CONFERÊNCIA À IMPRENSA PARA A APRESENTAÇÃO Sala "João Paulo II", Sala de Imprensa da Santa Sé
Queridos amigos 1. Sinto-me muito feliz por me encontrar convosco para a apresentação da mensagem dirigida aos irmãos muçulmanos, por ocasião do fim do Ramadão, entre as actividades e as propostas do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, destinadas àqueles que pertencem às outras religiões, ou seja, a três quartos da população mundial. O Pontifício Conselho envia mensagens de bons votos aos seguidores de três das maiores religiões mundiais: os budistas, os hindus e os muçulmanos; no mês de Maio, pudemos enviar os bons votos aos budistas; aos hindus, cuja Festa do Diwali será celebrada amanhã, mandei as nossas felicitações sobre o seguinte tema: "Superar o ódio com o amor". Sua Ex.cia D. Celata, Secretário do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, apresentar-vos-á a mensagem destinada aos nossos amigos muçulmanos no fim do mês de jejum do Ramadão, para dar testemunho do nosso diálogo confiante na confirmação dos nossos valores conjuntos, em vista de enfrentar os desafios do mundo. Sucedem-se em visita à sede do Dicastério, que agora se transferiu para a Via della Conciliazione, n. 5, diversos chefes religiosos: xintoístas, sikhs, budistas, representantes de outras religiões orientais, e no mês passado uma delegação de muçulmanos do Kuwait. Estes encontros, com o recíproco intercâmbio de boa vontade, são retribuídos por parte do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, que mantém relacionamentos também com jainistas, taoístas, baha'is e com a variedade dos seguidores das religiões tradicionais. Acabaram de ser publicadas as Actas de um Diálogo realizado no ano passado, sobre: "Os recursos da paz nas religiões tradicionais". 2. O Magistério afirmou e escreveu muito sobre o diálogo inter-religioso. Uma colectânea de tais documentos foi realizada por Sua Ex.cia D. Francesco Gioia, e a sua primeira edição publicou-se em italiano em 1994; as versões em inglês e em francês, foram publicadas em 1997, pelo Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso. Este volume inclui o ensinamento oficial da Igreja Católica sobre o diálogo inter-religioso. Uma versão actualizada, de 1.776 páginas, que vai do Concílio Vaticano II ao Pontificado do Papa João Paulo II, acaba de ser publicada em três línguas italiano, inglês e francês. Este novo livro ser-vos-á apresentado por Mons. Machado, Subsecretário do Pontifício Conselho. 3. Enfim, entre as iniciativas em acto no Pontifício Conselho, gostaria de recordar o convite aos jovens, para participarem em Assis, de 4 a 8 de Novembro, nas celebrações para o 20º aniversário do Dia Mundial de Oração pela Paz, ocorrido em Assis no dia 27 de Outubro de 1986. O Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, em colaboração com o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, com os Frades do Sagrado Convento de Assis e com a Diocese de Assis, convidou cem jovens cinquenta cristãos e cinquenta pertencentes a diversas tradições religiosas, provenientes de vários países para se encontrarem em Assis para uma reflexão e um intercâmbio de ideias, na esperança de que tal encontro ajude os jovens a serem instrumentos de diálogo, de paz e de esperança para o mundo. Ressaltando a importância do diálogo entre pessoas de diferentes religiões e culturas, o Santo Padre Bento XVI desejou referir-se ao nosso próximo encontro de Assis: "Deste diálogo, temos mais necessidade do que nunca, especialmente em consideração pelas novas gerações" (Carta a Sua Ex.cia D. Domenico Sorrentino, 2 de Setembro de 2006). Prezados amigos, agradeço-vos tudo aquilo que, através das informações, realizais para fazer com que sejam conhecidos os relacionamentos positivos entre pessoas de diversas religiões e culturas no mundo. O Pontifício Conselho está sempre à vossa disposição para dar notícias a este propósito. É hora que Sua Ex.cia D. Celata vos apresente a mensagem enviada aos nossos amigos