua filiação. A relação entre Deus e a pessoa humana pertence pois ao regime da graça (acção gratuita de Deus): redenção em Cristo. “Somos salvos pela graça por meio da fé em Cristo” (Ef 2, 8).

2. Em Cristo Deus reconciliou-nos consigo não nos imputando os nossos pecados. Reconciliação é um acto de perdão não merecido; e é um exercício de misericordioso amor.

3. Deus confiou-nos a sua mensagem de reconciliação a nós… isto é, aqueles que fizeram uma experiência da reconciliação de Deus. “Na tua luz, ó Deus, nós vimos a luz”. É na experiência da reconciliação de Deus que nos tornámos ministros da reconciliação, sentindo a urgência de reparar as relações com misericórdia e amor.

Os Padres Sinodais ouviram os testemunhos da acima referida urgência de reconciliar inimigos, e observaram a sua experiência como um exercício na verdade e no amor misericordioso. A liturgia e o sacramento da Penitência oferecem momentos privilegiados para a sua celebração.

Os Padres Sinodais também falaram de muitos métodos tradicionais de reconciliação, e se interrogaram sobre se elementos destas celebrações tradicionais não poderiam enriquecer as formas de celebração dos Sacramentos na Igreja. Fazendo isto não deverá haver nenhuma confusão sobre a eficácia da celebração; pois, como foi dito na Assembleia, é “a boa nova do precioso sangue de Cristo, dado para a redenção de toda a humanidade que transforma o cálice do sofrimento de muitas vítimas de carnificinas no continente”. Isto exige uma espiritualidade e não uma estratégia!

 

CRISTO NOSSA JUSTIÇA

A reconciliação, como foi sublinhado também na Assembleia, é a restauração da justiça e são as justas exigência de relações (Rel. ante discpet.). Paulo também descreve os frutos da nossa reconciliação com Deus por meio de Cristo como transformar-se em justiça de Deus (2 Cor, 5, 21).

No presente estado de pecaminosidade humana e de corações feridos, no entanto, o Antigo Testamento é forte no seu ponto de vista de que a justiça não pode vir à humanidade por meio da sua simples força. Ela pode apenas vir como um dom de Deus. E o Novo Testamento desenvolve este ponto de vista mais plenamente, tornando a justiça na revelação suprema da graça salvífica de Deus.

Mais uma vez, como sublinhado na Assembleia, o sentido desta justiça de Deus não é apenas o de justiça retributiva, ainda que este seja, muitas vezes, o sentido da sua atribuição a Deus (Apo 15, 4; 19, 2,11; 16, 5-6; Heb 6,10; 2 Tes 1,6), e muitas intervenções na Assembleia reflectiram este sentido de justiça. Ela também não tem o sentido de “conformidade com uma norma ou com um conjunto de normas”. Pelo menos, este não é o seu sentido primordial; e não pode ser aplicado a Deus neste sentido.

A justiça (rectidão) de Deus e do seu reino é uma revelação de Deus, que é destinada a ser a rectidão dos seres humanos. É a revelação da justiça/rectidão de Deus que justifica, tornando o pecador recto e digno, mais uma vez, de comunhão e de relação de aliança com Deus” (6). É a revelação de Cristo, “que quando éramos ainda pecadores morreu por nós (Rom 5. 9)” que prova o amor de Deus para connosco. É, pois, a revelação de Cristo como nossa justiça/rectidão. A justiça do homem, neste caso, consiste na sua confissão dos pecados, na admissão da sua falha, e na aceitação, na fé, da oferta de Deus de comunhão, isto é, na salvação em Cristo.

Em Jesus e no seu ministério, vemos a graça justificadora de Deus em acção, cuidando dos pedidos justos da relação de aliança e re-estabelecendo a humanidade com misericórdia (7) e amor, numa relação de aliança. Também vemos a constituição de uma nova aliança comunitária, a Igreja, dotada com o Espírito Santo e capacitada, consequentemente, a responder à rectidão de Deus na fé pela confissão dos pecados.

A justiça da diakonia Cristã e a justiça do nosso viver Cristão na Igreja em África é a justiça do reino; e a sua característica principal é ser justiça exercida no amor e na misericórdia (8).

É este sentido de justiça que os Padres Sinodais sugerem que deve ser cultivado, primeiro na família, como uma virtude familiar antes de se tornar uma virtude social. Aqui, tudo o que é devido a uma pessoa em razão da sua dignidade e da sua vocação para a comunhão de pessoas (9) é sustentado e mantido na misericórdia e no amor.

A Comissão de Verdade e Reconciliação da África do Sul, a Comissão Nacional de Reconciliação do Gana e outras (Nigéria, Serra Leoa, Togo), que os Padres Sinodais mencionaram, buscam primariamente este sentido de justiça. Compensação não é o seu objectivo principal. Elas buscam a cura através da admissão da culpa e do perdão.

 

CRISTO NOSSA PAZ

Paz é um termo cuja definição (como “educação”, como “desenvolvimento” e como “justiça”) foi popularmente citada pelos Padres Sinodais. Reconhecendo que, tanto o respeito como o desenvolvimento da vida humana requerem-na (10), e que é a “condição necessária para o verdadeiro progresso dos homens e da sociedade” (11) os Padres Sinodais e os outros participantes rogaram para a “cultura da paz” nas Igrejas, nas casas, nas comunidades e nas nações. Particular menção foi feita às estruturas institucionais para a paz como a “Comissão Nacional da Paz” do Gana e a “Comissão de Verdade e Reconciliação” da Serra Leoa e do Togo; e a sua difusão foi advogada.

