Queridos amigos hindus

1. Como pessoas que se colocam em busca do Absoluto, vós fareis um breve intervalo na vossa peregrinação espiritual, para celebrar com grande alegria a Deepavali, a vossa antiga festa religiosa, que para vós significa a vitória da verdade sobre e falsidade, da luz sobre a escuridão, do bem sobre o mal e da vida sobre a morte. Em nome do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, formulo aos hindus do mundo inteiro os votos de uma feliz festa do Diwali.

2. A realidade do amor está intimamente vinculada à verdade, à luz, à bondade e à vida. Gostaria de reflectir sobre este tema do amor, através do qual os fiéis das diversificadas religiões estão convidados a ultrapassar o mal do ódio e da desconfiança, presente na sociedade contemporânea.

Os recentes ataques terroristas em Mumbai, na Índia, constituem mais um exemplo de tais fenómenos, que com tanta frequência terminam na violência brutal. Estou persuadido de que, iluminada pela luz das nossas singulares tradições religiosas, a nossa decisão de convidar todos os fiéis a superarem o ódio com o amor beneficiará a sociedade em geral. A minha própria reflexão inspira-se na primeira Carta Encíclica de Sua Santidade o Papa Bento XVI, Deus caritas est (Deus é amor). O Papa escreveu esta Carta, convencido de que a sua mensagem é tanto oportuna quanto significativa, "num mundo em que, ao nome de Deus, se associa às vezes a vingança ou mesmo o dever do ódio e da violência" (n. 1).

3. A importância e a exigência do amor podem ser mais bem aprendidas de Deus que, como professa a fé cristã, é Ele mesmo Amor, e cujo Filho eterno, por amor a nós, encarnou na Pessoa de Jesus Cristo. Deus é a fonte e a plenitude de todo o amor. O nosso amor, de uns pelos outros, só se torna digno deste nome quando encontra a sua nascente em Deus e é alimentado através da nossa união com o próprio Deus. Por exemplo, a Beata (Madre) Teresa de Calcutá renovava constantemente o seu amor ao próximo e o seu serviço abnegado aos pobres, no seu encontro com Deus através da incessante oração quotidiana.

4. Deus ama-nos sem excepção e o seu amor é incondicional. A nossa resposta humana ao amor de Deus deve manifestar-se mediante o cuidado concreto da criação de Deus, especialmente dos seres humanos. É urgente e necessário que os fiéis das diferentes religiões anunciem conjuntamente ao mundo inteiro que o ódio pode ser vencido pelo amor. Nas complexas sociedades contemporâneas, não é porventura possível darmos as mãos uns aos outros e colaborar na promoção da justiça para todos, trabalhando em conjunto nos projectos de interesse comum, em prol do desenvolvimento dos deserdados, dos marginalizados, dos abandonados, dos órfãos e das pessoas mais frágeis? "Cada dia vamo-nos tornando conscientes de quanto se sofre no mundo, apesar dos grandes progressos em campo científico e técnico, por causa de uma miséria multiforme, tanto material como espiritual" (Deus caritas est, 30a). A pobreza moral e espiritual, que é causada pela alimentação do ódio no coração do homem, pode ser erradicada por fiéis repletos de amor e de misericórdia. O amor gera a confiança que, por sua vez, promove relacionamentos genuínos entre os crentes das diversas religiões.

5. Sua Santidade o Papa Bento XVI faz preceder a conclusão da sua Carta Deus caritas est, com as seguintes expressões: "O amor divino é a luz fundamentalmente, a única que ilumina de maneira incessante um mundo às escuras e nos dá a coragem de viver e agir" (n. 39). Obviamente, estas palavras do Papa referem-se a Jesus Cristo, que é a Luz do mundo. Não obstante, tais expressões podem também chamar a vossa atenção, uma vez que para vós o significado da festa do Diwali é simbolizado pela luz. Que o nosso amor finalmente derrote a escuridão do ódio no mundo! Meus estimados amigos hindus, formulo-vos os melhores votos de uma feliz festa do Diwali!

Card. PAUL POUPARD
Presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso