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CONGREGAÇÃO PARA AS CAUSAS DOS SANTOS

HOMILIA DO CARDEAL JOSÉ SARAIVA MARTINS
DURANTE O SOLENE RITO DE BEATIFICAÇÃO
DO SERVO DE DEUS MOSÈ TOVINI

Bréscia, 17 de Setembro de 2006

1. Eminência Reverendíssima, Cardeal Giovanni Battista Re, Excelências Reverendíssimas, D. Giulio Sanguinetti, Bispo de Bréscia, com o seu Auxiliar Sua Excelência D. Franco Beschi, D. Vigílio Olmi, Presidente da Comissão para a Beatificação, e os demais Bispos presentes, Reverendíssimos Monsenhores, Sacerdotes, ilustres Autoridades civis e militares, caríssimos irmãos e irmãs no Senhor, aqui presentes por ocasião da Beatificação do Servo de Deus Mosè Tovini.

É justo festejar a santidade, celebrar as obras admiráveis que Deus realiza nos seus Santos. Façamo-lo em acção de graças ao Senhor, pelos inúmeros dons de luz e de santidade com que ele acompanhou a Igreja de Bréscia, na sua longa história.

O convite de Jesus, que nos foi anunciado no trecho do Evangelho de hoje: "Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Na verdade, quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la; mas quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, há-de salvá-la" (Mc 8, 34-35), interpela-nos agora de modo concreto, pessoal e urgente, também em virtude do exemplo do novo Beato.

2. O jovem Mosè Tovini ouviu que este convite lhe era dirigido de modo inconfundível pela educação na família e na paróquia, durante os anos da infância em Cividate Camuno e, de maneira cada vez mais clara, quando desabrochou na sua alma o desejo de entrar no seminário para se tornar sacerdote.

Dócil à acção do Espírito Santo, com menos de 18 anos de idade, na conclusão dos exercícios espirituais, em Novembro de 1895 observa: "Desejo seguir Jesus entre as cruzes e os sofrimentos, embora pudesse com os mesmos méritos levar uma vida cómoda. Desejo sofrer e pedirei frequentemente esta graça. Assim que a alcançar, darei graças ao Senhor e pedir-lhe-ei que, se for do Seu agrado, aumente os padecimentos e lhes dê continuidade, porque é suma caridade sofrer por amor, porque nos liberta também do pecado, nos leva a obter méritos enormes para a vida eterna e nos conforma com Jesus, cuja vida foi repleta de sofrimentos".

Consolidou-se nele o propósito de não se contentar com uma fidelidade medíocre, mas de se dedicar com todos os seus próprios recursos em prol da glória de Deus e para o bem das almas, juntamente com uma acentuada sensibilidade pela elevação das classes sociais mais necessitadas.

Na figura do seu tio, também ele Beato, via o modelo do leigo cristão orientado para a santidade que, como disse o Servo de Deus João Paulo II no dia 20 de Setembro de 1998, por ocasião da sua beatificação: "Sua preocupação constante foi a defesa da fé, persuadido de que como teve a oportunidade de afirmar durante um congresso "sem a fé, os nossos filhos jamais serão ricos, e com a fé nunca serão pobres". Embora tivesse que dedicar tempo e energias para o bem da família, para a profissão e a participação na vida social, ele jamais deixava de aprimorar o seu relacionamento com Deus mediante a Eucaristia, a meditação e a devoção a Nossa Senhora", de quem hauria o alimento vital para promover os grandes valores como a educação da juventude, a família, a presença cristã e a liberdade de ensino na escola.

O Pe. Mosè viveu o seu sacerdócio, renovando dia após dia o propósito de se renegar a si mesmo e de tomar a cruz para seguir Jesus, cumprindo cada vez as tarefas e assumindo as responsabilidades que lhe eram confiadas. Na escola de Jesus aprendeu a ser manso e humilde de coração; e para ser fiel à promessa de obediência ao Bispo, pediu para entrar na Congregação diocesana dos Oblatos da Sagrada Família.

A sua tarefa principal foi a formação dos candidatos ao sacerdócio, com o ensino da matemática, filosofia, apologética e dogmática no Seminário e, nos últimos quatro anos, como reitor. Consciente de que "quem perder a sua vida por causa de Jesus e do seu Evangelho, há-de salvá-la", por ocasião do 25º aniversário da sua Ordenação sacerdotal, coroou tal propósito com a entrega total de si, oferecendo-se como vítima ao Coração misericordioso de Jesus.

3. No Evangelho que acaba de ser proclamado, ouvimos uma pergunta premente e a relativa e apaixonada resposta: "E vós, quem dizeis que Eu sou? Pedro respondeu: Tu és o Messias!".
Segundo a ordem de Jesus "Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja"
(Mt 16, 15-16.18), a profissão de fé de Pedro constitui em todas as épocas o fundamento da profissão de fé da Igreja.

Em obediência à ordem de Jesus: "Ide, pois, pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a todas as criaturas", ao longo dos séculos a evangelização e a catequese constituíram a tarefa primária da Igreja, através da obra de pregadores e missionários, de pastores e pais, de catequistas e animadores, ao longo das estradas dos homens, nas paróquias, nas casas e nas escolas. Dotado de inteligência e cultura singulares, o Pe. Mosè dedicou-se a todos com amor, orientando para a verdade com a razão e a fé, mediante uma linguagem acessível, com a intenção de formar as consciências na escola de Jesus, Caminho, Verdade e Vida. Uma confirmação disto são os testemunhos de alunos e colegas que, unanimemente, salientam tanto a clareza da sua exposição como a limpidez do seu exemplo. A ele podem ser aplicadas as palavras do venerado Papa de Bréscia, o Servo de Deus Paulo VI: "O homem contemporâneo escuta de melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres... ou então, se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas" (Evangelii nuntiandi, 41).