Nas mulheres e nas crianças, que são as vítimas fáceis da violência doméstica e da privação da paz, devido aos conflitos, os participantes no Sínodo viram substância para a organização de formidáveis grupos de promoção da paz em todo o Continente e nas suas Ilhas. E onde a ausência da paz é devida a costumes e práticas tradicionais opressivas, a Assembleia rogou para a criação de “Centros de Estudos da Cultura” como pontas-de-lança para a sua revisão e a sua reforma.

Mas a Paz, que emergiu da Assembleia Sinodal como a mais desejada condição da vida humana e de qualquer actividade no Continente e nas suas Ilhas está, ironicamente, para além do alcance do ser humano e do seu mundo. O Instrumentum Laboris, por isso, interroga a Assembleia Sinodal, sobre a paz que ela procura! (n. 46).

A sua visão é a de que “a paz que o mundo oferece é frágil e insegura”; uma vez que a paz não é primariamente fruto de estruturas e ela não se realiza fora da pessoa. A Paz nasce primeiramente de dentro, isto é, no interior do indivíduo, e dentro das comunidades que eles constroem.

A Paz, portanto, seria o fruto da “disposição espiritual” de uma pessoa; e se ela floresce onde existe justiça, então, como a justiça e a reconciliação, ela é também o fruto do amor.

Quando Tomás de Aquino ensinou que a paz e a harmonia eram preservadas pela justiça, também sublinhou que, para preservar a paz e a justiça entre os homens, as prescrições da justiça não são suficientes. É fundamental que haja amor entre eles (12). Do mesmo modo, o “Catecismo da Igreja Católica”, haurindo da Escritura e da rica tradição da Igreja, também ensina que “a paz é obra da justiça e fruto da caridade” (13); e é neste sentido que Cristo é identificado pelas Escrituras como a nossa paz.

A “paz” que é Cristo não tem somente um sentido secular, sendo a ausência de conflito (Gn 34, 21; Jos 9,15; 10,1,4; Lc 14,32), a existência de harmonia em casa e no seio da família (Is 38,17; Sal 37,11; 1Cor 7,15; Mt 10,34; Lc12, 51), harmonia individual, segurança e prosperidade comuns (nacional) (Jz 18, 6; 2 Re 20,19; Is 32,18). “Paz”, não é ou não existe apenas quando os seres humanos e as suas sociedades cumprem os seus respectivos deveres e reconhecem os direitos de outras pessoas e sociedades” (14); e não é apenas um dos resultados do trabalho pela justiça (15). “A Paz”, essencialmente, transcende o mundo e os esforços humanos (16). É uma plenitude determinada por Deus e outorgada ao homem/mulher de justiça. É um dom de Deus (Is 45,7; Nm 6,26) para o “recto/justo”: “aqueles em quem a sua vontade permanece” (Lc 2,14).

É como a portadores de rectidão na terra e da paz de Cristo que Paulo nos exorta através das suas comunidades Cristãs a buscar a paz (Rm14,19; Ef  4,3; Heb12,14) e a estar em paz com os outros (Rm12,18; 2 Cor13,11). Mas é também como portadores de rectidão na terra e da paz de Cristo que devemos recordar-nos, como fizemos com a “justiça”, que a “paz” é uma actividade que vai para além da simples justiça e exige amor (17). Ela deriva da comunhão com Deus e orienta-se para o bem-estar do homem (humanidade).

O primeiro Sínodo convidou a Igreja de Deus em África e nas suas Ilhas a viver na comunhão da Igreja-Família de Deus. Ora, este segundo Sínodo convida a Igreja-Família de Deus, em todos os detalhes da sua composição, a fazer uma experiência daquelas virtudes que estabelecem a nossa comunhão com Deus e a testemunhar e a viver a mesma reconciliação, justiça e paz no amor e na misericórdia no Continente e nas suas Ilhas.

O que segue é a apresentação de algumas componentes da Igreja-Família de Deus que servem à reconciliação, à justiça e à paz no Continente, tais como os Padres Sinodais as perspectivaram; e as implicações do seu ministério são as que se estabelecem nos simbolismos do sal e da luz: sal da terra e luz do mundo.

 

DISCÍPULOS, SERVIDORES DA RECONCILIAÇÃO,
DA JUSTIÇA E DA PAZ

Iluminada e transformada pelo mistério pascal de Cristo e cumulado do Espírito Santo, a comunidade dos discípulos é enviada com a missão de anunciar em toda a parte e a todos, tudo aquilo que eles contemplaram, ouviram e apalparam acerca da Palavra de Vida... (cf. 1 Jo 1, 1). Esta missão consiste em tornar Cristo visível em todas as circunstâncias e em todos os lugares onde o «Espírito» os impelir (cf. Act 13, 2). Eles estão conscientes de que são uma comunidade de partilha de bens espirituais e materiais sem qualquer discriminação étnica ou cultural.

Impelido pelo «Espírito do Senhor», o diácono Filipe converteu um funcionário etíope que, também ele, se tornará missionário junto dos seus (cf. Act 8, 26-39). Isto confirma a África como pátria de Cristo, que permaneceu presente sem descontinuidade de tempo no seio da comunidade eclesial ali nascida, e cujo Patriarca já pôde ser ouvido na sua pregação pelos Padres sinodais. A Igreja-Família de Deus na África tem orgulho das suas raízes apostólicas e sente-se orgulhosa dos seus antepassados na fé, enquanto é chamada a tirar dos seus exemplos a coragem para continuar a anunciar o Evangelho da reconciliação, da justiça e da paz.

