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CARTA DA CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA

O APOSTOLADO DO ENSINO RELIGIOSO
NAS ESCOLAS CATÓLICAS

 

Reverendíssimos Superiores-Gerais
Reverendíssimas Superioras-Gerais
Presidentes das Sociedades de Vida Apostólica
com responsabilidade de Escolas católicas

Com certeza as vossas Comunidades se dedicam fervorosamente ao trabalho, ao estudo, à meditação, à oração, após o dom que o Santo Padre João Paulo II concedeu a Vós e a toda a Igreja com a publicação da Exortação Apostólica pós-sinodal Vita consecrata. Nela, o Santo Padre quis recolher os frutos do Sínodo sobre a vida consagrada e «mostrar a todos os fiéis, bem como a quantos quiseram ouvir, as maravilhas que o Senhor hoje quer realizar através da vida consagrada» (VC, 4).

A Congregação para a Educação Católica, com a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica e a Congregação para a Evangelização dos Povos une-se com alegria às vossas Comunidades, na oração de acção de graças ao Senhor pelo dom da vida consagrada que está «no próprio coração da Igreja como elemento decisivo para a sua missão» (VC, 3).

Todas as épocas da Igreja são ricas de testemunhos de vida consagrada, fruto da obra do Espírito Santo. E, em todos eles, mediante a especificidade do carisma próprio, emerge a ligação inseparável entre o amor a Deus e o amor ao próximo (cf. VC, 5). Dentre todos estes carismas, apraz-nos sublinhar o da educação na escola católica.

Com efeito, hoje, a maior parte das escolas católicas depende dos Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica, cuja presença, para além de enriquecer o ambiente escolar com os valores próprios do seu carisma, testemunha, perante a sociedade, a solicitude da Igreja em oferecer aos homens de todas as raças, povos, religiões e condições sociais um instrumento eficaz, que não só «cultiva atentamente as faculdades intelectuais, desenvolve a capacidade de julgar rectamente, introduz no património cultural adquirido pelas gerações passadas, promove o sentido dos valores, prepara a vida profissional, favorece... a compreensão mútua» (GE, 5), mas propõe também o Evangelho de Jesus Cristo como escola de formação integral.

As Comunidades religiosas têm poucos campos eficazes como as escolas, para dar este testemunho. Isto assume um particular significado e valor nas terras de missão, nas zonas periféricas, ou distantes das cidades mais desenvolvidas e ricas, bem como nos países de maioria não cristã.

Por isso esta Carta, que obedece ao mandato e recolhe os desejos dos Eminentíssimos e Excelentíssimos Padres presentes na Assembleia Plenária da Congregação para a Educação Católica, celebrada nos dias 13-15 de Novembro de 1995, quer exprimir-vos o agradecimento da Igreja por quanto realizais «na e através» da escola católica, bem como pelo vosso empenho em continuar as vossas obras existentes, e em criar novas onde as necessidades o pedem.

Temos consciência de que o apostolado escolar é difícil e exige muitos sacrifícios, doação gratuita e desprendimento de si mesmos, dedicação contínua às crianças, aos adolescentes e aos jovens durante as horas escolares, e mesmo depois com actividades extraescolares de aprofundamento da fé e de importância apostólica, social, cultural, desportiva... Tal género de apostolado foi mesmo assinalado recentemente pelo sacrifício da vida de certos membros de algumas famílias religiosas e pela perda de escolas devido à política de nacionalização dos centros de ensino realizada por alguns governos.

Por este ingente, gratuito, escondido e meritório trabalho dos vossos Institutos e Sociedades nós vos renovamos o exprimimos o nosso sincero apreço.

Ao mesmo tempo, porém, registramos com dor a continuação de algumas dificuldades que levam as vossas Comunidades a abandonar o sector escolar. A carência de vocações religiosas, o desafecto pela missão educativa escolar, as dificuldades económicas na gestão das escolas católicas, a atracção por formas de apostolado aparentemente mais gratificantes, bem como outras motivações, fazem orientar os esforços apostólicos em direcção a outros sectores.

