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PONTIFÍCIO CONSELHO PARA O DIÁLOGO  INTER-RELIGIOSO

MENSAGEM DO CARDEAL FRANCIS ARINZE
 AOS HINDUS POR OCASIÃO DA SOLENIDADE
DO "DIWALI" DE 2002

 
Queridos Amigos Hindus

1. Chegou novamente para vós o tempo de acender as pequenas lâmpadas, de pendurar as lanternas coloridas nas vossas casas, de oferecer orações a Deus, de visitar os amigos e os vizinhos e de celebrar à volta da mesa familiar a alegria que traz a festa do Diwali. Nesta feliz ocasião, gostaria de estender as minhas mais cordiais saudações a todos os hindus. Possa a alegria exterior, que se manifestará em todo o mundo hindu, ser uma expressão de verdadeiro sentido religioso, o fruto de crenças e convicções religiosas autênticas.


2. Para mim, já se tornou um hábito convidar os amigos de várias tradições religiosas, por ocasião das suas festividades, para reflectirmos juntos sobre os varios aspectos da nossa vida, na sociedade e no mundo em geral. Neste ano, por ocasião do Diwali, gostaria de levantar a seguinte interrogação:  as festividades religiosas, em primeiro lugar, não são também uma expressão do desejo que os seres humanos têm de vencer as trevas com a luz, o mal com o bem, a mentira com a verdade e a morte com a vida? O mistério da vida, desde o momento da concepção, através de todas as fases depois do nascimento da criança, é acompanhado na tradição hindu por preces e acções rituais. Nós, cristãos, atribuímos um valor particular à vida humana, porque a Bíblia nos ensina que a pessoa humana é criada à imagem e semelhança de Deus. Esta dádiva concedida por Deus é selada pelo sangue que Cristo derramou por causa do seu amor por todos os seres humanos. Por isso, cada indivíduo é precioso aos olhos de Deus.

3. Nos nossos dias, a tecnologia realizou grandes progressos. A vida tornou-se, talvez, mais segura, simples e longa. Mas que respostas podemos dar às seguintes interrogações:  a tecnologia contribuiu, porventura, para melhorar a qualidade da vida humana? A tecnologia ajudou-nos, acaso, a valorizar a vida humana? Com o progresso da tecnologia, a vida parece ser, paradoxalmente, mais ameaçada do que antes. O Papa João Paulo II observa que "às antigas e dolorosas chagas da miséria, da fome, das epidemias, da violência e das guerras, vêm-se juntar outras com modalidades inéditas e dimensões inquietantes" (Evangelium vitae, 3). Depois, o Papa continua:  "Com as perspectivas abertas pelo progresso científico e tecnológico, nascem outras formas de atentados à dignidade do ser humano" (Ibid., n. 4). A ciência genética moderna tornou-se um instrumento nas mãos do homem. Ele pode usá-la ou abusar da mesma. Às vezes tentado a tornar-se um manipulador de vida ou até mesmo um agente de morte, o homem tem necessidade de voltar a descobrir o seu papel fundamental na criação, ou seja, que foi criado por Deus e que Ele é único Criador de tudo o que existe.

4. No passado mês de Janeiro, os representantes de várias religiões reuniram-se em Assis para rezar pela paz no mundo inteiro. No seu testemunho, a participante hindu descreveu esse encontro como um sinal da unidade da família, sob a paternidade de Deus (Vasudhaiva Kutumbakam). Embora os participantes pertencessem a diferentes tradições religiosas, formularam um compromisso conjunto em favor da promoção de cada existência singularmente e da vida na sua integridade. Gostaríamos de focalizar melhor a nossa atenção no segundo compromisso, que declara:  "Comprometemo-nos em educar as pessoas a respeitar-se e em amar-se reciprocamente, para favorecer a realização de uma convivência pacífica e solidária entre os indivíduos e os povos...". Através das nossas respectivas comunidades e instituições, poderíamos projectar uma abordagem da educação das pessoas, com vista a promover o respeito pela vida. Aqui, gostaria de recordar de modo particular os jovens, cujos corações são escandalizados e sofrem em virtude dos acontecimentos trágicos que eles viram com os seus próprios olhos. De forma especial, a educação dos jovens para o respeito da vida deve ser uma das nossas prioridades mais urgentes, de tal maneira que as convicções éticas mais fortes e a cultura da vida possam prevalecer entre si. Só na medida em que aquelas considerações éticas e religiosas prevalecerem na sociedade inteira, poderemos esperar que o princípio do respeito da vida será conservado nos comportamentos e nas leis da sociedade.

5. Dilectos amigos hindus, gostaria de concluir, compartilhando convosco a forte impressão que me fez o símbolo das lâmpadas acesas durante o Dia de Oração pela Paz, realizado em Assis no passado mês de Janeiro. Os representantes das diversas religiões conservavam as lâmpadas acesas nas suas mãos e, a seguir ao seu compromisso conjunto, colocaram-nas sobre um candelabro comum, desejando simbolizar a convergência das esperanças e dos esforços de paz. Finalmente, o Papa abençoou-os, dizendo:  "Caminhemos para o futuro, conservando alta a lâmpada da paz. O mundo tem necessidade de luz!".

Feliz festa do Diwali!

 

Francis Card. ARINZE
Presidente do Pontifício Conselho
 para o Diálogo Inter-Religioso

 

 

 

 

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