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CONGREGAÇÃO PARA A EVANGELIZAÇÃO DOS POVOS
HOMILIA DO CARDEAL CRESCENZIO SEPE NA ORDENAÇÃO EPISCOPAL DE
MONS. WENCESLAU PADILLA PRIMEIRO PREFEITO APOSTÓLICO DE ULAN BATOR (MONGÓLIA)
Eminência
Excelência, Núncio Apostólico
Excelências
Caros leigos,
Autoridades civis e amigos
O coração de cada um de nós, que participamos nesta celebração,
e o de toda a Igreja, está repleto de alegria e de gratidão ao Senhor por aquilo
que hoje se realiza aqui no meio de nós, ou seja, a ordenação episcopal do
Rev.mo Mons. Wenceslao Padilla, Prefeito Apostólico e primeiro Bispo da Igreja
que está na Mongólia!
O Santo Padre João Paulo II está espiritualmente unido a nós.
Não podendo presidir a esta celebração, confiou-me a responsabilidade de
transmitir as suas saudações, as suas preces e a sua especial Bênção apostólica
a todos vós, e de modo especial a Mons. Wenceslao. O Santo Padre ama a Mongólia
e espera poder visitá-la, assim que for possível. Por conseguinte, nesta
ocasião, ele enviou uma carta assinada, que agora será lida.
O Evangelho que escutámos ajuda-nos a compreender também o
significado da cerimónia que estamos a celebrar: São João Baptista deu
testemunho da Verdade, que é Jesus Cristo, por quem entregou a sua própria vida.
Este é também o profundo significado da vida e do ministério do Bispo: dar a
própria vida por Cristo, pela Igreja e pelo rebanho, de quem foi constituído
Pastor. Isto significa, porventura, que o ministério do Bispo consiste em
"deixar que lhe cortem a cabeça"? Monsenhor Wenceslao, espero e rezo para que
isto não lhe aconteça! Todavia, não se pode excluir que, para permanecermos
fiéis a Cristo, às vezes devemos estar dispostos a entregar a nossa vida e mesmo
a derramar o nosso sangue. Esta é a história vivida pela Igreja nos dois mil
anos da sua existência, e que continua ainda hoje quando, em muitas regiões do
mundo, os discípulos de Cristo dão testemunho da sua fé e do seu amor ao Senhor,
a ponto de derramar o seu próprio sangue.
Isto ajuda-nos a compreender o significado e a importância da
Ordem episcopal que, daqui a pouco, será conferida a Monsenhor Wenceslao. Com
efeito, em virtude da recepção da Ordem episcopal e em comunhão hierárquica com
o chefe do colégio e com os seus membros, somos constituídos membros do Corpo
episcopal.
Além disso, a Ordem dos Bispos sucede ao Colégio dos Apóstolos
na autoridade do ensinamento e do governo pastoral; com efeito, o corpo
apostólico continua a existir na Ordem dos Bispos. Portanto, como sucessores dos
Apóstolos, os Bispos recebem do Senhor, a quem foi dado todo o poder no céu e na
terra, a missão de ensinar a todas as nações e a pregar o Evangelho a toda a
criatura a fim de que, através da fé, do baptismo e da obediência aos
mandamentos (cf. Mt 28, 18), todos os povos possam obter a salvação. O
Colégio episcopal, reunido sob o único Chefe, o Pontífice Romano,
Sucessor de Pedro, exprime a unidade, a diversidade e a universalidade do
rebanho de Cristo.
Todavia, os Bispos aos quais é confiada a responsabilidade pelas
Igrejas particulares, exercem o seu governo pastoral sobre a porção do Povo de
Deus, confiada aos seus cuidados; nestas Igrejas particulares, eles são o
princípio visível e o fundamento de unidade. Estas Igrejas são constituídas em
conformidade com a imagem da Igreja universal, e é nelas e delas que a Igreja
católica tira a sua existência.
Entre os diversos ofícios do Bispo, é proeminente o da pregação
do Evangelho. Os Bispos são anunciadores da fé, conduzem novos discípulos a
Cristo e são mestres autênticos, que proclamam ao povo sob os seus cuidados a fé
em que acreditar, para orientar a sua conduta pessoal. Como, através do
ministério da palavra, eles comunicam o poder de Deus para a salvação àqueles
que acreditam (cf. Rm 1, 16) assim, através dos sacramentos, santificam
os fiéis: regulam a atribuição do Baptismo, são os ministros que dão a
confirmação, são dispensadores das Ordens sagradas e moderadores da disciplina
penitencial. Assinalados pela plenitude do Sacramento da Ordem sagrada, os
Bispos são "servidores da graça do sumo sacerdócio", especialmente na
Eucaristia, que eles oferecem ou fazem oferecer. Além disso, cada celebração
legítima da Eucaristia é regulada pelo Bispo, porque cada comunidade do Altar,
sob o sagrado ministério do Bispo, se propõe como símbolo da caridade e da
unidade do Corpo Místico.
Caros Irmãos e Irmãs, como são abençoados este País e a vossa
comunidade de crentes, pequena e todavia vibrante, que hoje recebem um grande
dom de Deus! E este dom é o nosso irmão, Mons. Wenceslao Padilla, que foi
escolhido como primeiro Bispo da vossa Igreja: trata-se de um acontecimento
histórico na vida da Igreja católica que está na Mongólia. Vós ireis recebê-lo
não como uma "cabeça numa bandeja", como a de João, e nem sequer como uma
promessa vã, como a do rei Herodes no Evangelho. Não! Ireis recebê-lo como um
sinal visível da promessa de Deus, que estará sempre convosco, como pai para os
seus filhos predilectos, como bom pastor para a sua grei. Recebei-o e
oferecei-lhe o respeito e a dignidade como servidor-guia entre vós, que por
vossa vez sois chamados a ser servidores de todas as pessoas, segundo o exemplo
dado por Jesus na sua vida de serviço, de forma especial aos pobres.
Como comunidade de fé, recordai que vos tornastes um povo
eleito, talvez uma voz que clama no deserto, como João Baptista. E este deserto
é o mundo em que hoje viveis. Pode ser a sociedade, os vossos vizinhos e até a
vossa família. Muitas vezes, o mundo contemporâneo vive segundo os parâmetros de
quem vive sem Deus: daqueles que pensam e acreditam que possuem o mundo e que
são as divindades da terra. Eles são o rei Herodes dos dias de hoje. Havereis de
desafiar os valores promovidos por estas pessoas. E é justo que seja assim,
porque os seus valores promovem uma felicidade vazia e a vanglória.
Caro Mons. Wenceslao, fico feliz por Vossa Excelência ter aceite
generosamente o chamamento de Deus para se tornar sua encarnação do amor e do
serviço no meio do povo da Mongólia, para junto do qual foi enviado. Sem dúvida,
a tarefa não é fácil e talvez o fardo nunca seja leve. Por vezes, Vossa
Excelência poderá sentir como se a sua cabeça fosse cortada, como a de João
Baptista! Todavia, como sugere a primeira Leitura, deve ter a humildade, a
coragem e a fé do profeta Jeremias. Sei que, nas profundezas do seu coração,
existe uma sólida confiança em Deus, que o conheceu ainda antes da sua formação
no seio (materno), e que o consagrou ainda antes do seu nascimento.
Poderia parecer engraçado ou incutir temor o facto de que Deus
possa transformar as vidas e chamar as pessoas a serem seus porta-vozes ou seus
representantes entre os povos. Sei que Vossa Excelência foi um missionário que
trabalhou quinze anos em Formosa, seis dos quais como superior provincial da sua
Congregação, e que nos últimos onze anos, como João Baptista, foi o "precursor"
aqui na Mongólia. Verdadeiramente, o Senhor mostra-se misericordioso para
consigo. Com a sua experiência e dedicação, Vossa Excelência é um autêntico dom
de Deus para o povo da Mongólia.
A sua dedicação e o seu amor pelo povo deste querido País é evidente,
manifestado também pela escolha do seu brasão. Em primeiro lugar, há o ger que
simboliza a sua casa no coração do povo mongol. A facilidade com que Vossa
Excelência estabelece relações com os funcionários governamentais, com a
comunidade local dos crentes e com as pessoas comuns com quem trabalha, e mesmo
com aqueles que podem ser considerados inaceitáveis pelos outros, ou seja, as
pessoas miseráveis, pobres e necessitadas, faz-nos ver que Vossa Excelência
encontrou a sua casa no meio deles, dedicando a sua missão na Mongólia à Sagrada
Família: Jesus, Maria e José.