muçulmanos, por ocasião do fim do mês de jejum do Ramadão. *** 1. Pouco tempo depois do início da sua actividade, o Secretariado para os Não-Cristãos como então se chamava o Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso em 1967 sentiu a necessidade de dirigir aos muçulmanos do mundo inteiro, uma carta por ocasião do 'Id al-Fitr, que assinala o fim do Ramadão. Todos sabem que os muçulmanos costumam celebrar o encerramento deste mês de jejum e de particular compromisso na oração e nas obras de caridade, mediante iniciativas de festa que envolvem e revigoram os vínculos familiares e, em geral, os relacionamentos de amizade e a solidariedade social. Nessa época, parecia que esta festa representava um momento oportuno, para o Pontifício Conselho encarregado de favorecer os relacionamentos com as diferentes tradições religiosas, de se tornar presente junto das várias comunidades muçulmanas, expressando sentimentos de participação amistosa na sua alegria e também de bons votos. Esta iniciativa foi tomada com o desejo de alcançar as várias comunidades muçulmanas do mundo, confiando de um modo geral a mensagem aos bispos e aos responsáveis pelo diálogo inter-religioso, de maneira que eles mesmos a transmitissem aos destinatários. Assim, desejava-se oferecer também a oportunidade de começar ou de fortalecer as relações entre as comunidades católicas e muçulmanas. A partir de 1973, a mensagem era assinada pelo Presidente do Secretariado para os Não-Cristãos ou do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso. Uma excepção relevante teve lugar em 1991 quando, pouco tempo depois das destruições e dos sofrimentos causados pela guerra do Golfo, ela foi assinada pelo próprio Papa, o Servo de Deus João Paulo II. A um nível mais prático, pode ser útil saber que a mensagem é traduzida em cerca de vinte línguas, de maneira a poder alcançar, na medida mais ampla possível, todas as comunidades muçulmanas espalhadas pelo mundo. Durante todos estes anos, constatou-se um crescendo de estima, de atenção e de interesse em relação à mensagem. Foi gradualmente aumentando também o número de personalidades muçulmanas, que responderam para agradecer, comentar e retribuir os bons votos recebidos. Além disso, é particularmente significativo o apreço por parte dos bispos, alguns dos quais acompanham a transmissão da mensagem com uma sua carta pessoal. Quanto ao conteúdo, as mensagens não se limitam a expressões de bons votos formais, mas procuram estabelecer um "contacto", colocar-se em sintonia com os destinatários numa dimensão "religiosa", ou seja, tendo como fundamento aqueles elementos que levaram os Padres do Concílio Vaticano II a declarar "a estima da Igreja pelos muçulmanos", pois que eles "adoram o único Deus, vivo e subsistente, misericordioso e omnipotente, criador do céu e da terra...", "procuram com toda a alma submeter-se... a Deus... Esperam também o dia do Juízo... têm em consideração a vida moral e prestam culto a Deus, sobretudo com a oração, esmolas e jejum" (Nostra aetate, 3). Com este fundamento, de resto, as mensagens apresentam temas de interesse comum, não raro sugeridos pela actualidade, às vezes crítica, de maneira a promover uma reflexão destinada a favorecer uma melhor compreensão de determinados valores humanos fundamentais e uma contribuição das duas religiões para a solução de certas situações difíceis. A este propósito, são significativos os temas propostos nas mensagens dos anos passados: Paz; Amizade; Fraternidade Universal; Testemunho Conjunto; Fé Comum em Deus; Paz no Médio Oriente; Colaboração para o Bem Comum; Ano Santo Fraternidade; Submissão a Deus; Dignidade do Homem; Fé em Deus; Ano da Infância; Respeito pela Providência Divina; A Grande "Jihad"; Reconciliação; Valores Religiosos; Ano Internacional da Juventude; Ano Internacional da Paz; Oração pela Paz; Maria, Modelo dos Fiéis; Unidade da Família Humana; Solidariedade para com as Pessoas que Sofrem; Guerra do Golfo; Construir a Justiça e a Paz através do Diálogo Inter-Religioso; Reduzir as Tensões nas Sociedades Pluralistas; Cristãos e Muçulmanos: além da Tolerância; Cristãos e Muçulmanos: Crentes em Deus e Fiéis ao Homem; Cristãos e Muçulmanos: sob o Sinal da Esperança; Cristãos e Muçulmanos: Testemunhas do Amor de Deus e da sua Misericórdia; Jesus: Modelo e Mensagem para a Humanidade; Educar para o Diálogo: um Dever dos Cristãos e dos Muçulmanos; Promover os Valores Humanos numa era Tecnológica; Cristãos e Muçulmanos pelos Caminhos da Paz; Construir Hoje a Paz; Crianças: Dom de Deus para o Futuro da Humanidade; Continuando ao longo do Caminho do Diálogo. 