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DISCURSO DO CARDEAL CRESCENZIO SEPE
 NA INAUGURAÇÃO DA ASSEMBLEIA GERAL
DAS PONTIFÍCIAS OBRAS MISSIONÁRIAS

 

Quinta-feira, 16 de Maio de 2002

 

 

Excelências
Secretários-Gerais
Estimados Directores Nacionais
Caríssimos Amigos das P.O.M.

Sinto-me feliz por me encontrar convosco pela segunda vez nesta vossa Assembleia anual, que vos vê reunidos de todas as Igrejas do mundo. Dou a todos as minhas cordiais boas-vindas. Esta é uma ocasião ideal para renovar laços de amizade e vínculos de colaboração no trabalho que nos irmana:  Evangelização. Como Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, conforta-me o facto de partilhar convosco a responsabilidade de um empenho que nos foi confiado pelo nosso "único Salvador", o primeiro Evangelizador, Cristo Senhor, que veio ao mundo para anunciar o Evangelho do Reino para que "todos tenham vida, e a tenham em abundância" (Jo 10, 10).

O meu pensamento dirige-se antes de mais, para o nosso Santo Padre João Paulo II. Todos sabemos que a sua solicitude pela Missão é a principal preocupação do seu Magistério, como testemunham os numerosos escritos e mensagens à Igreja; basta pensar na Encíclica missionária Redemptoris missio, justamente definida como a "Magna Charta" da Missão, e ao espírito fortemente missionário com que animou o acontecimento secular há pouco concluído, o Ano Jubilar de 2000.

Juntamente com o Papa, com quem compartilhamos "a solicitude por todas as Igrejas" (2 Cor 11, 28), não posso deixar de recordar os vossos Bispos, a quem, como sucessores dos Apóstolos, Cristo confiou o mandato comum de proclamar e propagar a Boa Nova até aos extremos confins da terra. De facto, eles "são consagrados não só para uma Diocese, mas para a salvação de todo o mundo" (AG, 38). Como nos recorda o Concílio Ecuménico Vaticano II, em cada Igreja particular, sob a orientação do seu Bispo, está "presente e opera a Igreja, una, santa, católica e apostólica de Cristo" (CD, 11).

Estas afirmações de doutrina conciliar fundamentam o direito-chave de toda a Igreja de cumprir a sua principal tarefa de evangelizar, porque ela existe unicamente para isso. Os próprios Bispos, no Sínodo de 1974, sobre a Evangelização, declararam:  "Desejamos confirmar de novo que o mandato de evangelizar todos os homens constitui a missão fundamental da Igreja" (Declaratio In Spirito Sancto, n. 4).

I. Mas o que nesta Assembleia, que reúne toda a grande família das P.O.M., desejo realçar de maneira particular é o vosso dever prioritário de ser nas vossas Igrejas Animadores da Missão.
A animação missionária, queridos Directores Nacionais, são uma exigência e uma urgência hoje particularmente sentidas por toda a comunidade eclesial e, de modo especial, por todos os que estão emprenhados mais directamente na actividade missionária.

Vós sois os responsáveis directos desta tarefa de animação missisonária nas Igrejas particulares. A vossa tarefa principal é animar ou voltar a animar uma consciência e uma sensibilidade missionária em todos os fiéis, chamando-os a viver, na vida cristã concreta, aquilo que eles são pela vocação recebida no Baptismo:  anunciadores e testemunhas de Cristo e do seu Evangelho; missionários da missão confiada por Cristo a cada um dos seus discípulos.

