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CONDOLÊNCIAS DO CORPO DIPLOMÁTICO
 ACREDITADO JUNTO DA SANTA SÉ

13 de Abril de 2005

 

 


DISCURSO DO  EMBAIXADOR GIOVANNI GALASSI

Eminências

É com profunda emoção que vos apresento as mais sinceras condolências do Corpo diplomático acreditado junto da Santa Sé por ocasião da morte de Sua Santidade João Paulo II, Papa extraordinário que marcou a história religiosa  moral e social de todo o mundo.

A perda deste grande Papa atingiu profundamente o espírito e o coração de todos os Embaixadores que, durante o seu longo pontificado, representaram os respectivos Países junto da Santa Sé.

De facto, João Paulo II foi um constante ponto de referência para a humanidade inteira:  tinha acabado de ser eleito quando convidou todos os católicos a não terem medo e a abrirem de par em par as portas a Cristo, com uma confiança filial; ao mesmo tempo, empreendeu um diálogo fecundo com as Igrejas irmãs, para a unidade dos cristãos, e com todas as outras religiões, e, por duas vezes, encontrámo-nos todos em Assis, para rezar.

Com grande honestidade intelectual, não hesitou em percorrer de novo, de modo crítico, o passado da Igreja, e ao mesmo tempo, elevou às honras dos altares inumeráveis mártires da Igreja católica.
Mediante o seu Magistério, marcou profundamente a história do último quarto do século XX e do início do novo século:  com decisão, opôs-se às ideologias ateias e totalitárias, mas recordou também várias vezes aos países mais progredidos que não escolhessem o consumismo egoísta como religião para a sua vida, defendendo com ardor incomparável o carácter central do homem, a sua dignidade, o seu direito a poder satisfazer as suas necessidades fundamentais, numa perspectiva de solidariedade recíproca.

João Paulo II não se contentou com fazer exortações através das encíclicas, cartas pastorais, homilias e outros documentos pontifícios, mas quis estar pessoalmente ao lado de cada homem; eis por que se fez peregrino no mundo, levando o seu ensinamento às partes mais distantes da terra, como Pastor que ama todos os seus homens, criados à imagem e semelhança de Deus.

Ao longo de todo o seu pontificado, considerou o homem na sua globalidade, nos seus aspectos temporais e transcendentes, com a finalidade de alcançar uma nova civilização, mais real e duradoura:  a civilização do amor.

A fim de edificar esta civilização, comprometeu os jovens do mundo, "sentinelas da manhã" e a nossa esperança no futuro; e, nele, os jovens, com o  seu  entusiasmo  espontâneo  e  irresistível,  confiaram  o  seu  futuro  e  as  suas energias.

Este Papa, este grande homem, todos nós o choramos hoje com uma dor sincera, porque perdemos o AMIGO VERDADEIRO do nosso caminho humano; e o sentimento que todos nós temos nestes dias é uma grande solidão.

Contudo, para os crentes, perante a tristeza da morte, são de grande conforto as palavras do Evangelista Marcos, quando diz que "o Reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Quer esteja a dormir, quer se levante, de noite e de dia, a semente germina e cresce, sem ele saber como. A terra produz por si, primeiro o caule, depois a espiga e, finalmente, o trigo perfeito na espiga. E quando o fruto amadurece, logo ele lhe mete a foice, porque chegou o tempo da ceifa" (Mc 4, 26-28).

É para nós confortador pensar que João Paulo II, arrebatado pela morte, já é fruto maduro para a glória do céu. Quanto a nós, permanece-nos o seu poderoso Magistério, esclarecido pela coragem heróica com a qual enfrentou os seus sofrimentos, oferecendo-os ao Senhor pela salvação da humanidade.

O seu ensinamento fez com que nos tornássemos mais fortes e decididos a agir com mais equidade e mais justiça em benefício de um mundo melhor; com estes sentimentos continuaremos a actividade do próximo Sucessor de Pedro, que vós mesmos, Eminências, com a vossa sabedoria e com a intercessão do Espírito Santo, sereis chamados a eleger durante o próximo Conclave.

Em nome do Corpo Diplomático, renovo-vos as minhas mais sentidas condolências e ao mesmo tempo desejo que a Igreja tenha o mais depressa possível um novo Pastor.

