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HOMILIA DO CARDEAL JOSÉ SARAIVA MARTINS
DURANTE O SOLENE RITO DE BEATIFICAÇÃO
DE MARIA MADALENA DA PAIXÃO
(CONSTÂNCIA STARACE 1845-1921)

Domingo, 15 de Abril de 2007
co-Catedral de Castellammare di Stabia (Itália)

 

1. As palavras do Evangelho de João agora proclamado, voltam todos os anos e ajudam-nos a cumprir os dias da Oitava de Páscoa que como todos os cinquenta dias deste tempo são vividos como se fossem um só dia, como o único Oitavo Dia no qual o homem e toda a humanidade rejubilam pela alegria do seu Senhor e Deus. Para que esta "alegria seja plena" (Jo 15, 24) e seja para todos, o Senhor Jesus apresenta-se aos seus discípulos "na noite do mesmo dia" (20, 19), mas ainda vem dentro dos "oito dias depois" (20, 26). Nestas notas redaccionais do texto é, de certo modo, inaugurado o ritmo pascal da vida da Igreja que acolhe sempre na expectativa da parusia a vinda do seu Senhor, esperando de domingo em domingo não só encontrá-l'O ainda, mas encontrá-l'O melhor.

O solene rito da Beatificação da Madre Maria Madalena Starace, Fundadora das Irmãs Servas de Maria, insere-se muito bem neste contexto pascal e sem dúvida favorece o encontro com o Ressuscitado.

O conjunto das Leituras bíblicas de hoje, oferece-nos a visão do Ressuscitado que se apresenta aos Apóstolos no esplendor da vitória sobre a morte, para lhes entregar a tarefa de serem dispensadores da misericórdia divina: "Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados" (Jo 20, 22-23). O poder de cura espiritual que se realiza no mundo invisível, mas real da fé, encontra visibilidade no poder da cura física dos doentes, realizada também só com a sombra da passagem de Pedro, como nos recordaram os Actos dos Apóstolos, na primeira leitura (Act 5, 15).

Acima de tudo sobressai a visão de Cristo que aparece ao Apóstolo João, no Apocalipse (da segunda leitura de hoje) para nos garantir que Ele é "o primeiro e o Último, o Vivente" (Ap 1, 17-18).

2. Para a Madre Maria Madalena Starace, Jesus era verdadeiramente "o Primeiro e o Último, o Vivente", basta pensar que dedicava num só dia, por vezes oito horas, outras vezes cinco horas contínuas ao diálogo com Deus. Ela dirigia o seu Instituto ajoelhada diante do altar, falando primeiro ao Senhor da vida de cada uma das fundações e dos problemas individuais das suas filhas.

Desde os anos da infância, vivida à sombra da mãe tão devota da Virgem das Dores, foi-se radicando no coração de Constância (assim se chamava no século a nossa Beata), o estímulo a uma relação interior com Jesus cada vez mais forte. Quem a orientou para as necessidades de se ocupar das necessidades da juventude foi o Pastor da Diocese, animado por santo zelo, D. Petagna, que não duvidou em lhe confiar a tarefa quer de dirigir um pequeno grupo de jovens da Piedosa União das Filhas de Maria, quer de ensinar o catecismo às crianças. O pequeno grupo cresceu, aumentaram as órfãs e também as jovens dispostas a unir-se ao apostolado realizado pela irmã Starace, até chegar à aprovação do novo Instituto das "Compassionistas" em 1871.

Sob a guia do novo Bispo, D. Sarnelli, a Madre Madalena completou o seu caminho espiritual, chegando até aos cumes da mística, treinando-se num rigoroso asceptismo e conseguindo motivar profundamente a sua intensa actividade apostólica. O seu critério fundamental apoiava-se na convicção incutiva nas suas religiosas e nas suas assistidas que o feliz êxito na assistência às pessoas idosas, na educação dos jovens, na doação de si a quantos necessitavam de ajuda e de conforto, estava ligado à santificação pessoal, à união profunda com Deus. À luz desta orientação é possível compreender o motivo da vitalidade do Instituto por ela fundado, a sua difusão nos vários continentes.