2. A mensagem que hoje é apresentada e que se espera possa chegar aos destinatários antes do final do Ramadão, previsto por volta de 23 de Outubro, é assinada pela primeira vez por Sua Eminência o Senhor Cardeal Paul Poupard, na sua qualidade de Presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso. O texto deste ano tem como tema: "Cristãos e Muçulmanos: em diálogo confiante para enfrentar juntos os desafios do nosso mundo". A mensagem começa, transmitindo "as mais calorosas saudações de paz, tranquilidade e alegria" nos "corações", nos "lares" e nos "países" dos destinatários. Estes bons votos fazem ressoar os cumprimentos transmitidos pelo Santo Padre, no início do Ramadão, durante a Audiência concedida aos diplomatas provenientes dos países de maioria muçulmana, acreditados junto da Santa Sé, e aos representantes das comunidades muçulmanas presentes na Itália. Em seguida, recorda-se como é "bom poder compartilhar" este momento significativo do Iftar num contexto de diálogo que especifica-se "às vezes pode ser árduo", mas que quando é "autêntico" é "mais necessário do que nunca", como demonstraram as "particulares circunstâncias que recentemente pudemos experimentar em conjunto". 3. Ainda com base numa sensibilidade religiosa, a mensagem refere-se em seguida aos "sérios problemas" da nossa época: injustiça, pobreza, tensões e conflitos entre os vários países e também no interior deles mesmos, e além disso o "flagelo particularmente doloroso", representado pela violência e pelo terrorismo. Para podemos alcançar a solução desta "grave situação" nós, cristãos e muçulmanos, somos chamados a oferecer "a nossa contribuição específica": isto também em ordem à própria credibilidade do Cristianismo e do Islão, assim como dos respectivos responsáveis e fiéis, ainda mais porque ambas as religiões "atribuem grande importância ao amor, à compaixão e à solidariedade". 4. Neste contexto de reflexão manifesta-se o desejo de "compartilhar" com os muçulmanos a mensagem da Carta Encíclica de Sua Santidade Bento XVI, Deus caritas est (Deus é amor): "O amor genuíno a Deus é inseparável do amor ao próximo"; para ser credível, o amor deve ser em primeiro lugar concreto, traduzindo-se em "ajuda oferecida a todos", de maneira particular "aos mais necessitados"; além disso, deve colocar-se ao serviço da "busca de soluções justas e pacíficas para as sérias problemáticas" de hoje. Este compromisso dos fiéis tem como primeira e fundamental motivação o próprio amor a Deus, enquanto encontra na prática do jejum um estímulo que impele à atenção e à generosidade para com as pessoas que vivem em necessidade. Fiel à sua inspiração religiosa, e diante de problemas e dificuldades tão graves, a mensagem exorta a pedir a Deus, na oração, coragem e determinação e, ao mesmo tempo, a "trabalhar em conjunto", cristãos e muçulmanos, onde for possível. Diante de atitudes presentes sobretudo nas sociedades ocidentais de indiferença, de menosprezo, de crítica e por vezes de exclusão da dimensão religiosa, este convite à colaboração parece particularmente significativo: efectivamente, a mensagem salienta o facto de que "o mundo... tem necessidade de cristãos e de muçulmanos que se respeitem e se estimem uns aos outros, dando testemunho do seu amor recíproco e da sua cooperação, para a glória de Deus e para o bem da humanidade inteira".
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