Estimados Concelebrantes
Irmãos e Irmãs no Senhor
O primeiro Santo que aprendi a conhecer foi Dom Bosco. Quando eu tinha quatro anos, frequentava o jardim-de-infância gerido pelas Irmãs Salesianas na minha cidade natal, na Ilha de Asti. A boa mestra escolar ensinava-nos a rezar e, no termo das orações quotidianas, depois de pedirmos a intercessão de Maria Auxiliadora, também nos fazia invocar sempre a intercessão de Dom Bosco. Um grande quadro do nosso Santo representava-o bondoso e risonho no meio de muitos jovens. A partir de então, há 70 anos, comecei a conhecer e a amar Dom Bosco.
1. Uma personalidade forte
Depois, durante a minha vida, pude ler muitas das suas biografias, conhecer a sua figura extraordinária e ver em muitas regiões do mundo os frutos das suas intuições pedagógicas e do seu zelo apostólico, sobretudo no meio dos jovens e dos trabalhadores.
Precisamente, nos últimos dias, comecei a ler uma grande obra de Dom Bosco, de recente publicação, escrita pelo benemérito Pietro Braido e intitulada Don Bosco prete dei giovani nel secolo della libertà Dom Bosco, sacerdote dos jovens no século da liberdade (LAS, Roma 2003).
Hoje, encontramo-nos aqui reunidos para dar graças ao Senhor por ter suscitado na sua Igreja esta grande personalidade de Apóstolo dos tempos modernos e por nos ter confiado à sua intercessão.
Todos vós conheceis bem a sua figura. Ele é um típico Santo das terras do Piemonte, que se formou num ambiente pobre e austero, pitoresco da Turim de Oitocentos. Todavia, superando inúmeras dificuldades, Dom Bosco soube criar obras maravilhosas ao serviço dos jovens e para a difusão do Reino de Deus no mundo.
A sua vida decorreu entre o ano de 1815, data do seu nascimento em Castelo Novo de Asti, e o de 1888, ano em que, num dia 31 de Janeiro como hoje, ele voltou para a Casa do Pai. Foram 73 anos de uma existência intensamente vivida, de uma vida santa. Não é por acaso que, hoje, nós o veneramos nos nossos altares, como Apóstolo dos tempos modernos.
2. Uma mensagem actual
Hoje, na festa do nosso Santo, foi de bom grado que vim presidir a esta Concelebração eucarística, com os beneméritos Padres Salesianos, e implorar do Senhor, por intercessão de São João Bosco, graças copiosas sobre todos os presentes.
Do exemplo de Dom Bosco, podemos tirar muitas mensagens: o seu amor à Igreja, a sua predilecção pelos jovens, a sua devoção filial a Nossa Senhora, invocada com o bonito título de "Auxílio dos Cristãos", Auxilium Christianorum, assim como o seu amor filial pelo Sumo Pontífice. E é precisamente sobre este aspecto da sua vida que, agora, gostaria de reflectir por um momento, juntamente convosco que trabalhais aqui no Vaticano, na casa do Papa.
3. Dom Bosco e Pio IX
O Papa com quem Dom Bosco teve a ocasião de tratar na maior parte da sua vida foi Pio IX, o Beato Pio IX, Papa precisamente de 1846 a 1878, num Pontificado que durou 32 anos!
Além disso, nos seus últimos dez anos de vida, Dom Bosco ainda teve contactos frequentes com Leão XIII que, em 1878, tinha sucedido ao saudoso Pio IX. Mas foi sobretudo com Pio IX que Dom Bosco teve numerosos encontros: com efeito, contam-se vinte audiências com Pio IX, além de centenas de cartas.
Com a sua estratégia apostólica voltada para os jovens e os trabalhadores, o humilde sacerdote de Valdocco suscitava a admiração do Papa. O Sumo Pontífice ficou impressionado com o facto de Dom Bosco ter começado o seu apostolado nas penitenciárias da "Generala" de Turim. Ficou também impressionado com o facto de que, no período em que os políticos se preocupavam com a formação da Itália, ele se preocupava em formar os italianos. A este propósito, a insistência de Dom Bosco era peculiar: formar bons cristãos para ter cidadãos honestos. Daqui derivou também a instituição das escolas profissionais. Não é por acaso que, um grande escritor como Piero Bargellini, tenha dado este título à sua biografia de Dom Bosco: O Santo do trabalho.