Ela fundamenta a sua acção na contemplação do seu Mestre, Cristo, «caminho, verdade e vida» (Jo 14, 6), «que não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos» (Mc 10, 45). O seu aniquilamento eleva-nos, introduzindo-nos na família de Deus numa humanidade renovada, reconciliada e animada pelo seu Espírito (cf. Fl 2, 6-11).

Para assegurar a sua missão de reconciliação, de justiça e de paz, a Igreja-Família de Deus na África deve tomar consciência da sua identidade, pensar no seu modo de ser e de agir com solicitude pela verdade e em fidelidade a esta esta sua missão: ela deve reconciliar-se consigo mesma e modelar-se em Cristo-Servo. A comunhão entre os pastores, o seu testemunho de vida, os relacionamentos com os seus colaboradores e o tratamento dos empregados são campos que devem também ser explorados.

Os Padres sinodais dedicaram tempo à escuta recíproca e à consideração dos diferentes aspectos desta missão e dos diferentes protagonistas que nela estão envolvidos: as pessoas individualmente, a família, as crianças, os jovens, as Comunidades eclesiais vivas, os leigos, os religiosos, as religiosas, os clérigos...

Além dos sectores sociais, propostos e enumerados no Instrumentum laboris, que devem ser submetidos a um exame atento (a família, a dignidade da mulher, a missão profética, as comunicações e as novas técnicas de informação e de comunicação, e a auto-suficiência), sobressaiu a partir de numerosas intervenções dos Padres sinodais um novo sector: o sócio-religioso.

 

A FAMÍLIA

Os Padres sinodais sentiram como primeira tarefa da Igreja-Família de Deus na África a reabilitação da família africana na sua dignidade e na sua vocação, uma vez que ela é ameaçada por ideologias perigosas (ideologia de género). A grande estima pela instituição familiar é notável em todas as culturas africanas, e não é sem razão que a Igreja em África define como «Igreja-Família de Deus», terminologia consagrada pelo precedente Sínodo, mas que adquire ainda maior riqueza, conferindo à «Família» uma base antropológica cristã sólida, susceptível de melhor manifestar a sua identidade e de a abrir à dimensão da Igreja universal. Os Padres sinodais denunciaram claramente as ideologias e os programas internacionais que são impostos aos nossos países, com motivações falazes ou condicionando a ajuda ao desenvolvimento. Elas são nocivas para a família. É necessário formar pessoas competentes, capazes de informar oportunamente as associações de famílias católicas e outros movimentos laicos, a fim de que defendam o bem da família e o apresentem em debate público (conferências, transmissões radiofónicas...). Introduzir nos seminários, nos noviciados e em outras casas de formação, análises sociopastorais contextuais, a fim de identificar, de criticar e de prevenir todo o risco e toda a ameaça que possam pesar sobre a instituição «família».

Enfim, é urgente redefinir a família ainda como «igreja-doméstica» e primeiro lugar de educação para o amor, a reconciliação, a justiça e a paz. Assim, as famílias cristãs serão a base estável das Comunidades eclesiais vivas, que então serão «comunidades-Famílias», verdadeiras escolas de evangelização. A pastoral familiar deve integrar estes elementos.

 

DIGNIDADE DA MULHER E O SEU PAPEL
AO SERVIÇO DA RECONCILIAÇÃO, DA JUSTIÇA E DA PAZ

A mulher está ao serviço da vida e da humanização dos demais membros da família. No entanto, no seu desenvolvimento ela continua a ser frustrada pela cultura tradicional (mutilações genitais) e espezinhada na sua dignidade pela modernidade (pornografia, prostituição, violação e outros tipos de humilhação na sociedade).

Os Padres sinodais ouviram o clamor das mulheres, às vezes repercutidos por algumas dentre elas... A Igreja-Família de Deus é interpelada no que se refere às graves injustiças que lhes são perpetradas. Elas têm necessidade de ser reconhecidas tanto na sociedade como na Igreja, como membros activos comprometidos na vida da Igreja. A sua contribuição para o desenvolvimento e a salvaguarda da família humana, também em tempos de conflito, deve se reconhecida e apreciada no seu justo valor.

Como mães, elas asseguram à criança a primeira educação: amor e sociabilidade. Como esposas, são parceiros fiáveis dos maridos... Os Padres sinodais são chamados a dirigir os seus olhares e os seus pensamentos para a mulher, e ter a audácia de apostar nas suas potencialidades, já demonstradas na gestão da vida familiar... elas hão-de fazer mais pela Igreja.

Por conseguinte, uma profunda evangelização da cultura tradicional ajudará a libertá-las de certos comportamentos e costumes contrários ao Evangelho, e sempre em prática em muitas sociedades (poligamia, violências domésticas, discriminação na partilha da herança, matrimónios forçados... primeiras vítimas do SIDA...).

O seu desenvolvimento pessoal (amor, respeito e reconhecimento dos seus direitos...), tornará a sua contribuição mais efectiva e mais eficaz, nomeadamente no nascimento e na promoção de uma cultura da paz. Elas sentem-se naturalmente dispostas para isto no génio que lhes é próprio e nos seus dons de paciência, de capacidade de acolhimento, de escuta e de educadora.

 

O ÂMBITO SOCIORELIGIOSO

O medo e as incertezas que caracterizam a vida de fé em numerosas populações africanas (desconfiança, suspeita, autodefesa, agressão, charlatanismo, adivinhação, ocultismo, sincretismo...). Uma análise atenta demonstra que é o desejo insaciável de possuir egoisticamente que se encontra na raiz dos grandes dramas presentes em diversas regiões da África. Por outro lado, as seitas exercem uma grande atracção sobre os fiéis católicos face aos problemas sociais e desejosos de soluções rápidas para os seus problemas físicos ou psíquicos. As seitas abusam das debilidades ou da ignorância dos fiéis. Certos grupos atacam a Igreja com práticas ocultas.

