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CONGREGAÇÃO PARA A EVANGELIZAÇÃO DOS POVOS

HOMILIA DO CARDEAL CRESCENZIO SEPE
 NA ORDENAÇÃO EPISCOPAL DE MONS. PAUL HINDER,
AUXILIAR DO VICARIADO APOSTÓLICO DA ARÁBIA

Sexta-feira, 30 de Janeiro de 2004

 

 
Excelências
Rev.do Ministro-Geral
Caríssimos Sacerdotes
Religiosos e Religiosas
Autoridades civis
Irmãos e Irmãs

Reunimo-nos na Catedral de Abu Dabi para participar num acontecimento de extraordinário significado eclesial:  a Ordenação episcopal de Mons. Paul Hinder, O.F.M. Cap, nomeado pelo Santo Padre Bispo Auxiliar do Vicariado Apostólico da Arábia. Em sintonia com a oração incessante que a Igreja primitiva elevava pelo Apóstolo Pedro (cf. Act 12, 5), voltámo-nos para Deus com a colecta da Tradição Apostólica pelo irmão Paul:  "Pai, Tu que conheces os segredos do coração, concede ao teu servo, eleito ao Episcopado, apascentar a tua santa grei e realizar de modo irrepreensível a missão do sumo sacerdócio".

É-me grato presidir, na tarde do dia de hoje, a esta Eucaristia e transmitir, juntamente com os Bispos consagrantes, a plenitude da Ordem sagrada a Mons. Hinder, que serviu com competência e paixão a Ordem dos Frades Capuchinhos como Definidor-Geral. Transmito ao Bispo eleito e a todos vós a cordial saudação do Santo Padre. Ele conserva-vos no seu coração e deseja alcançar-vos todos com a sua oração:  católicos, cristãos e fiéis de outros credos. Vim como peregrino para tomar conhecimento da obra realizada pelo Senhor no meio de vós. Estou grato à Família capuchinha que, desde o longínquo ano de 1889, tem a responsabilidade jurídica e pastoral da Igreja católica na Arábia. Mas agradeço também às outras Famílias religiosas, masculinas e femininas, comprometidas a vários níveis em benefício dos fiéis. Por fim quero exprimir, também em vosso nome, uma  especial  palavra  de  agradecimento a Mons. Bernardo Gremoli, há mais de 28 anos Pastor incansável desta Comunidade católica da Arábia. A Igreja universal agradece-lhe inclusivamente o zelo que distinguiu a sua acção pastoral.

Além disso, saúdo Sua Ex.cia D. Giuseppe De Andrea, Representante do Santo Padre nos Emirados Árabes Unidos, na Arábia Saudita, no Barein, em Omã, em Catar, no Kuait e no Iêmen. Bem sei como é estimada a obra de comunhão eclesial e de encorajamento que ele continua a garantir aos sacerdotes, aos religiosos, às religiosas e a todos os fiéis em geral.

Por fim, dou as minhas boas-vindas aos três irmãos do Ordenando, dos quais um é monge beneditino leigo. Através deles e dos outros familiares de Mons. Paul, que vieram aqui da Suíça, gostaria de prestar uma homenagem também aos seus saudosos pais. A Igreja que está na Arábia ser-lhes-á eternamente grata pela dádiva tão preciosa de um novo Pastor.

Viestes em grande número para participar na Ordenação de um Bispo. Mas por quê? Quem é o Bispo? É porventura um poderoso da terra ou um alto funcionário do Estado? O que é que acontece de modo especial nesta celebração? É talvez a investidura de um homem escolhido para cumprir uma função importante? Não! A Palavra de Deus, que acabámos de escutar, diz que estamos prestes a entrar no Mistério. O Eterno entra no tempo, para consagrar um homem, ocultando-se contudo na aparência dos sinais. O novo Bispo receberá uma extraordinária efusão do Espírito Santo. e tornar-se-á instrumento eleito da economia de Deus e da sua obra salvífica.
Com Mons. Hinder acontecerá aquilo que aconteceu com os Apóstolos. Jesus estabelecerá com ele uma profunda comunhão, que o levará a viver uma verdadeira e própria identificação espiritual.

Hoje Jesus escolheu-o, como há tantos séculos elegeu os Apóstolos, depois de uma noite de intensa oração. Chamá-lo-á pelo nome Paul para que continue a missão e torne presente em toda a parte a figura do Bom Pastor, que "dá a vida pelas suas ovelhas (...) Tenho também outras ovelhas, que não são deste redil. Também tenho de as conduzir; elas ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor" (Jo 10, 11.16). A imagem dócil e animadora do Bom Pastor, tirada do Evangelho de João, constitui o ícone em que o novo Bispo se comprometerá a inspirar a sua vida, num esforço jamais concluído de adesão ao modelo inigualável de Jesus Cristo. Ele despender-se-á com generosidade por esta Comunidade, sem nunca esquecer que deverá sentir sobre si mesmo a solicitude por todas as Igrejas espalhadas sobre a Terra. Estimado Mons. Paul, é-te pedido um compromisso oneroso, como lemos na primeira Leitura:  "Não digas "sou jovem", porque irás ter com aqueles para junto de quem Eu te mandar. Não tenhas medo dele, pois Eu estou contigo para te proteger" (Jr 1, 7-8).

Depois de terem recebido o seu mandato do Senhor Jesus, os Doze passaram-no aos seus sucessores, mediante a imposição das mãos. Assim, nasceu a sucessão apostólica. Do mesmo modo, há quarenta e cinco anos um sucessor dos Apóstolos impôs as mãos sobre o jovem Karol Wojtyla que, tornando-se Papa, impôs as suas mãos sobre mim, há doze anos. E hoje tenho a alegria de repetir aquele gesto e de invocar o Espírito sobre Mons. Paul Hinder.