A incerteza em relação ao futuro do apostolado educacional das escolas católicas leva-nos a fazer-vos sentir que estamos convosco nas dificuldades que sois chamados a enfrentar, e a dirigirvos um apelo, servindo-nos das próprias palavras de João Paulo II, a «guardar com máximo empenho, como a pupila dos olhos, este grande, incomparável serviço à Igreja» (Insegnamenti di Giovanni Paolo II, VII/1, 1984, p. 1960).

Estamos certos de que, não obstante as dificuldades, não vos faltará a confiança no valor da escola e no seu papel determinante para que as crianças, os adolescentes e os jovens, que passam pelas vossas mãos de educadores, sejam um instrumento para a transformação do mundo, a fim de o tornar mais humano, solidário e fraterno.

Claro que é necessário encontrar as fórmulas duma pedagogia cristã adaptada às exigências do nosso tempo. As escolas devem adequar continuamente os métodos pedagógicos que os vossos Fundadores e as vossas Fundadoras seguiram, e que se revelaram eficazes para a promoção cultural e para a evangelização da juventude do seu tempo.

Sabemos que os vossos esforços são corroborados pela apreciada e indispensável colaboração dos leigos, que hoje constituem a maioria do corpo docente das vossas escolas.

Uma escola católica, comunidade educacional que tem como aspiração última educar na fé, será tanto mais idónea para cumprir a sua missão, quanto mais representar a riqueza das vocações, dos carismas e dos dons da comunidade eclesial. Por isso, a presença nela de sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos constitui para o estudante um reflexo educador da riqueza eclesial e, deste modo, um modelo de como se pode viver uma profissão como vocação, isto é, como meio de santificação pessoal e de apostolado, de acordo com o estado a que cada um é chamado.

A dinâmica que estamos vivendo deixa prever que a existência das escolas católicas dependerá cada vez mais dos leigos. Nalguns países, trata-se já duma realidade. Por isso, é necessário prosseguir com coragem o que notavelmente se está já a fazer, para formar os leigos no carisma educacional peculiar dos vossos Institutos, para ajudar a prepará-los profissionalmente e para adequar a sua profissionalidade à mudança das exigências, assim como para, ao mesmo tempo, assumir, eventualmente, a responsabilidade dos vossos centros escolares. Apreciamos a confiança que manifestais em relação aos leigos e estamos certos de que ela aumentará cada vez mais num espírito de total compartilha da missão comum.

Todavia, permanece indispensável a vossa presença de consagrados nas escolas católicas.

A Igreja precisa de encontrar em vós a solicitude educacional dos vossos Fundadores e das vossas Fundadoras, para vos tornardes instrumentos decisivos no anúncio da boa nova de Jesus Cristo, «actividade primária da Igreja, essencial e nunca concluída» (VC, 78), no âmbito escolar. Por isso, podemos afirmar que as vossas escolas são comunidades «missionárias».

A actividade evangelizadora e educacional da Igreja não se realiza, porém, só nas escolas católicas, mas é desenvolvida também por outras pessoas e instituições. Por isso, sendo comuns os beneficiários de tais actividades, é necessário procurar a coordenação, a complementaridade e a maior eficácia das actuações, respeitando todavia a independência e particularidade de cada instituição. A especificidade educacional da escola católica é chamada a integrar-se na pastoral de conjunto da Igreja local, de maneira que os alunos sejam ajudados a participar activamente na vida da comunidade paroquial e diocesana, e que vós mesmos estejais presentes, tanto quanto possível, nos diversos organismos eclesiais. Por outro lado, a Diocese e a paróquia devem considerar as escolas católicas como parte integrante da sua comunidade eclesial e devem ajudá-la a desenvolver o seu trabalho didáctico e de formação específica.

As crianças, os adolescentes e os jovens, em especial os que sofrem a pobreza nas suas várias expressões, têm necessidade do vosso amor incondicional de educadores e de educadoras e têm necessidade de ter provas disso, para que «os jovens não só sejam amados, mas reconheçam também que são amados» (S. João Bosco).

Esta juventude, que tanta necessidade tem de se sentir amada, encontra nas vossas escolas a ajuda para crescer no saber humano, e quer encontrar em vós os irmãos mais velhos, dispostos a estarem próximos mediante um contacto directo e pessoal, numa idade em que os ideais, as experiências e os exemplos dos professores deixam uma marca profunda e permanente na personalidade.

