|
MENSAGEM DO CARDEAL ARINZE AOS BUSDISTAS POR OCASIÃO DA FESTA DO «VESAKH» 1998 Caros amigos Budistas 1. Por ocasião do Vesakh, que comemora alguns eventos importantes da vida de Buda, quereria apresentar- vos, na qualidade de Presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, os melhores votos dos católicos do mundo inteiro. 2. É-me grato constatar que o diálogo actual entre budistas e cristãos se distingue pelos esforços que visam o encontro a nível da experiência religiosa. Tanto o budismo como o cristianismo ressaltam, na sua prática da religião, a «dimensão contemplativa». Desde 1979, através do «Intercâmbio espiritual intermonástico » e do «Programa de hospitalidade monástica», budistas e cristãos, consagrados a uma vida contemplativa no quadro das suas respectivas disciplinas monásticas, têm-se empenhado em encontros onde o diá- logo em profundidade é possível. Este esforço é deveras louvável. 3. É a esperança duma vida nova que tem estado na base do nosso diálogo, ainda que tenhamos uma concepção diferente desta vida nova. Para nós cristãos, a vida nova é procurada e encontrada em Jesus Cristo. Jesus indicou o caminho, ao dizer: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida» (Jo 14, 6). Ele ensinou-nos não só a não nos empenharmos na vingança, mas também a combater o mal com o bem. Ele disse: «Ouvistes que foi dito: "Olho por olho, e dente por dente". Eu digo-vos: Não oponhais resistência ao mau; se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra» (Mt 5, 38-39). Isto faz-me pensar na interpretação que é dada pelo Venerável Maha Ghosananda a respeito de um dos ensinamentos de Buda: «Quando somos vítimas da injustiça, devemos deixar de lado todo o ressentimento e dizer-nos: "O meu espírito não deve ficar perturbado. Nenhuma palavra de cólera sair á dos meus lábios; continuarei conciliador e amigo, com pensamentos de amor e sem malícia secreta"». 4. A esperança livra-nos do desânimo. Ela permite-nos começar de novo, percebendo ao redor de nós numerosos «sinais de esperança»: a solidariedade crescente entre as pessoas do nosso tempo, em particular com os pobres e os desamparados, o desejo de justiça e de paz, o serviço voluntário, o retorno à busca de transcendência, a consciência da dignidade humana e dos direitos que daí derivam, a preocupação pelo ambiente, etc. Quereria mencionar aqui um particular sinal de esperança, que o Santo Padre sublinhou, nomeadamente o diálogo inter-religioso. 5. As pessoas animadas pela esperança são, ao mesmo tempo, realistas que não fecham os olhos à realidade com todos os seus aspectos positivos. Não podemos ignorar as crises dramáticas do nosso mundo: as guerras entre os diferentes países, as guerras civis, o terrorismo sob todas as suas formas, a injustiça que separa cada vez mais os ricos dos pobres, os famintos, os desabrigados, o desemprego ÂÂÂ especialmente entre os jovens, a globalização sem solidariedade, o peso da dívida externa, o problema da droga, a imoralidade, o aborto. E a lista poderia alongar-se. Todavia, é preciso manter sempre acesa a pequenina chama da esperança, que deve brilhar nos caminhos que levam a humanidade para um futuro melhor. 6. Nós, cristãos e budistas, empenhados nas nossas respectivas vias espirituais, podemos trabalhar juntos para dar mais esperança à humanidade. Mas, antes disto, devemos aceitar as nossas diferenças e mostrar, uns aos outros, um respeito recíproco e um amor verdadeiro. Isto tornar-nos-á mais críveis e assim mostraremos à humanidade um novo sinal de esperança, que se acrescenta aos que já existem. 7. É neste espírito que vos reitero, caros amigos budistas, os meus melhores votos pela festa do Vesakh. Francis Card. ARINZE Presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso |