PONTIFÍCIO CONSELHO PARA O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO MENSAGEM POR OCASIÃO Budistas e cristãos ao serviço da humanidade
Queridos amigos budistas 1. Da parte do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, transmito-vos a todos, assim como a todas as comunidades budistas do mundo os meus melhores votos por ocasião do "Vesakh". Espero que possais transcorrer uma festa alegre. 2. Como já é tradição, gostaria de aproveitar este ensejo para compartilhar convosco alguns pensamentos que possam ajudar a revigorar as relações entre as nossas duas comunidades. No corrente ano, estas reflexões fundamentam-se na primeira Encíclica do Papa Bento XVI aos católicos do mundo inteiro. Esta Carta, Deus é amor, ou segundo o seu título latino Deus caritas est, examina a natureza do amor. Sua Santidade o Santo Padre está persuadido de que este termo, tão frequentemente utilizado mas muitas vezes mal interpretado, deve encontrar de novo o seu significado mais autêntico, em vista de se tornar um farol para a vida de todos os dias. 3. O Papa Bento XVI fala de dois tipos de amor: o primeiro, o eros, o amor entre um homem e uma mulher, um amor que busca a sua satisfação pessoal; o segundo, o ágape, um amor que busca o bem do outro, mesmo que o outro não seja agradável ou até desconhecido. Para os cristãos, este segundo tipo de amor só é possível, quando está assente no amor a Deus, em resposta ao amor de Deus pelos seres humanos. Assim o amor a Deus e o amor ao próximo são inseparáveis e constituem um único mandamento. "O amor cresce através do amor. O amor é "divino", porque vem de Deus e nos une a Deus" (Encíclica Deus caritas est, 18). 4. Nós, cristãos, acreditamos que a perfeita manifestação do ágape se fundamenta em Jesus Cristo, o Filho de Deus que se fez homem, que passou a sua vida para pregar, com as palavras e as obras, a Boa Nova do amor de Deus. A manifestação extrema deste amor foi quando Jesus entregou a sua própria vida pela humanidade inteira. Ainda mais, Jesus é a fonte do ágape, em particular com o dom de Si na Eucaristia. Haurindo deste manancial, os cristãos procuram seguir os passos de Jesus, manifestando amor pelos seus irmãos e irmãs, de maneira especial pelos pobres e pelas pessoas que sofrem. 5. Através do nosso diálogo, conseguimos valorizar a importância que vós, budistas, reservais ao amor pelo próximo, que se exprime no conceito de metta, um amor desprovido do desejo de posse, destinado a ir em ajuda dos outros. Ele é considerado um amor que está pronto a sacrificar os seus interesses em benefício da humanidade. Assim, em conformidade com o ensinamento budista, metta não se limita a um pensamento positivo, mas inclui também obras de caridade, ao serviço de cada um e de todos. É verdadeiramente uma benevolência universal. Também não se pode esquecer a outra virtude, karuna, através da qual se manifesta a compaixão amorosa por todos os seres vivos. 6. Neste mundo, em que se usa e se abusa enormemente da palavra "amor", não seria útil se os budistas e os cristãos voltassem a descobrir o seu significado original a partir das suas respectivas tradições e compartilhassem, uns com os outros, aquilo que compreenderam? Para os seguidores de ambas as tradições, seria um encorajamento a trabalhar em conjunto, em ordem a construir relacionamentos fundamentados sobre o amor e a verdade, a promover o respeito recíproco e a fazer progredir o diálogo e uma ulterior colaboração ao serviço de todos os necessitados. 7. Estas considerações conduzem-me aos bons votos conclusivos, ou seja, por que a festa do "Vesakh" possa constituir um período em que a amizade entre os budistas e os cristãos se consolide e seja revigorada a colaboração, num clima de ágape e de metta. Com este espírito, formulo-vos votos de um Feliz "Vesakh"! Cidade do Vaticano, 14 de Fevereiro de 2006.
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