As famílias têm também necessidade de vós e da ajuda das vossas escolas, para «com grande seriedade e confiança se dedicarem ao serviço da educação dos filhos e, ao mesmo tempo, para se sentirem responsáveis perante Deus que os chama e os envia a edificar a Igreja nos filhos» (Familiaris consortio, 38).

As famílias de hoje são geralmente sensíveis aos problemas da educação dos seus filhos e empenham-se em cumprir os seus deveres educacionais. Por isso os confiam às vossas escolas, tendo plena confiança no valor do projecto educacional inspirado no carisma dos vossos Fundadores e das vossas Fundadoras. Esta confiança cria uma relação entre a família e a escola, entre pais e educadores, que deve dar lugar a uma estreita colaboração em tudo o que tende à formação integral dos estudantes.

Constatamos com satisfação que muitos centros escolares conseguiram estabelecer com os pais uma boa co-responsabilidade. Confiamos nos resultados cada vez mais profícuos para fazer crescer verdadeiras comunidades educadoras, nas quais estejam responsavelmente envolvidos como protagonistas do processo educativo, pais, estudantes e professores.

Além disso, a própria sociedade precisa do vosso testemunho pessoal e comunitário no campo da educação escolar. Vós podeis constituir o exemplo de como «dar-se» sem reservas e gratuitamente ao serviço dos outros sem qualquer discriminação; de como o pensamento cristão pode estar presente no seio do pluralismo cultural do nosso tempo.

A sociedade pode beneficiar das vossas escolas como lugares onde se transmitem não só conhecimentos, mas onde se vivem e se inculcam também valores de vida; como lugares nos quais o saber iluminado pela luz da mensagem evangélica, longe de servir para dividir e distanciar os homens entre si, é considerado como um dever de serviço e de responsabilidade para com os outros. Isto significa que nas escolas católicas, num ambiente educativo e com um projecto pedagógico impregnado do espírito evangélico de liberdade e de caridade, se ajudam os jovens a crescer em humanidade e a unir numa síntese harmónica o divino e o humano, o Evangelho e a cultura, a fé e a vida (cf. VC, 96).

Para esta alta missão formadora a Igreja, a juventude, as famílias, a sociedade têm necessidade de vós e das vossas escolas.

Por isso, estamos certos de que a carência das vocações religiosas e de vida apostólica empenhadas na educação escolar não irá paralisar a vossa generosidade. Pelo contrário, a confiança na Palavra de Deus não deixará de vos tornar ainda mais corajosos em lançar as redes no vasto mar do mundo juvenil que amais e para o qual viveis, a fim de propor a sequela radical de Cristo no apostolado docente, como vocação à perfeição e santidade no serviço do próximo. Como fruto duma atenta pastoral vocacional, proveniente da oração necessária e incansável, o Senhor da messe não deixará de enviar-vos vocações, que vos permitirão não só fazer frente às necessidades presentes, mas também ir de preferência lá onde há mais necessidade de abrir escolas que libertem os homens daquela grave forma de miséria que é a falta de instrução e de formação cultural e religiosa (cf. VC, 97).

A propósito, o nosso pensamento dirige- se para as novas gerações que se encontram fora do circuito escolar, e para os 130 milhões de crianças não escolarizadas e para os mais de 100 milhões de crianças que abandonam prematuramente a escola (cf. Relatório da Comissão internacional da UNESCO sobre a educação para o século XXI, 1996). Esta realidade, unida à pobreza das famílias, deve levar-vos com coragem a investir o vosso carisma escolar, nascido do ardor da caridade, em novas fundações nos lugares onde a pobreza é mais cruel e nas respostas pedagógicas adequadas às novas exigências da formação integral dos jovens.

Com as nossas orações a Maria Santíssima, Mãe e Mestra dos educadores, e aos vossos santos Fundadores e santas Fundadoras, é-nos grato assegurar-vos os nossos sentimentos de estima e consideração e professar-nos muito dedicados em Cristo, Mestre.

Roma, 15 de Outubro de 1996.

Pio Card. Laghi
 Prefeito

D. José Saraiva Martins
 Secretário

 

 

 

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