Os Padres sinodais foram convidados por vários deles voltar ao ensino das bases fundamentais, a fim de oferecer aos fiéis elementos essenciais da fé cristã, para lhes permitir levar uma vida de fé em coerência com os acontecimentos da vida quotidiana. Uma espiritualidade equilibrada pode ajudar os cristãos a resistir à pressão das seitas.

No campo das injustiças graves padecidas (conflitos armados, violências...) os Padres sinodais ouviram os testemunhos comovedores de pessoas que fizeram a experiência do Perdão; daqui resulta que Justiça – Perdão – Verdade são inseparáveis. Aquilo que foi violado não pode ser reconstruído, a não ser que o mal seja reconhecido e admitido. O perdão pedido e concedido após a admissão liberta a vítima e o verdugo, estabelecendo um relacionamento novo e mais vigoroso. Esta força de amar e de perdoar é um dom de Deus (cf. Testemunho ouvido na sala).

Os fiéis hão-de aprender a fundar os seus relacionamentos e os seus comportamentos na:

a certeza que Cristo dá da sua presença permanente no meio deles: «Eis que Eu estarei convoco todos os dias, até ao fim do mundo» (Mt 28, 20);
vida em abundância que somente Ele pode oferecer, sacrificando a sua (cf. Jo 17, 2-3);
paz que unicamente Ele pode doar, e não como o mundo a dá (cf. Jo 14, 27);
justiça que ultrapassa toda a justiça humana (cf. Mt 5, 38).

Os sacramentos e, de modo particular, a Eucaristia e a reconciliação constituem o manancial inesgotável de forças para construir a Igreja-Família de Deus. Deus é a única nascente da vida, «Cristo... Primogénito dentre os mortos, reconciliou-nos com Deus pelo sangue da sua cruz...» (cf. Cl 1, 15 ss.). Nós estamos unidos através de um vínculo de sangue com Cristo, que nos introduz numa grande família, da qual Ele é o Primogénito.

É urgente convencer os fiéis de Cristo que os laços fraternos estabelecidos por Cristo mediante a água do baptismo e o seu sangue são mais fortes que o sangue biológico. Ele é o Primogénito de uma multidão de irmãos, tendo estabelecido assim uma co-filiação que restabelece a dignidade do homem africano, o reconcilia consigo mesmo e com os outros curando-o pessoal, social, cultural, política e economicamente.

Por conseguinte, a dignidade e o carácter sagrado de cada pessoa sejam reconhecidos e respeitados, quem quer que ela seja, e independentemente da situação em que ela se encontra. Isto exige: solidariedade, partilha, respeito mútuo, hospitalidade, agregação e reconciliação mediante uma justiça restabelecedora...

A Eucaristia como fonte e ápice da vida cristã deveria ser o lugar da melhor expressão da reconciliação e da paz (cf. Prece eucarística, n. 3). É o próprio Corpo de Cristo que nos satisfaz, e o próprio Sangue de Cristo que corre nas nossas veias.

Uma catequese de aprofundamento dos sacramentos pode ajudar os fiéis a viver a Eucaristia com mais profundidade e proveito, pois em muitas comunidades a «missa» permanece um parêntese no dia ou na semana: a Eucaristia ainda não impregnou a vida e o agir quotidiano de numerosos fiéis... como demonstra o momento de troca da paz, que passa despercebido ou é desvirtuado. A Eucaristia é a ocasião de enviar cada membro participante com uma missão particular de reconciliação e de cura, de justiça e de paz para o seu ambiente.

A dúplice dimensão pessoal e comunitária da celebração do sacramento da reconciliação deve ser vigorosamente realçada. A celebração comunitária da reconciliação é, em determinados casos, bem identificada para cuidar e curar as feridas das sociedades e das famílias dilaceradas por situações de violências, de conflitos e de guerras. O pecado tem uma dimensão social; por isso, também a reconciliação deve abranger toda a comunidade.

 

A MISSÃO PROFÉTICA DA IGREJA-FAMÍLIA DE DEUS NA ÁFRICA

A Igreja-Família de Deus, pela sua natureza, pela sua doutrina social coerente, pela sua repartição geográfica e pela sua solicitude pelo bem singular do homem, está melhor situada que qualquer outra organização para fazer face aos desafios da reconciliação, da justiça e da paz na África.

Os Padres sinodais reconheceram a necessidade de uma presença activa da Igreja em fórums a níveis nacional, regional ou continental nas instâncias de decisão onde se abordam as questões relativas ao desenvolvimento humano (socioeconómico), o estabelecimento de boas relações entre os grupos em conflito (mediação) e o restabelecimento de relações que possam garantir um porvir de paz.

Para falar sobre a reconciliação, a justiça e a paz, e garantir um compromisso mais sensível e mais coordenado, é necessário que os bispos falem em uníssono no seio de uma mesma conferência episcopal (nacional, regional ou continental). É preciso criar uma sinergia entre todas as instituições eclesiais (SECAM, COSMAM, associações e organizações laicas continentais) para abranger conjuntamente todos os diferentes aspectos da vida e dos compromissos da Igreja ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz.

Instâncias especializadas (observatórios) devem ser criados, se forem necessários para enfrentar os novos desafios, para desenvolver acções ou seguir a evolução de certas situações ou questões como a dependência externa, a sede de bens materiais, o etnicismo... causas potenciais de conflitos étnicos. Todas as raízes dos conflitos nas sociedades africanas devem ser abordadas sem receio nem condescendência, e devem constitui o objecto de planos de acção continental ou de directrizes pastorais específicas.

Os episcopados africanos têm igualmente grande interesse em revigorar a sua presença nas organizações continentais (UA), em harmonia com a acção da Santa Sé (diplomacia vaticana), a fim de estimular, de encorajar e de garantir iniciativas destinadas a promover a reconciliação, a justiça e a paz.

O desastre provocado pela pandemia do SIDA não foi perdido de vista pelos Padres sinodais. Eles encorajam todos aqueles que envidam esforços para cuidar, para incutir esperança nas pessoas infectadas e atingidas, a fim de que resistam às tentações do desespero. A missão da Igreja-Família de Deus na África, de levar os fiéis do Evangelho de Cristo a assumir o compromisso na luta para reduzir o estigma social das pessoas infectadas, assim como para substituir a violência com o restabelecimento de pontes de reconciliação, de justiça e de paz, para interpelar os poderes públicos, para falar em nome dos «sem-voz». Foi dirigido um apelo para uma maior sinergia e solidariedade, a fim de que os doentes da África recebam os mesmos tratamentos dos enfermos da Europa.

Na luta pela preservação das vidas humanas e para assegurar mais a paz entre os homens, levantaram-se várias vozes para pedir o fechamento das indústrias que fabricam armas e alimentam os conflitos na África. Depois dos conflitos pelos espaços vitais e pelas explorações mineiras, é a guerra da água que agora se está a delinear-se no horizonte. É necessário preveni-la, permanecendo vigilantes no que diz respeito à degradação do meio ambiente, sob o efeito do aquecimento climático.

Os Padres sinodais reconhecem que as causas dos conflitos armados na África não são apenas um facto de tribalismo, mas é a cobiça das multinacionais e o seu desejo de apropriação exclusiva dos jazigos estratégicos (petróleo, urânio, cobalto...) que geram tais conflitos. Eles encorajam a definição de quadros jurídicos internacionais, em ordem a garantir um controle das multinacionais e das indústrias de extracção transnacionais.

 

OS LEIGOS

Os conflitos em África não deixam de evocar a história recente (perigo da exacerbação dos nacionalismos e da noção de raça que são anti-cristãos). A presença dos cristãos na administração pública, na vida política e nas instâncias de decisão (Parlamento) é numerosa. Mas, apesar disso, leis contrárias à moral cristã são votadas sobretudo no âmbito relativo à vida familiar. É necessário, pois, formar os homens políticos cristãos, assegurando-lhes uma sólida formação cristã (Bíblia, teologia moral, doutrina social da Igreja, História da Igreja...) e os instrumentos jurídicos para a defesa dos valores cristãos (a família em particular), contribuindo assim positivamente na elaboração de textos legislativos respeitadores da moral cristã. Os Padres sinodais reconheceram que não basta formar fiéis leigos para os postos de chefia política nos nossos países, mas que também é necessário acompanhá-los no seu compromisso... para fazer deles agentes transformadores da sociedade (boa gestão familiar, assim como das responsabilidades sociais e políticas).

Os movimentos de apostolado dos leigos podem contribuir no serviço da reconciliação, da justiça e da paz. A Igreja, através das suas instituições especializadas, também se pode comprometer com a sociedade civil e com as ONG’s sérias ou com outras confissões religiosas para erguer uma frente comum na luta em favor da promoção integral dos direitos humanos.

 

OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

O empolamento dos conflitos africanos e a sua instrumentalização por parte dos meios de comunicação social constitui um desafio para a Igreja-Família de Deus em África. Os Padres sinodais foram informados sobre o esforço de muitas dioceses para se dotar com rádios diocesanas. Estas permitem promover os ideais da fraternidade, da coabitação pacífica, da reconciliação, da justiça e da paz entre as populações. O poder dos meios de comunicação social também pode servir para a difusão da Boa Nova num continente marcado ainda maioritariamente pela cultura oral.

Uma boa formação técnica e religiosa dos comunicadores católicos (doutrina social da igreja em particular) é prioritária. Ao mesmo tempo é necessário formar os próprios pastores e os agentes pastorais na linguagem e no bom uso dos meios de comunicação social. Os fiéis leigos em geral aprenderão a exercitar o seu discernimento e espírito crítico em relação às ideologias que estes meios veiculam.

Particular atenção deve ser dada aos jovens. Eles são as primeiras vítimas do efeito devastador da globalização sobre os costumes e os sistemas de valores. Daí decorre a exigência de uma educação integral e integradora a todos os níveis (infância, juventude, idade adulta) em ordem à prática dos valores sociais indispensáveis a uma convivência harmoniosa: a promoção da vida humana, a unidade do género humano e a dignidade igual de todas as pessoas, o respeito pelo bem comum e o direito de todos a dele poder desfrutar.

Isto começa logo na família e prossegue nas instituições e escolas católicas que continuam a ser o lugar por excelência de educação para os valores da vida cristã, nomeadamente a cultura de tolerância, da convivência, do serviço aos outros, da reconciliação, da justiça e da paz.

 

OS CLÉRIGOS

Deve-se curar a formação dos seminaristas e uma boa harmonização entre a filosofia e a teologia que permita responder criteriosamente às interrogações do mundo. É necessário redigir uma ratio nationalis intitutionis sacerdotalis a fim de promover o discernimento e uma formação espiritual e emocional adaptada às circunstâncias e às pessoas... O discernimento rigoroso e uma formação espiritual e afectiva adaptada às situações que façam deles pessoas solidamente enraizadas na sua cultura e fiéis ao ensinamento da Igreja.