Este trabalho de Animação, que deriva e corresponde ao dever de evangelizar, é uma tarefa que a Igreja, desde os tempos primitivos, exerceu como uma emanação normal da sua fé, na alegria de anunciar a salvação de Cristo a todos. Os Apóstolos estavam tão convencidos disto que afirmaram perante os seus perseguidores:  "...Não podemos deixar de afirmar publicamente o que vimos e ouvimos" (Act 4, 20); e São Paulo declarava:  "Se anuncio o Evangelho, não tenho de que me gloriar, pois que me é imposta essa obrigação:  ai de mim se não evangelizar!" (1 Cor 9, 16). João Paulo II, na citada Encíclica missionária, alegra-se porque "sobretudo está a afirmar-se uma nova consciência, isto é, a de que a missão compete a todos os cristãos, a todas as dioceses e paróquias, instituições e associações eclesiais" (RM, 2). Estão aqui compendiados os resultados de uma animação bem orientada, sobretudo no século XX, por mérito das P.O.M. e, estre elas, sobretudo da União Missionária. O Papa também recorda que isto é o fruto da doutrina do Vaticano II, que "incumbe antes de mais ao colégio dos Bispos, tendo à sua cabeça o sucessor de Pedro" (RM, 63). Com efeito, a Constituição dogmática sobre a Igreja, declara:  "O cuidado de anunciar o Evangelho em todo o mundo pertence ao corpo dos Pastores, pois a todos em comum Cristo deu o mandato" (LG, 23). Por conseguinte, é evidente que nas vossas Conferências Episcopais, no que se refere ao dever da Animação missionária, vós representais e actuais em nome dos vossos Bispos. Mas, como Directores Nacionais das P.O.M., trabalhais também em nome do Papa e do seu dever de evangelizar. Estas reflexões são muito importantes porque, enquanto vos oferecem dignidade e responsabilidade não indiferentes, exigem também a total dedicação ao vosso empenho prioritário de Animação missionária, que deve estar antes e acima de qualquer outra consideração.

Conforta-me e alegro-me em saber que a maioria das Conferências Episcopais se situam nesta linha de pensamento e de acção e que a maior parte de vós, especialmente os Directores Nacionais que há anos ocupam este cargo, estão conscientes desta realidade. De facto, de pouco serviriam as ofertas de dinheiro reunidas para as missões, se elas não representassem a comparticipação viva e directa dos fiéis na evangelização obtida através da vossa animação missionária. A este respeito apraz-me citar, como exemplo, a "Mensagem final" redigida em Novembro de 2001, pela Comissão Episcopal das Missões e pelas P.O.M. da Conferência Episcopal Regional da África Francófona do Oeste (C.E.R.A.O.). Neste documento, escolhido entre tantos, os Bispos escrevem:  "recordámo-nos de igual modo de que todos somos o fruto da actividade missionária ad gentes de outras Igrejas enviadas por Deus entre nós em qualquer momento da sua e da nossa história". Em conclusão das considerações sobre o dever missionário de cada Igreja particular, a mesma Comissão apresenta algumas prioridades significativas: 

1) a urgência de fazer redescobrir que cada Igreja diocesana deve ser missionária na própria casa e cooperar para a missão das outras Igrejas locais até aos extremos confins da terra;

2) fazer das P.O.M. o instrumento privilegiado e central para a animação missionária em todas as categorias do povo de Deus;

3)  promover  a  formação  e  a  informação  missionária  de  todos  os  agentes da pastoral usando todos os meios necessários e sobretudo as sessões de estudo...".

Este espírito de evangelização é fruto de uma efectiva e profunda Animação missionária. Na realidade, a consciência do dever missionário dos fiéis e dos seus Pastores tornou possível o grande movimento missionário dos anos que precederam o Concílio, cujo mérito se reconhece de maneira especial à P.U.M. e ao seu Fundador, o Padre Paolo Manna. O Santo Padre, na Audiência de 5 de Novembro de 2001, que se seguiu à sua Beatificação, assim se exprimiu:  "Com a sua existência completamente dada a favor da causa missionária, foi um autêntico precursor das instituições e das indicações do Concílio Ecuménico Vaticano II. O novo Beato possui o grande mérito de ter insistido fortemente sobre a santidade sem descontos e sem hesitações, como premissa indispensável para ser apóstolo autêntico e credível do Evangelho". E no breve discurso durante a cerimónia de beatificação, o Papa declarou:  "No Padre Manna, nós vemos um especial reflexo da glória de Deus... Na realidade, não há missão sem santidade, como recordei na Encíclica Redemptoris missio:  "A espiritualidade missionária da Igreja é um caminho orientado para a santidade... é preciso suscitar um novo ardor de santidade entre os missionários e em toda a comunidade cristã". Eis a tarefa sublime que deve apoderar-se da vossa própria pessoa e condicionar toda a vossa vida e actividade missionária. Como podeis ver, o Santo Padre não só nos estimula a ser autênticos animadores da Missão, mas indica-nos também o caminho que devemos percorrer para realizar este compromisso entusiasmante:  o caminho da santidade. Todos nós somos chamados, a exemplo dos numerosos Santos animadores missionários, a uma espiritualidade missionária profunda e vivida porque a animação missionária é "caminho de santidade", sem a qual qualquer compromisso de cooperação missionária é vão e não edifica o reino de Deus. Na Audiência papal que nos foi concedida, a 24 de Abril do ano passado, pude confirmar ao Santo Padre a necessidade e a urgência do despertar de uma nova missão que "deverá co-responsabilizar todos os membros do povo de Deus" (NMI, 40); e concluí dizendo:  posso garantir a Vossa Santidade que as Pontifícias Obras Misisonárias estão prontas para "fazer-se ao largo", a fim de se projectarem no futuro com maior entusiasmo e generosidade e, com coragem humilde, anunciar Cristo, único Salvador do mundo, a todos os povos da terra" (Ed. port. de L'Osservatore Romano, 12 de Maio de 2001, pág. 1). A promessa ao Papa é clara e a vontade de a realizar deve ser necessariamente evidente na nossa renovada "Animação misisonária".