De resto, todos sabiam que o Pe. Mosè colocava a celebração da Eucaristia no centro do seu dia e alternava tarefas e funções com momentos de oração e de devoção, de meditação e adoração, conservando o seu pensamento sempre orientado para Cristo, o Mestre, o Salvador, o Pastor a quem abrir a mente e o coração, para depois O encontrar nos discípulos e nos pobres.
O futuro Papa Paulo VI interpretava bem a sua alma secreta, quando afirmava: "O passo do sacerdote é cauto, porque se movimenta por cima dos abismos: a Missa, o Breviário, a administração da graça e a da verdade, a edificação da Igreja, a amizade com a dor, o diálogo com o além. "Começar o dia com a celebração da Missa recordo-me que certa vez Mons. Tovini me disse é uma alegria, um júbilo imenso, porque as outras horas do dia são com frequência muito diferentes"".

4. Há pouco ouvimos na segunda leitura as palavras de Tiago: "De que aproveita, irmãos, que alguém diga que tem fé, se não tiver obra de fé? Acaso essa fé poderá salvá-lo? (...) se ela (a fé) não tiver obras, está completamente morta" (Tg 2, 14.16).

No período que tinha vivido na casa do tio Beato Giuseppe, o Pe. Mosè experimentou como era necessária a união entre a fé e as obras! Constatou pessoalmente com que entusiasmo o tio se dedicava não só à promoção da educação cristã, especialmente na escola, mas também à assistência aos mais frágeis e mais pobres. Respondia com cuidado aos pedidos de cada indivíduo, mas sobretudo sentia a exigência urgente de promover iniciativas capazes de incidir nas estruturas sociais. Como mais tarde dirá João Paulo II, ele "teve um olhar profético, respondendo com audácia apostólica às exigências dos tempos que, à luz das novas formas de discriminação, exigiam dos fiéis uma obra de animação mais incisiva das realidades temporais... Com instrumentos humildes e com grande coragem, ele prodigalizou-se incansavelmente para que a sociedade de Bréscia e da Itália preservassem o que lhe era mais próprio, ou seja, o património religioso e moral".

Pois bem, como sacerdote o Pe. Mosè não pôde participar directamente nas iniciativas do tio, mas segundo o seu estilo colaborou nisto, cuidando sobretudo da formação dos leigos a fim de que, motivados por fortes convicções de fé, estivessem prontos a agir de modo mais directo na vida concreta da família e das realidades económicas e sociais. Por isso, colaborou no âmbito da Acção Católica e da renovação da Catequese, juntamente com Mons. Lorenzo Pavanelli, e preparou um pequeno manual de Doutrina Social da Igreja, como subsídio para os leigos mais directamente comprometidos na vida social e pública.

5. Agora a querida figura de Mons. Mosè Tovini está inserida no Álbum dos Beatos. O Senhor ofereceu-no-lo para que voltasse a ser, na Igreja de Bréscia, um modelo de vida sacerdotal, mestre de vida cristã em tempos não fáceis, sinal fúlgido da assistência contínua do Espírito Santo.
O Senhor acolha a nossa súplica a fim de que o seu exemplo e a sua intercessão sirvam de estímulo e de apoio para toda a Igreja de Bréscia para que, em comunhão com o seu Pastor e com o Papa Bento XVI, possa realizar com confiança a sua acção de evangelização e promoção humana, ao longo do sulco traçado pelos seus Pais e pelas suas Testemunhas.

Para todos sirva de estímulo e de alívio o testemunho admirável do futuro Papa Paulo VI que, como Arcebispo de Milão, assim definia a figura do novo Beato: "Um sacerdote piedoso, douto e zeloso; e poder-se-iam acrescentar, abundantemente, muitos outros adjectivos: afável, humilde, tranquilo, fino, generoso, paciente, leal... Um sacerdote completo, como se deve. Ele tinha qualidades singulares: uma forte engenhosidade especulativa distinguia-o do comum; nele nunca se desmentia uma bondade dissimulada pelo candor e a timidez; mas tudo nele era tão modesto e moderado, que para o apreciar por aquilo que valia, era necessário aproximar-se dele e conhecê-lo bem. E depois de o ter conhecido e apreciado, o elogio será uma confirmação não tanto da singularidade das suas virtudes, como sobretudo do equilíbrio das mesmas, da harmonia juntamente com tais dotes naturais e adquiridos que fazem de um sacerdote um homem mais raro e contemporaneamente o homem mais comum; o homem relativamente perfeito para admirar. E ao mesmo tempo, o homem acessível a todos, para imitar".

À longa plêiade dos Santos e dos Beatos da Igreja de Bréscia, agora acrescenta-se com traços próprios o Beato Mosè Tovini, querido sobretudo ao Vale Camonina, que naquele período foi abençoado com a santidade e a laboriosidade de autênticas testemunhas da fé; querido a toda a Igreja de Bréscia pelo seu cuidado amoroso pelo Seminário, pelos Sacerdotes, os Consagrados e os Leigos, estimulando todos, mais com o exemplo do que com a palavra, a seguir Cristo, cada qual segundo a própria vocação.

Maria, Mãe da Igreja, nos ajude a recolher a sua herança e a seguir os seus passos, para que também a nós seja concedido seguir Cristo ao longo do caminho estreito que leva à salvação, certos de que quem perde a própria vida por amor de Jesus e por causa do Evangelho, salvá-la-á.

 

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