 


DISCURSO DO CARDEAL JOSEPH RATZINGER

 

Excelências
Minhas Senhoras e Meus Senhores
Chefes de Missão
do Corpo Diplomático
acreditado junto da Santa Sé

Em nome do Colégio Cardinalício e na minha qualidade de Decano, estou encarregado de vos agradecer sentidamente as condolências que, por intermédio do Decano do Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé, houvestes por bem dirigir-nos nestes dias de pesar da Igreja que, na pessoa de Sua Santidade o Papa João Paulo II, perde o seu pastor tão amado. Agradeço ao Professor Giovanni Galassi que, em nome de todos vós, expressou os vossos sentimentos e realçou com delicadeza alguns aspectos da missão de Sua Santidade João Paulo II.

João Paulo II guiou a Igreja durante mais de vinte e seis anos, fazendo compreender que ela é, como recordou o Concílio Vaticano II, ao mesmo tempo "o sinal e o instrumento da união íntima com Deus e da unidade de todo o género humano" (Lumen gentium, 1); ele deu-lhe esperança com um impulso renovado; introduziu-a no terceiro milénio, convidando os cristãos a levar Cristo ao mundo e chamando todos os homens de boa vontade a um impulso de bondade, de paz, de solidariedade e de partilha. Abriu o coração dos homens, e sobretudo o coração dos jovens à mensagem da Boa Nova.

Disto temos um sinal nestes dias nos quais numerosas pessoas quiseram vir prestar a derradeira homenagem a Sua Santidade João Paulo II. Este Papa comprometeu-se até ao extremo das suas forças para anunciar o Evangelho em todos os continentes, em particular com as suas numerosíssimas viagens, mostrando o rosto do Pai rico em misericórdia, conduzindo a Cristo, o Redentor do homem, convidando todos os homens a deixar que o Espírito Santo habite neles.

Por conseguinte, à nossa tristeza acrescenta-se e penso que interpreto também os vossos sentimentos uma fervorosa acção de graças a Deus que nos deu um pastor tão grandioso e um profundo obrigado a João Paulo II pela sua acção e pelo seu ensinamento.

A vossa presença numerosa esta manhã é, para todos nós, ao mesmo tempo de grande conforto e um testemunho da acção internacional realizada pelo nosso amado Santo Padre João Paulo II. De facto, durante o seu pontificado, foram estabelecidas relações diplomáticas com numerosos países, sinal da atenção das Nações à acção do Papa e da Igreja em todo o mundo. Vós fostes as testemunhas privilegiadas desta acção e do desenvolvimento das relações diplomáticas que, ao longo do pontificado, mais do que duplicaram. Quantas vezes exortou João Paulo II os países a encontrarem soluções pacíficas e a prosseguirem o diálogo? Quantas vezes convidou os Chefes das nações a dedicar uma atenção sempre mais concreta aos povos dos quais são responsáveis, sobretudo aos mais débeis, aos mais pequeninos e aos mais pobres? Quantas vezes recordou a grandeza da vida humana?

Estas são exortações que ainda hoje ressoam aos nossos ouvidos como um compromisso em favor da pessoa humana, de todas as pessoas humanas. São exortações que representam para todos nós uma mensagem e um apelo:  colocar-nos sempre e antes de tudo ao serviço da paz e da solidariedade entre as pessoas e entre os povos, ao serviço dos homens de todos os continentes, para edificar uma humanidade reconciliada numa terra em que todos são parceiros. Eis particularmente o que ele recordava infatigavelmente às Autoridades civis e aos membros do Corpo diplomático acreditado junto da Santa Sé.

Ao renovar-vos os agradecimentos do Colégio dos Cardeais pelos vossos gestos de cordialidade por ocasião do luto que atingiu a Igreja, gestos que são para nós e para todos os fiéis católicos de grande conforto, garanto-vos a nossa oração por vós próprios, Senhoras e Senhores Embaixadores, assim como pelas vossas famílias, os vossos colaboradores e pelos povos que representais, pedindo-vos que expresseis os nossos agradecimentos aos responsáveis dos vossos países que quiseram associar-se ao luto da Igreja, mediante as suas mensagens e com a sua presença no funeral do Santo Padre.

Repito a todos vós a nossa gratidão mais sincera.

 

 

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