4. A fidelidade ao Papa
E Dom Bosco, por sua vez, esteve sempre muito próximo do Sumo Pontífice, embora na Turim daqueles anos existissem ambientes anticlericais e, entre os católicos, se levantassem debates acérrimos acerca do poder temporal dos Papas.
De Dom Bosco, é célebre a seguinte frase: "No que diz respeito à religião, eu estou com o Papa e disto me orgulho" (Memórias biográficas, XII, pág. 423).
Nessa época, muitos políticos do Ressurgimento italiano punham em dúvida a autoridade pontifícia, mas Dom Bosco respondia-lhes de modo inequívoco, como um dia disse a um ministro: "Vossa Excelência deve saber que, em todas as coisas, eu estou com o Papa" (Ibid., IX, pág. 483).
Este era o comportamento que ele exigia dos seus, com grande determinação, dizendo: "A palavra do Papa deve ser a nossa regra em tudo e para tudo" (Ibid., IX, pág. 494).
Revigorado por esta fidelidade ao Papa, Dom Bosco respondeu também à proposta que o Papa Leão XIII lhe fez quando, em 1880, pediu que edificasse a igreja do Sagrado Coração, em Castro Pretório. Tratava-se de um desejo do Papa e, embora já tivesse uma idade veneranda, Dom Bosco começou a estender a mão e a angariar fundos para a construção deste templo, que ainda nos dias de hoje é uma testemunha eloquente do seu zelo apostólico.
5. Uma visão de fé
O amor de Dom Bosco pelo Papa nascia de uma profunda visão de fé. E a sua insistência com os jovens é característica: "E não griteis: "Viva Pio IX!". Não bradeis: "Viva Leão XIII!" mas, pelo contrário, clamai: "Viva o Papa!"".
Já a partir de 1848, o jovem sacerdote deu um exemplo concreto do seu apego ao Papa. Dom Bosco era sacerdote havia sete anos, quando veio a saber que o Papa Pio IX teve de fugir de Roma para Gaeta, em virtude da proclamação da República Romana, e que ali o Papa se encontrava em sérias dificuldades económicas. Então, Dom Bosco angariou novos fundos entre os jovens do oratório e, em seguida, enviou-os ao Papa em Gaeta: tratava-se de um óbolo de 33 liras!
Depois, o Papa encarregou o seu Secretário de Estado, Cardeal Antonelli, da tarefa de agradecer a Dom Bosco este gesto muito concreto de solidariedade para com o Sucessor de Pedro (cf. Arnaldo Pedrini, Pio IX e Don Bosco, na Revista: "Pio IX", ano XXI, 43, pp. 435-450).
Estimados amigos, muitos de vós trabalhais na Tipografia do Vaticano. Por conseguinte, ficareis contentes se eu vos recordar com que alegria Dom Bosco comunciou ao Papa Pio IX, que tinha instalado em Turim a sua primeira tipografia. Numa missiva de 10 de Março de 1863, de Valdocco, Dom Bosco escrevia ao Papa: "Beatíssimo Padre... nesta casa foi instalada uma tipografia exclusivamente destinada a difundir livros católicos. Que Vossa Santidade se digne conceder a sua santa Bênção a fim de que Deus permita a continuação da tipografia... É um filho que abre o seu coração ao melhor e mais amável de todos os pais, a cujos pés julga como máxima ventura poder prostrar-se e invocar a santa Bênção para si mesmo, para os seus sacerdotes e os seus jovens. Com profundo afecto e respeito, seu filho Dom João Bosco" (Epistolário, LAS, Roma 1991, pp. 560-561).
6. Conclusão
Irmãos e Irmãs no Senhor, falei-vos acerca do amor que Dom Bosco nutria pelo Papa. Mas deveria recordar-vos também os outros dois grandes amores de Dom Bosco: a Eucaristia e Nossa Senhora. Porém, numa breve homilia não se podem apresentar todas as características da figura poliédrica do nosso Santo.
Contudo, do céu ele alegrar-se-á ao ver que, no dia de hoje, nós lembrámos um aspecto peculiar da sua existência, um aspecto que lhe estava muito a peito.
Do céu, São João Bosco interceda por nós, concedendo-nos a graça de um grande amor a Cristo e à sua santa Igreja, assim como de um profundo amor ao Papa, "o doce Cristo na terra"!
E assim seja!