Caros amigos hindus

1. Por ocasião da celebração do Diwali, o festival das luzes, é-me grato enviar-vos, bem como às vossas comunidades, os mais sentidos bons votos da parte do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso.

2. Nesta circunstância, é tradição compartilhar uma reflexão sobre um tema de interesse comum. Portanto, gostaria de propor a consideração conjunta do modo como podemos viver em harmonia na sociedade hodierna, dando testemunho da verdade, da luz e da esperança, celebradas pelo Diwali. Enquanto as religiões muitas vezes são acusadas de ser responsáveis pelos males da sociedade, nós sabemos que é sobretudo a instrumentalização da religião que, contrariamente às suas convicções fundamentais, é utilizada para realizar muitas formas de violência.

3. A este propósito, Sua Santidade o Papa Bento XVI disse:  "No mundo existe demasiada violência, demasiada injustiça, e portanto não se pode superar esta situação, a não ser que se lhe contraponha um acréscimo de amor, um acréscimo de bondade", e afirmou ainda que "este "acréscimo" provém de Deus:  é a sua misericórdia... a única que pode "inclinar" o mundo do mal para o bem, a partir daquele pequeno e decisivo "mundo", que é o coração do homem" (Alocução do Angelus de 18 de Fevereiro de 2007). Para os cristãos, no Sermão da Montanha Jesus exortou os seus discípulos a amar os seus inimigos, a rezar por aqueles que os odeiam, a fazer o bem àqueles que os maltratam e a percorrer uma milha a mais com aqueles que impedem o seu caminho (cf. Mt 5).

4. Na tradição hindu, a não-violência é um dos ensinamentos mais importantes. O Mahatma Gandhi, o pai da nação indiana, é respeitado e altamente considerado no mundo inteiro por pessoas de diversas gerações, em virtude da sua total dedicação ao serviço da humanidade. No decurso da sua luta pela liberdade ele deu-se conta de que, se aplicarmos o princípio "olho por olho", o mundo inteiro se torna cego. Durante toda a sua vida ele desenvolveu, entre outras coisas, o conceito de Ahimsa (a não-violência). Ele constitui um modelo de não-violência e foi um guia com o seu exemplo, a ponto de sacrificar a própria vida pela sua rejeição a comprometer-se na violência.

5. A não-violência não é apenas um expediente táctico, mas é a atitude daquele que, como o Papa disse, "está tão convicto do amor de Deus e do seu poder" (Ibidem), que não tem medo de enfrentar o mal somente com as armas do amor e da verdade. O amor pelos próprios inimigos é a revolução do amor, um amor que, fundamentalmente, não depende das capacidades do homem, mas constitui uma dádiva de Deus.

6. A não-violência é encorajada por muitas outras religiões. A não-violência é fulcral nos nossos credos, como uma forma de promover a verdade, a luz, o respeito recíproco, a liberdade e a harmonia. Como líderes religiosos, chamados a afirmar a verdade que se encontra nas nossas respectivas religiões, comprometamo-nos para encorajar a não-violência no meio dos nossos seguidores e para a sustentar nos seus gestos. Façamos tudo o que for possível para promover a sacralidade da vida humana, o bem dos pobres e dos mais frágeis no meio de nós e para colaborar, através do diálogo, a fim de que seja respeitada a dignidade de cada ser humano, sem distinções de raça ou casta, credo ou classe. Hindus e cristãos, sobretudo na presente situação, deixemo-nos vencer pelo amor sem reservas, com a convicção de que a não-violência é o único caminho para construir uma sociedade global mais compassiva, mais justa e mais atenta aos necessitados. Esta é a nossa esperança e a nossa oração!

7. Mais uma vez, formulo-vos votos de paz e de alegria, enquanto vos reunis com os vossos entes queridos e com a vossa comunidade para celebrar o dom da Luz que ilumina todos os corações. Feliz Diwali!

Cardeal Jean-Louis Tauran
Presidente

Arcebispo D. Pier Luigi Celata
Secretário