A preocupação pela criação de formadores competentes dotados de uma boa formação deve ser prioritária. A implicação da família e da comunidade cristã no testemunho da prática dos conselhos evangélicos ajudá-los-á a fundar a sua vida sobre a sua pertença exclusiva a Cristo.

 

A VIDA CONSAGRADA

A vida consagrada está a crescer rapidamente na Igreja-Família de Deus em África. Tal como nas vocações sacerdotais, notam-se deficiências no campo do discernimento e dos formadores(as).

Os Padres sinodais são chamados a ajudar a vida consagrada a perseverar na sua missão profética, apoiando-a na realização da sua missão ad gentes e encorajando-a por um testemunho de comunhão. Aqueles foram informados sobre a prática de enviar jovens africanas para a Europa para se formar para a vida religiosa... o que às vezes acabou mal, chegando algumas a recusar regressar às suas terras de origem e a passar por diversos problemas. Espera-se deles uma palavra a este respeito.

A COSMAM é já uma realidade no continente, formando uma estrutura de enquadramento da vida consagrada em África e constituindo um espaço de diálogo com os bispos do continente (SECAM).

 

UMA SÓ IGREJA-FAMÍLIA DE DEUS COM MUITOS ROSTOS

A Igreja-Família de Deus do norte ou do sul do Saara tem a mesma missão de serviço. Ela ainda não está suficientemente integrada no Igreja-Família de Deus em África. É uma Igreja “lugar de cruzamento e de passagem” (Carrefour), mas com a vocação se transformar numa “Igreja do Pentecostes” porque passa a ser uma Igreja multicultural por causa da presença importante de estudantes do sul do Saara. Estes aprendem a viver a sua fé num contexto novo, enfrentando corajosamente o seu futuro sem se desencorajar perante certas injustiças.

Apesar de seu estatuto de minoria cristã em ambiente muçulmano, ela mantém uma relação de diálogo com o Islão, estando comprometida com diversos tipos de serviço à sociedade: social, cultural e educacional.

Os bispos Padres sinodais provenientes destas Igrejas apelaram os seus conterrâneos a ir ao encontro e a entrar em diálogo com as outras religiões, sem complexos nem medos, ultrapassando os receios e o peso do passado (relação entre o mundo árabe e a África negra)... e a estabelecer relações de parceria com os muçulmanos de boa vontade, neutralizando as tensões.

Eles desejam:

enquanto minoria cristã vivendo num ambiente islâmico, ser associados ao Sínodo dos Bispos de 2010 (Médio Oriente);
que se organize um simpósio continental de partilha e troca de experiências sobre a diversidade de situações nas relações com o Islão (de Tunis a Johannesburg).
Celebrar a memória: santos, beatos e mártires da Igreja-família de Deus em África.

Além dos santos e dos beatos de África que o Santo Padre nunca deixa de nos recordar em todas as ocasiões, os Padres sinodais evocaram a memória dos bispos, dos padres, dos religiosos e religiosas, dos leigos e dos seminaristas que permaneceram firmes no seu posto até ao dom da própria vida à semelhança de Cristo.

Outras pessoas que nós conhecemos morreram tragicamente ao serviço do bem comum. É necessário celebrar a sua memória “juntamente” com a dos nossos. Todos estes heróis do serviço e da reconciliação merecem ser apresentados aos jovens como modelos.

Interpelar a consciência da comunidade internacional a respeito das injustiças e violências que se cometem em África, convidando-os a uma maior solidariedade. A comunidade internacional deve ser interpelada a comprometer-se com a reconstrução dos países destruídos pela guerra.

 

CONCLUSÃO

“Sal” e “Luz” são as metáforas / imagens com que o Servo de Deus, Papa João Paulo II descreveu a missão do crente em Cristo, na multiplicidade e diversidade da sua identidade e papéis em África e nas suas ilhas. Ele disse: “Na época actual, no contexto de uma sociedade pluralista, é sobretudo através do empenhamento dos católicos na vida pública que a Igreja pode exercer uma influência eficaz. Espera-se que os católicos, sejam eles de profissão liberal ou professores, homens de negócios ou funcionários públicos, autoridades judiciárias ou políticos, dêem testemunho de bondade, de verdade, de justiça e do amor de Deus nas suas actividades quotidianas. A missão do fiel leigo é ser sal da terra e luz do mundo, especialmente nos lugares onde só os leigos podem fazer presente a Igreja” (18).

A referência no tema deste Sínodo ao convite de Cristo para que os seus discípulos sejam “sal da terra e luz do mundo” não só refere apenas ao testemunho que o Igreja-Família de Deus em África, tal como os discípulos de Jesus (Atos 1,8), deve dar no continente, nas suas ilhas e no mundo. É também referência a um método de evangelização credível e de missão apostólica prescritas pelo Senhor segundo o estilo da sua própria missão.

“Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu único Filho” (Jn 3,16); e a missão do Filho encarnado de Deus no mundo foi descrita por Paulo como o aniquilamento pessoal do Filho de Deus para se fazer o homem: “Embora fosse de condição divina.... ele aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de um escravo” (Fil 2,6-7). Foi desta forma que Jesus levou a cabo a sua missão na terra, fazendo chegar o seu aniquilamento pessoal trazendo à sua mais alta expressão no seu sofrimento dele e morte de cruz, cumprimento as profecias do Servo de Deus no Antigo Testamento (Is 52-53, etc.).

