DISCURSO DO SANTO PADRE AOS DIPLOMATAS ACREDITADOS JUNTO DA SANTA SÉ 10 de Janeiro de 2002 Excelências Senhoras e Senhores ... 3. ... Ninguém pode permanecer insensível à injustiça de que é vítima o povo palestino há mais de cinquenta anos. Ninguém pode contestar o direito do povo israelita a viver em segurança. Mas também ninguém pode esquecer as vítimas inocentes que, de uma e doutra parte, caem todos os dias sob os golpes e os disparos. As armas e os atentados cruéis nunca serão instrumentos adequados para fazer chegar mensagens políticas aos interlocutores. Mas a lógica da lei de talião também não é apropriada para preparar os caminhos da paz. Como declarei já muitas vezes, somente o respeito pelo outro e pelas suas legítimas aspirações, a aplicação do direito internacional, a evacuação dos territórios ocupados e um estatuto internacionalmente garantido para os lugares mais sagrados de Jerusalém são capazes de activar um processo de pacificação nesta parte do mundo, partindo a cadeia infernal do ódio e da vingança. Desejo que a comunidade internacional, através de meios pacíficos e apropriados, esteja em condições de desempenhar o seu papel insubstituível, sendo aceite por todas as partes em conflito. Os Israelitas e os Palestinos, uns contra os outros, não ganharão a guerra. Unidos uns aos outros, podem ganhar a paz. A luta legítima contra o terrorismo,de que os odiosos atentados de 11 de Setembro passado são a expressão mais pavorosa voltaram a dar a palavra às armas. Frente à bárbara agressão e aos massacres não se coloca somente a questão da legítima defesa, mas também a dos meios mais adaptados para irradicar o terrorismo, assim como a procura das causas que estão na origem de semelhantes acções e a das medidas a tomar para dar andamento a um processo de "purificação", para superar o medo e evitar que um mal se junte a outro mal, a violência à violência. ...É preciso ainda escutar a interrogação que nos chega do fundo do próprio coração deste abismo: o lugar e o uso da religião na vida dos homens e das sociedades. Desejo voltar a dizer aqui, diante de toda a comunidade internacional, que matar em nome de Deus é uma blafésmia e uma perversão da religião, e quero repetir esta manhã tudo o que escrevi na minha Mensagem de 1 de Janeiro: "É uma profanação da religião proclamar-se terrorista em nome de Deus, matar e cometer violência contra o homem em nome de Deus. A violência terrorista é contrária à fé em Deus Criador do homem, em Deus que cuida e ama o homem" (n. 7). 4. Frente a estas manifestações de violência irracional e injustificável, o grande perigo é que outras situações passem despercebidas e contribuam para fazer que povos inteiros sejam abandonados ao seu triste destino. ... 6. ... Abramos antes o coração e a inteligência aos grandes desafios que nos esperam: a defesa da sacralidade da vida humana em todas as situações, especialmente frente às manipulações genéticas; a promoção da família, célula fundamental da sociedade; a eliminação da pobreza, graças a esforços empreendidos em favor do desenvolvimento, da redução da dívida e da abertura do comércio internacional; o respeito pelos direitos do homem em todas as circunstâncias, com especial atenção pela categoria das pessoas mais vulneráveis: crianças, mulheres e refugiados; o desarmamento, a redução da venda de armamento aos países pobres e a consolidação da paz depois do fim dos conflitos; a luta contra as grandes doenças e o acesso dos mais pobres à assistência médica e medicinas de base; a salvaguarda do ambiente e a prevenção das catástrofes naturais; e a aplicação rigorosa do direito e das convenções internacionais. Certamente, poderão juntar-se muitas outras exigências. Mas se estas prioridades estivessem já no centro das preocupações dos responsáveis políticos, se os homens de boa vontade as pusessem em prática nos seus compromissos quotidianos, se os homens da religião as incluissem no seu ensinamento, o mundo seria radicalmente diferente. ... |