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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
 À SENHORA SIBA NASSER NOVA EMBAIXADORA
 DA SÍRIA JUNTO DA SANTA SÉ*

15 de Maio de 2003 

 

Senhora Embaixadora

1. Sinto-me feliz por receber Vossa Excelência no Vaticano nesta ocasião solene da apresentação das Cartas que a acreditam como Embaixadora extraordinária e plenipotenciária da República Árabe da Síria junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as gentis saudações que acaba de me transmitir da parte de Sua Excelência o Senhor Bachar Al Assad, Presidente da República, e agradeço-lhe a amabilidade de lhe transmitir os meus cordiais bons-votos pela sua pessoa, assim como pelo bem-estar e pela prosperidade do povo sírio.

2. Vossa Excelência recordou a visita que realizei ao seu país por ocasião da minha peregrinação jubilar seguindo os passos de São Paulo. Dou graças a Deus por me ter permitido ir a Damasco, onde o Apóstolo Paulo foi acolhido pela primeira vez pela comunidade cristã depois da sua conversão e onde se conserva também a memória do martírio de São João Baptista. Nesta ocasião, pude encontrar-me com os representantes do Islão, manifestando desta forma a importância do diálogo entre as religiões para servir a causa da paz, como fiz de maneira mais profunda alguns meses mais tarde, por ocasião do Dia de oração pela paz em Assis, a 24 de Janeiro de 2002, afirmando solenemente que não se pode legitimar a violência em nome de Deus e que as religiões desejam servir o bem do homem e da paz.

3. Como não recordar a grave situação de tensão que caracteriza as actuais relações internacionais? O desencadeamento obstinado da violência terrorista, manifestada a 11 de Setembro de 2001, levou todos os responsáveis a fazer um exame de consciência atento do estado do mundo e a uma tomada de consciência renovada da fragilidade dos equilíbrios. A guerra, que prevaleceu de novo, não pode ser considerada o meio para resolver os conflitos; ela atenta gravemente contra as pessoas e encaminha o mundo para desequilíbrios profundos. Como Vossa Excelência sabe, Senhora Embaixadora, a Santa Sé não deixou de recordar que a busca das causas profundas do terrorismo são um dever de todos, a fim de permitir que lutemos eficazmente contra este fenómeno, que põe em perigo de maneira intolerável o bem comum da paz, da dignidade das pessoas e dos povos. A Santa Sé manifestou também o seu apego indefectível à concórdia entre as nações, no âmbito dos organismos internacionais legítimos, a fim de evitar qualquer forma de acção unilateral que corre o risco de levar a um enfraquecimento do direito internacional e que debilita o pacto existente entre as nações. A busca da paz exige, disto estamos convencidos, um diálogo franco e profundo entre responsáveis, pela preocupação de obter, com a participação das instituições internacionais, o maior consenso possível, para evitar qualquer espírito de vingança e a tentação de novas violências, susceptíveis de desencadear um mal maior. Este diálogo requer também que as partes envolvidas se saibam pôr em causa, para combater efectivamente as situações de injustiça ou de domínio que geram nas populações sentimentos de hostilidade ou de ódio, que depois são difíceis de desenraizar.

4. O seu país, Senhora Embaixadora, está directamente envolvido no conflito que ensanguenta há anos o Médio Oriente e a Terra Santa, esta região do mundo que é tão querida a todos os crentes e com tanta frequência é objecto de conflitos no decurso da história. Como não prestar atenção às legítimas aspirações de todos os povos, que ali residem hoje, de serem senhores de si mesmos, de viver finalmente no seu solo na dignidade e na segurança, na independência e na soberania verdadeiras, para ocupar o seu lugar no conjunto das nações, e contribuindo com as suas próprias riquezas? É desejável que todos os dirigentes desta região do mundo tenham um espírito corajoso e audacioso para não se deixarem desencorajar pelos fracassos já suportados e para alcançar finalmente uma paz verdadeira, no respeito da justiça. Ao manifestar a atenção dedicada pelo seu governo aos esforços da Santa Sé em favor da paz, que Vossa Excelência acaba de recordar, garanto-lhe que ela continuará a trabalhar incansavelmente neste sentido, pedindo, para o bem dos povos, que a comunidade internacional incremente os esforços e assuma as suas responsabilidades em relação a este conflito, que já dura há demasiado tempo, ajudando de modo mais eficaz os protagonistas a reencontrar o caminho indispensável para um verdadeiro diálogo, com vista à paz (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2003, n. 7). Não duvido de que o seu País, actualmente membro do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, também trabalha de modo activo para esta finalidade, segundo os princípios que Vossa Excelência justamente acaba de recordar.

5. A sua presença aqui proporciona-me a ocasião de saudar a comunidade católica da Síria, que tive a alegria de encontrar durante a minha peregrinação jubilar. Sei que os seus membros, apesar de serem pouco numerosos, têm a preocupação de participar no progresso económico e social do seu país, e de ocupar o seu lugar na vida da nação, testemunhando os valores de responsabilidade, de liberdade e de dignidade da pessoa que o ideal evangélico lhes inspira. Que eles saibam que o Sucessor de Pedro os encoraja a todos, pastores e fiéis, a perseverar no seu desejo de relações fraternas com os seus irmãos cristãos de outras confissões e na preocupação de diálogo fraterno com os muçulmanos!

6. Senhora Embaixadora, Vossa Excelência começa hoje a nobre missão de representar o seu país junto da Santa Sé. Queira aceitar os votos que lhe faço para o seu bom êxito e tenha a certeza de que, nos meus colaboradores, encontrará sempre um acolhimento atento e uma compreensão cordial!

Invoco de todo o coração sobre Vossa Excelência, sobre os seus colaboradores, assim como sobre o povo da Síria a abundância das Bênçãos do Altíssimo.


*L'Osservatore Romano n. 22 p. 2.

 

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