II. De uma clara e autêntica "animação missionária", deriva também uma efectiva e harmoniosa "cooperação missionária". Esta cooperação, de facto, exige a convergência de esforços comuns entre as instituições da Igreja universal e as das Igrejas particulares, de forma a realizar um fim específico e partilhado por todos.

Este entendimento harmonioso exprime-se antes de mais na relação inseparável entre a Congregação para a Evangelização dos Povos e as Pontifícias Obras Missionárias.

Conclusão

Um princípio de sã filosofia recorda que "operari sequitur esse". Isto é, em geral, verdadeiro para qualquer actividade missionária. De facto, é necessário para a Missão que o espírito humano seja iluminado e garantido através de visões de fé e impulsos de amor. Não há missão sem amor; não há animação nem cooperação missionária sem uma paixão que leve à santidade.

Só com um compromisso decidido e total é que se podem vencer os grandes desafios que o mundo pós-moderno secularizado, multiétnico e multicultural apresenta hoje à evangelização.
Actualmente, a missão já está a ser realizada nos cinco Continentes, onde santos e corajosos missionários continuam, muitas vezes com dificuldades de todos os géneros, a levar o Evangelho de Jesus Cristo e a transmitir a fé na sua salvação.

Mas, hoje como nunca, é necessário "reavivar um espírito missionário autêntico" (Cooperatio missionalis), rezando para que o Espírito Santo suscite no coração de todos o mesmo espírito missionário que animava o Senhor. Por isto a Igreja "não deixa de rezar, de esperar e de actuar para obter esta união, exortando os seus filhos a purificarem-se e a renovarem-se, para que o sinal de Cristo resplandeça, mais brilhante sobre a Sua face" (LG, 15; cf. AG, 36).

Portanto, "é preciso ter a solicitude primordial de reavivar incessantemente o autêntico espírito missionário em cada Igreja particular, diocesana e paroquial (cf. AG, 37), e no coração de todos os cristãos:  Bispos (cf. AG, 6, 38), sacerdotes (cf. AG, 39), religiosos (cf. AG, 40) e leigos (cf. AG, 21).

Por conseguinte, se o espírito missionário é fruto da animação missionária, então vós, Directores Nacionais, sois chamados a assumir o papel que vos compete para que a missão se torne, para todo o Povo de Deus, uma parte integrante  da  pastoral  diocesana  e nacional.

O bom êxito da Missão depende do vosso empenho, das vossas iniciativas e, sobretudo, do testemunho da vossa vida. "A palavra de ordem escreve a Redemptoris missio, deve ser esta:  todas as Igrejas para a conversão de todo o mundo" (n. 48). Parafraseando esta frase do Papa, gostaria de vos exortar:  todos os Directores Nacionais para uma renovada Missão nos cinco Continentes do mundo".

Com a ajuda de Maria, Estrela da nova Evangelização e Mãe da Missão. Obrigado!

 

 

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