3. O Santo Padre Bento XVI recordou isto na sua primeira Encíclica Deus caritas est, recordando a primazia da caridade na vida do cristão e da Igreja, realçando que as testemunhas privilegiadas desta primazia são os Santos, os quais fizeram da sua existência, mesmo se com diversas tonalidades, um hino a Deus-Amor.

"Na verdade comentava o Santo Padre toda a história da Igreja é história de santidade, animada pelo único Amor, que tem a sua fonte em Deus". (cf. Angelus, 29 de Janeiro de 2006). De facto, só mediante a caridade sobrenatural que brota sempre renovada do coração de Cristo, se pode explicar o prodigioso florescimento de santidade ao qual se assistiu ao longo dos dois mil anos do cristianismo, e do qual esta região campana "Campania felix" seria verdadeiramente o caso de repetir foi abundantemente fecundada.

Ao espírito de sacrifício e de disponibilidade para ser vítima do amor divino, a Beata Maria Madalena tinha sido predisposta pelo exemplo luminoso de Santa Margarida Alacoque beatificada por Pio IX em 1864, com 19 anos de idade. O Coração de Jesus, vítima sacrificada por nós, juntamente com a dor do Coração da Mãe aos pés da Cruz, tornou-se o tema constante da reflexão espiritual da Madre Starace. Falava disto, podemos dizer, quotidianamente às suas Filhas, para as exortar à generosidade ao enfrentar os sacrifícios exigidos para realizar a união profunda com Deus. Às provações Madre Starace opunha a arma da oração, a aceitação da cruz e o abandono à vontade de Deus. "Da Cruz não se desce escrevia mas ressuscita-se quando tudo está cumprido".

Disto surge também a sua decisão audaz de construir um templo para dedicar ao Coração de Jesus, na colina de Scanzano. Conseguiu pagando um preço altíssimo de sacrifícios e de humilhações, coroados pela consagração do Santuário celebrada por D. Michele De Jorio, a 5 de Outubro de 1908.

4. Tomé não acreditou nas palavras dos apóstolos: a sua desconfiança tinha talvez uma raiz de presunção e até de receio por ter perdido um encontro com o Senhor. Jesus vai ao seu encontro e mostra-lhe o sinal dos pregos. Gesto lindíssimo, que põe em crise o orgulho do apóstolo. São suficientes poucas palavras e ele já está ajoelhado para confessar a sua fé na Ressurreição: "Meu Senhor e meu Deus" (Jo 20, 28).

Hoje muitas pessoas parecem-se com Tomé e nós sofremos com isso: gostaríamos que Jesus viesse tirar-nos da dificuldade, apresentando os sinais dos seus pregos aos incrédulos de hoje. Mas não. Jesus deixou-nos: Ele quer que a sua Ressurreição se veja através da vida dos cristãos.

Interroguemo-nos: que argumentos oferecemos nós para ajudar os outros a crer? A fé precisa de testemunho, a fé tem necessidade de exemplos. A beatificação da Madre Starace recorda-nos também a nós como fez ela e todos os santos antes dela somos chamados a apresentar aos "Tomés" do nosso tempo a marca dos pregos, as feridas da caridade, o preço do serviço. Só assim seremos discípulos do Senhor e anunciadores do seu Evangelho de misericórdia.

A nova Beata Maria Madalena, que hoje veneramos, e da qual a Diocese e toda a população de Castellamare pode justamente orgulhar-se, mostra-nos que força exercem no coração de Deus a fé, a humildade, o sacrifício de si, a total abnegação pessoal, a pobreza e a caridade vividas evangelicamente. Aprendamos dela a elevar o olhar para o alto, para Aquele que é o Primeiro e o Último, o Vivo, em cujo nome sacrificou a vida em benefício dos pobres, das crianças, dos idosos e em cujo espírito educou as suas filhas, com a certeza de que só vivendo assim se consegue ser felizes também na terra.

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