O novo Bispo tornar-se-á um sucessor dos Apóstolos e, como se lê no Concílio, tornará presente entre os fiéis o próprio Senhor Jesus (cf. Lumen gentium, 21). Com efeito, o Bispo garante a presença constante do Filho de Deus no meio dos homens, tornando concreta a promessa feita pelo Mestre de Nazaré aos Apóstolos, antes de subir aos Céus:  "Eis que Eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo" (Mt 28, 20).

Dilecto Mons. Paul, daqui a pouco serás ordenado Bispo da Igreja católica. Receberás uma efusão especial do Espírito Santo e tornar-te-ás membro do Colégio Episcopal. Terás o dever de anunciar o Evangelho a todas as criaturas, uma tarefa confiada aos Apóstolos pelo próprio Senhor Jesus. Desta responsabilidade, o Apóstolo Paulo manifestou a sua consciência, com estas palavras:  "Anunciar o Evangelho não é título de glória para mim; pelo contrário, é uma necessidade que me foi imposta. Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho!" (1 Cor 9, 16).

O dever de anunciar o Evangelho pertence de maneira especial aos Bispos. No dia da sua sagrada Ordenação, eles assumem a pregação do Evangelho como compromisso precípuo. Por conseguinte, deverás ensinar os fiéis, santificá-los e orientá-los para as pastagens eternas do Céu. Conserva vivo em ti aquilo que diz o Apóstolo Pedro, na sua primeira Carta:  "Cuidai do rebanho de Deus que vos foi confiado, [velando sobre ele] não por imposição, mas de livre e espontânea vontade, como Deus quer; não por causa do lucro, mas com generosidade; não como donos daqueles que vos foram confiados, mas como modelos para o rebanho" (5, 2-3).

O Santo Padre pediu-te que trabalhes em comunhão com D. Gremoli e sob a sua responsabilidade. Bem sei que, com a Graça de Deus, permanecerás fiel ao mandato que recebeste. A Igreja que te será confiada está comprometida em numerosos e diversificados sectores pastorais:  daquele mais propriamente sacramental e catequético ao educativo, visível no serviço atento da formação escolar. Além disso, o Vicariado Apostólico da Arábia administra inclusivamente algumas obras sociais, através da presença de diversos serviços que beneficiam as pessoas idosas, os portadores de deficiência e os órfãos. Não te faltará trabalho pastoral. Todavia, que nos momentos de dificuldade ressoem no seu coração os sentimentos de Santo Agostinho, que gostava de dizer:  "Para vós sou Bispo, convosco sou cristão". O ministério pastoral, recebido na consagração que te põe como Bispo "diante" dos outros fiéis, exprime-se no "ser para" os outros fiéis. Mas tal responsabilidade não te impede de "ser com eles".

Além disso, peço-te que vivas e promovas na tua Igreja aquela espiritualidade de comunhão que tem a sua sua origem no próprio coração da Santíssima Trindade. Comprometidos na promoção da mesma no interior do Presbitério, entre os consagrados, as consagradas e os fiéis leigos. Suscita o encontro pessoal e comunitário, convencido de que o Espírito nunca cessa de falar à sua Igreja (cf. Ap 2, 7). Para esta finalidade, serão úteis os retiros, os exercícios espirituais e os dias de espiritualidade. Que a mesma espiritualidade de comunhão te comprometa também a alimentar a comunhão com o Santo Padre e com os outros irmãos Bispos.

Peço a todos os Bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas e fiéis leigos que ajudem, sobretudo com a oração, o novo Bispo a viver plenamente o seu serviço pastoral. Na Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores gregis sobre o Bispo, servidor do Evangelho de Jesus Cristo para a esperança do mundo, o Papa afirma que entre o Pastor e os seus fiéis deve criar-se uma espécie de "circularidade". O espírito de comunhão viverá do testemunho de caridade dos fiéis e do testemunho do Bispo nos seus actos de magistério; da vida santa dos fiéis e dos meios de santificação, que o Bispo lhes oferece; da responsabilidade pessoal do Bispo acerca do bem da Igreja que lhe é confiada e da co-responsabilidade de todos os fiéis em relação ao bem da mesma Comunidade eclesial (cf. Pastores gregis, 10).

Caros Irmãos, como deixar de vos recordar, nesta tarde, que a variedade dos vossos rostos dá testemunho da riqueza multiforme das vossas origens, mas que a harmonia das vossas vozes e dos vossos cânticos exprime também a união de fé do único povo de Deus:  "Louvai o Senhor, todas as nações, glorificai-O todos os povos" (Sl 117 [116], 1). Em vós, realiza-se o mistério da Igreja:  "Num só corpo há muitos membros e estes membros não têm todos a mesma função. O mesmo acontece connosco:  embora sendo muitos, formamos um só corpo em Cristo" (Rm 12, 4-5). Por conseguinte, a unidade seja o vosso bem fundamental. Vivei com alegria e entusiasmo a fé que recebestes como dádiva de Deus.

"Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós" (Jo 20, 21). Estimado Irmão Paul, novos horizontes apresentam-se a ti, novos caminhos abrem-se hoje diante da tua existência. Toma na mão o báculo do Bom Pastor e caminha com clarividência e coragem diante do teu povo.
A tua vida já pertence a este povo. Orienta-a rumo à nascente da Graça. Sacia-a com o frescor da Palavra da salvação, alimenta-a com o pão da Eucaristia, conserva viva nela a saudade do Pai celestial. São Francisco de Assis, modelo da tua vida religiosa, te ajude a transmitir a cada pessoa o dom precioso da Paz. Que te acompanhe a protecção maternal de Maria Santíssima, Mãe do Redentor, e a Estrela da nova evangelização.

 

 

 

 

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