Tal é o carácter do encargo de servo que o tema de Sínodo evoca para que se possa trazer a reconciliação, a justiça e a paz ao continente e às suas Ilhas: “ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz”, como o tema de nosso Sínodo, convida a Igreja-Família de Deus na África a uma existência pascal enquanto agentes de reconciliação, de justiça e de paz; e é para isso mesmo que se recorre às metáforas do sal e da luz . É a radicação do nosso método de acção apostólica ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz no sacrifício que fazemos das nossas vidas e no sacrifício de Cristo. Porque devemos ter os mesmos sentimentos de Cristo Jesus (cf. Fil 2,5).

Neste Sínodo expressou-se de muitas formas que a Igreja-Família de Deus em África deve ser transformada a partir de dentro; e que ela deve transformar o continente, as suas ilhas e o mundo enquanto sal e enquanto luz. Ela visa uma missão apostólica que os seus pastores e outros agentes de pastoral formularam de modo diferenciado nesta Assembleia:

liberando as pessoas do continente de medo de todos os tipos;
assegurando uma profunda e constante conversão e uma formação “sólida” a todos os níveis (fé, catequética, moral, em comunicações sociais, cultura de amor, paz, justiça, reconciliação, boa acção governativa, administração, etc.);
diálogo a todos os níveis, incluindo o ambiente;
funções de advocacia no campo das diversas preocupações e necessidades sociais, especialmente no que se refere ao lugar da mulher na sociedade, à educação das crianças e à juventude;
migrações e diversas formas de movimento de populações, as quais requerem o nosso cuidado pastoral,
o ministério exigente da mudança de atitudes e mentalidades, libertando-as dos efeitos de um passado de colonialismo, de exploração, etc.
pondo o continente e as suas gentes em condições de resistir à investida da globalização e aos desafios de uma ética global, de condições comerciais injustas, do etnocentrismo, de fundamentalismos, etc.

O símbolo polivalente que é o sal traduz de muitos modos a existência pascal sob cujo signo a Igreja-Família de Deus em África tem que servir a reconciliação, a justiça e a paz (e agora também a verdade, que esta Assembleia intimamente lhes associou); e é a luz do Evangelho a guiar-nos.

 

PERGUNTAS

 

INTRODUÇÃO

1. Até que ponto a Igreja-Família de Deus em África e nas suas Ilhas e o resto de mundo católico da estão conscientes da incidência deste Sínodo? O que é que se pode fazer; e o que é se deve fazer?

NOVAMENTE REUNIDOS NUMA ASSEMBLEIA ESPECIAL PARA A ÁFRICA DO SÍNODO DE BISPOS

2. Qual é a sua avaliação deste Sínodo como um “exercício de comunhão eclesial” da Igreja universal? Em que áreas se poderia melhorar o Sínodo neste sentido?

OUTRAS ESTRUTURAS DE COMUNHÃO ECLESIAL

3. O Papa João Paulo II disse: “..... Para construir uma sociedade próspera e estável, a África precisa que todos os seus filhos juntem as suas forças...”. Como é que avalia as diversas formas de ministério colegial e cooperação no seio da Igreja-Família de Deus em África e nas suas ilhas?

O CENÁRIO DA SEGUNDA ASSEMBLEIA: MISÉRIAS OU DESAFIOS DE ÁFRICA?

4. O Papa João Paulo II disse: “Os corações humanos feridos são o esconderijo mais profundo das causas de tudo o que desestabiliza o continente africano”. Que acha desta declaração? Pode dar exemplos que a provem?

5. No Instrumentum Laboris n. 66 diz-se: “Algumas pessoas pensam que a razão mais fundamental da instabilidade de sociedades no continente tem a ver com a alienação cultural e discriminação racial que geraram ao longo do curso da história africana um complexo de inferioridade, o fatalismo e o medo”. Como vê esta afirmação? Em que sentido é que o tema do Sínodo o ajuda a lidar com ela?

6. Está de acordo com a caracterização das injustiças e problemas observados pelos Padres sinodais sobre a África e as suas ilhas como “desafios”? Em que medida acha que a descrição da Primeira Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a África como sendo um “Sínodo de esperança e de ressurreição” é realista?

7. Em que medida se pode aplicar verdadeiramente o que os Padres sinodais tenderam a generalizar, estendendo assuntos de Igrejas locais e da respectiva nação a toda a África? Que situações específicas da sua Igreja local e nação encontram eco no tema de Sínodo ou soluções no mesmo?

O REFORÇO DA FÉ EM CRISTO

8. Até que ponto está de acordo que o tema do Sínodo é em primeiro lugar ser um “programa de espiritualidade”, e só depois uma acção?

9. Diversas intervenções na Assembleia lamentaram a deficiente qualidade do testemunho cristão e do compromisso das pessoas à sua fé (ao invés das seitas, da feitiçaria, etc.). Como avalia os métodos que utilizamos para levar as pessoas a fé, introduzindo-as na Igreja? O que faria para assegurar uma conversão profunda e permanente?

CRISTO NOSSA RECONCILIAÇÃO

10. Que aspectos positivos da tradição e da cultura africanas podem ser úteis na catequese cristã sobre a reconciliação, a justiça e a paz? Pode o Sacramento da reconciliação tornar-se significativo aos nossos fiéis através da adopção de tais aspectos?

11. Que elementos da nossa tradição e cultura constituem obstáculos para a compreensão e a celebração cristãs da reconciliação?

12. “Muitos cristãos testemunharam até ao martírio a favor do evangelho da fraternidade gerada pela água do baptismo”. Qual é a sua experiência da oposição entre os laços étnicos e os vínculos eclesiais na sua Igreja local?

CRISTO NOSSA JUSTIÇA

13. Quem identificaria como vítimas da injustiça na área da sua Igreja local e país? Como pode trazer-lhes justiça? É possível criar estruturas de base para a cooperação com outras religiões na prevenção e resolução de conflitos e na formação de uma cultura de justiça e paz?