Explicaram-me que, para os mongóis, até o modo de segurar o
Menino Jesus representa um símbolo importante. Talvez para o descrever não usam
a palavra coração ou zurkh, como nós, mas falam de bundang ou de
buimang, que significa recipiente ou receptáculo santo ou sagrado. O fogo
de três línguas é outro símbolo importante para os mongóis que, para nós, pode
significar o Espírito, mas com uma implicação mongol que indica a força eterna
de Deus: as três línguas representam o ontem, o hoje e o amanhã. Isto
recorda-nos o Jubileu! O pompom apresenta duas margens com um símbolo mongol: o
ulzii, que representa a eternidade, ou o ciclo infinito do nascimento, da
morte e da nova vida. A sua dedicação ao povo e à nação da Mongólia é certamente
indiscutível. Esta Igreja jovem e vibrante sente-se orgulhosa por contar consigo
como seu guia.
E, naturalmente, Vossa Excelência continuará a ser um membro da
CICM. Admiro o amor pela sua Congregação, manifestado com o símbolo da mesma
Ordem incluído no brasão. Estou grato também à Congregação do Coração Imaculado
de Maria (CICM), por ser tão generosa em compartilhá-lo com a missão da Igreja
universal. Quanta dedicação da CICM! Aquilo que Vossa Excelência é hoje
constitui o resultado de trinta e seis anos de trabalho, que o seu saudoso pai
dedicou à CICM como catequista fiel e, naturalmente, da sua formação na CICM a
partir do sétimo ano escolar.
O seu brasão é completado pelo sol que desponta a Leste, que se irradia desde as
montanhas cobertas de neve até às colinas e às estepes: um símbolo de
esperança. Como Vossa Excelência explicou, isto indica a índole chinesa do seu
nome (Huang Hsyu Tong, ou seja, nove sóis amarelos que despontam a Leste,
portanto, a aurora). Assim, o seu lema "Uma luz a revelar às nações",
resume de modo significativo a sua identidade como membro da CICM e o seu
compromisso de ser o instrumento principal do amor de Deus que está para ser
elevado à dignidade de Bispo.
É com a graça do Espírito e a protecção maternal de Maria, nossa
Beatíssima Mãe, que lhe peço, Mons. Wenceslao, bem como a todos os missionários
que o rodeiam, que seja uma contínua fonte de força de carácter para o povo que
Deus lhe confiou, como já manifestou nos numerosos anos da sua experiência
missionária. Leve-os a sentir a presença do nosso eterno Sumo Pontífice, nosso
Senhor Jesus que, como diz a segunda Leitura, compreende as nossas debilidades
humanas e, apesar de ser sem pecado, contudo foi posto à prova. Seja um Pastor
autêntico para o seu rebanho, um verdadeiro pai para os filhos de Deus, um
autêntico irmão para os pobres, os doentes, os estrangeiros ou as pessoas
desabrigadas. Como João Baptista, segundo o lema do seu brasão, oriente aqueles
que talvez não conheçam e não vivam o Evangelho com a mesma dedicação mostrada
ao seu rebanho. E dado que Vossa Excelência é incorporado no Colégio dos Bispos,
não deve esquecer a sua responsabilidade de ser instrumento do vínculo de
unidade, que compartilhamos na fé. Oxalá as solicitudes da Igreja universal
constituam sempre uma parte integrante da sua preocupação pessoal!
Monsenhor Wenceslao, juntamente com os seus missionários,
vivendo o espírito de João Baptista, seja sempre como uma parteira atenta, que
participa no nascimento da comunidade de Deus que está aqui na Mongólia!
Ponha-se sempre da parte da justiça, da paz e do amor, porque foi por este
motivo que o nosso Sumo Sacerdote, Jesus Cristo, ofereceu a sua própria vida
para a redenção de todos nós. Em síntese, como o Senhor, seja o servo da
comunidade de servidores!
Que as bênçãos do Pai, de quem Vossa Excelência é a imagem na
Igreja, do Filho, cujo papel de mestre, de sacerdote e de Pastor é também seu, e
do Espírito Santo que dá vida à Igreja e sustenta a nossa debilidade com a
força, possam estar consigo, no momento em que recebe a graça da sua eleição
para Bispo do Povo de Deus aqui na Mongólia!
Que a Virgem Maria, Rainha da Mongólia, vos proteja a todos!
Amen.
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