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INTERVENÇÃO DA DELEGAÇÃO DA SANTA SÉ
NA XXXII CONFERÊNCIA GERAL DA UNESCO

3 de Outubro de 2003

 

Senhor Presidente
da Conferência Geral
Senhor Director-Geral
Excelências

Permiti que vos transmita, em primeiro lugar, as cordiais saudações de Sua Santidade o Papa João Paulo II, que segue com muita atenção os acontecimentos do mundo e os trabalhos da comunidade internacional, rejubilando com a reflexão que é feita sobre o futuro da humanidade pelos Responsáveis das Nações e pelos seus representantes nas Organizações internacionais. O mundo actual é portador de grandes esperanças mas também de interrogativos preocupantes. A mundialização dos diferentes sectores da actividade pode originar uma melhoria para as populações dos países menos favorecidos, mas pode também torná-los mais frágeis e mais dependentes dos países ricos, hipotecando gravemente o seu progresso. Para dar o contributo da Santa Sé a esta Conferência geral, permiti que eu recorde três pontos que me parecem fundamentais e sobre os quais os diferentes parceiros da sociedade civil são chamados a trabalhar, numa colaboração cada vez mais estreita.

Em primeiro lugar, o respeito devido a cada ser humano. Este é o elemento central da construção de qualquer tipo de sociedade. Numerosas questões éticas e bioéticas estão actualmente em debate: os diferentes aspectos da clonagem, sobretudo a clonagem terapêutica, os vínculos conjugais entre homens e mulheres, a família, as relações económicas entre países e continentes. A Santa Sé deseja recordar que qualquer reflexão deve ter o homem como ponto central, a dignidade inalienável do seu ser biológico e espiritual, o carácter sagrado da sua vida, o valor do bem conjugal e familiar. É evidente que se se torna abstracto o valor primário do homem, as decisões tomadas só poderão ser contrárias ao homem e à humanidade. Não considerar o vínculo conjugal, que é o laço primário da célula básica da sociedade, leva inevitavelmente à caducidade os diferentes vínculos sociais. Não reconhecer o carácter sagrado da vida leva inexoravelmente a fazer do homem e do seu património genético um simples material de experimentação, que pode ser aproveitado por ideologias com intenções destruidoras. É preciso sobretudo afirmar que as terapias genéticas que usam as células-originárias embrionárias são destruidoras de seres humanos frágeis e fazem com que a humanidade corra graves riscos. A frase muito conhecida O fim não justifica os meios recorda-nos largamente que qualquer esforço ético deve associar numa reflexão as finalidades de um procedimento e os meios para o obter. Ao mesmo tempo, é importante ajudar os cientistas e os pesquisadores a encontrar caminhos dignos do homem.

A educação é também um aspecto importante para o futuro da sociedade, à qual seria bom dedicar grande atenção. Não se trata apenas do ensino, do qual ela não saberia, sem dúvida, negar a importância, porque contribui amplamente para o progresso das pessoas e para a sua integração na sociedade, assim como para o progresso dos povos. É importante situar a formação cultural e profissional num âmbito mais vasto de uma educação integral da pessoa, para o pleno desenvolvimento de todos os seres humanos, para a sua vida pessoal e para o seu lugar de cidadão no mundo. Nesta perspectiva, cada sociedade deve prestar atenção ao aspecto espiritual e moral, revalorizando o elemento transcendental, como realça a relação da Comissão internacional sobre a educação de 1996, A educação, esconde em si um tesouro. A referência religiosa na formação cultural, e mais ainda a abertura à transcendência e a liberdade conferida à vida e à prática religiosa, são aspectos que permitem a cada ser, e principalmente aos jovens, basear a sua existência em valores que não são absolutamente materialistas, e impedir os numerosos fenómenos de violência, dos quais todos somos testemunhas. É preciso afirmar que a vida espiritual é fundamental para todo o ser humano. Neste âmbito, o direito das famílias e o seu estatuto próprio devem ser respeitados, pois os pais, primeiros educadores dos seus filhos, são chamados a transmitir-lhes o seu património cultural e espiritual, e a orientar os jovens para a dimensão transcendental da existência. Por conseguinte, compreendeis que a questão religiosa em sentido amplo não pode limitar-se simplesmente ao âmbito privado, porque ela influi sobre o futuro do homem, da sociedade com os seus valores e os seus comportamentos éticos.

Na vida internacional, dedicamos especial atenção à questão da paz, sem a qual não é possível construir uma ordem mundial respeitosa do homem. As tensões e os conflitos em todos os continentes não cessam de causar vítimas. Os planos de paz são continuamente postos em dúvida e não alcançam soluções concretas. As tentativas de edificar sociedades mais democráticas levam, por vezes, à evicção, e até mesmo à morte, dos seus promotores. A pobreza, as doenças endémicas e a violência são outras questões que interpelam a comunidade internacional e sobre as quais seria bom reflectir incessantemente, para encontrar soluções adequadas que permitam que os nossos contemporâneos tenham um futuro melhor e, desta forma, também esperança. Compete à comunidade internacional comprometer-se cada vez mais na edificação da paz, que é sem dúvida um dos maiores desafios do século que começa. Ela deve também fazer sempre tudo o que está ao seu alcance para que todos os povos possam ter uma terra e uma autonomia existencial e comportamental nos assuntos internos, e que os habitantes de uma nação sejam os primeiros beneficiários das riquezas que o país possui. Não se poderá estabelecer a paz civil e social num território, enquanto os numerosos interesses estrangeiros impedirem que os habitantes do país participem no progresso local e beneficiem indubitavelmente do bem do próximo. Para confiar a terra nas mãos de quantos nela vivem, compete à Comunidade internacional, aos Responsáveis das nações e aos Organismos internacionais, no respeito das regras internacionais, comprometerem-se cada vez mais na formação integral dos autóctones, para que sejam capazes de assumir o destino do seu país. Trata-se de uma ética da solidariedade, à qual ninguém se pode subtrair.

No final desta intervenção, gostaria de manifestar a minha alegria e a da Santa Sé pelo ingresso de Timor Leste nesta Sede e por ver os Estados Unidos da América de novo no seio da UNESCO, como delegação de pleno direito. Os nossos trabalhos serão beneficiados em grande medida, e os Estados Unidos deles tirarão também vantagens.

Agradeço a todos a amável atenção.

 

 

 

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