14. Que passos práticos deveriam ser dados para formar os nossos fiéis para o apostolado de liderança cristã na Sociedade?

15. De que maneira as mulheres podem obter permissão para aplicar os seus variados talentos na prevenção e resolução de conflitos e na reconciliação dentro da Igreja e na sociedade mais alargada?

CRISTO NOSSA PAZ

16. “Na verdade a paz” (Papa Bento XVI).” Este ensinamento do Santo Padre ecoou muitas vezes na assembleia e foi ligado à justiça e ao respeito pela lei. Como você ensinará isto ao nível da sua Igreja local?

17. “Cristo é a nossa paz!” Como podemos tornar esta afirmação da fé real nas nossas vidas? Como pode isto ser celebrado ordinariamente nas nossas comunidades cristãs e vidas?

A FAMÍLIA

18. Que plano estratégico se deve pôr em acção a nível continental, para a salvaguarda da família africana? Assim, a Igreja-Família de Deus poderia oferecer o seu contribuito à Igreja universal, em ordem a ajudar outras Igrejas onde o processo de decadência da família já está bastante acentuado.

A DIGNIDADE DA MULHER E O SEU PAPEL A SERVIÇO DA RECONCILIAÇÃO, DA JUSTIÇA E DA PAZ

19. Como pôr em prática um plano de acção para restabelecer a mulher africana na sua dignidade e fortalecer as suas capacidades para um compromisso mais consciente na construção da Igreja-Família de Deus na África? Que programas concretos podemos pôr em prática para tornar as mulheres mais partícipes e activamente responsáveis na gestão da vida das nossas Igrejas?

ÂMBITO SOCIORELIGIOSO

20. Por que motivo é que se consideram mais os laços sanguíneos (alianças humanas), que o sangue de Cristo (Aliança nova e eterna)? Como desenvolver a espiritualidade da Eucaristia vivida na vida quotidiana) (um congresso eucarístico continental?)

21. Como é que se pode celebrar a “reconciliação” na Eucaristia e no sacramento da reconciliação de forma a que levam a uma verdadeira mudança de relações e transformar-nos em embaixadores da reconciliação?

A MISSÃO PROFÉTICA DA IGREJA-FAMÍLIA DE DEUS EM ÁFRICA

22. Como, a partir da experiência positiva das Comissões «Iustitia et Pax» ou de outras iniciativas análogas, promover uma pedagogia da reconciliação susceptível de responder aos traumatismos comunitários muitas vezes esquecidos, para tornar as pessoas responsáveis e agentes de uma mudança positiva? Um plano de acção pastoral foi proposto pela Conferência Episcopal do Senegal-Guiné Bissau-Mauritânia.

OS LEIGOS

23. Por é que os cristãos têm tão pouca influência na sociedade política? O Evangelho terá algo a dizer a estes chefes políticos cristãos sobre o seu compromisso?

OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

24. Como recuperar a função positiva da PALAVRA como suporte da educação para a reconciliação, para a justiça e para a paz, uma vez que foi desvalorizada por causa dos abusos, das mentiras, da propaganda odiosa ou depreciativa de um certo tipo de meios de comunicação social?

OS CLÉRIGOS

25. Em que medida os vossos pastores são “chefes ao serviço” das vossas Igrejas e comunidades? Em que medida é que eles, enquanto agentes de evangelização se vêem a si mesmos ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz?


 

Notas

1. João Paulo II, Carta ao Arcebispo Nikola Eterovic por ocasião da reunião do Conselho Especial do Sínodo dos Bispos para a África, Vaticano, 23 Fev. 2005.

2. No dia 26 de Junho de 2006, numa Conferência de Imprensa do Vaticano, feita pelo Card. Francis Arinze, o Conselho Especial para a África do Secretariado Geral do Sínodo dos Bispos tornou públicos os Lineamenta da Segunda Assembleia Especial para a África e a 19 de Março de 2009, em Yaoundé, o Santo Padre apresentou o Instrumentum Laboris da Segunda Assembleia Especial para a África.

3. Primeira Assembleia Especial para a África, Instrumentum laboris, 1993, 1.

4. Segunda Assembleia Especial para a África, Lineamenta, “Prefácio”

5. João Paulo II, Exortação Pós-Sinodal: Reconciliatio et Paenitentia, n. 2.

6. O “perverso” (רשע) é o oposto do recto. Ele destrói a comunhão e a comunidade não respondendo às exigências das relações comunitárias. (The Interpreter’s Dictionary of the Bible, vol. 4, 81).

7. O Papa João Paulo II define “misericóridia” como “um poder especial do amor, que prevalece acima do pecado e da infidelidade do povo escolhido” (Dives in Misericordia, n. 4.3).

8. Portanto, o Papa João Paulo II ensina que nas relações entre indivíduos e grupos sociais, etc., “a justiça não é suficiente”. É necessário aquele “poder profundo, que é o amor”. (cfr. Dives in Misericordia, n. 12).

9. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 3, 63.

10. Catecismo da Igreja Católica, 2304.

11. Bento XVI, Homilia, Basílica de S. Pedro, Domingo 4/10/09.

12. Contra Gentes 1. III, c. 128.

13. Ibidem.

14. Pacem in Terris, n. 172.

15. Gaudium et Spes, 84.

16. Embora seja uma tarefa, algo pelo qual devemos trabalhar, a “paz” é um dom de Deus, algo que a nossa paz terrena só tenuamente antecipa..

17. Gaudium et Spes,78.

18. Ecclesia in Africa, 108.

 

 

 

 

 

 

 
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