Senhor Cardeal

O Dia da Universidade Católica oferece todos os anos a ocasião para transmitir à grande família do Ateneu uma especial saudação por parte do Santo Padre, juntamente com a expressão do seu apreço pelo compromisso constante, em vista do crescimento cultural, humano e espiritual das novas gerações. Quando, há 80 anos, o Papa Pio XI, de veneranda memória, autorizou o Instituto "Giuseppe Toniolo" de Estudos Superiores a promover este Dia especial, desejou exortar os católicos italianos a contribuir para o crescimento da sua Universidade que, fundada e orientada pelo mesmo Instituto, devia desenvolver a cultura e as ciências à luz da mensagem evangélica.
Dirigindo-me a Vossa Eminência, que há pouco assumiu a presidência do Instituto "Giuseppe Toniolo", não posso deixar de recordar que o Servo de Deus João Baptista Montini, seu predecessor também nesta função, confirmou com grande clareza o papel fundamental a desempenhar pelo Instituto, como depositário da confiança da Santa Sé, que dele espera uma eficaz acção de garantia e de controle das matérias da Universidade.

O tema "Os jovens e a universidade, protagonistas de um mundo novo" corresponde à solicitude especial de Sua Santidade João Paulo II pelos jovens e, de modo particular, pelos estudantes universitários. Ele sempre teve profunda confiança nos jovens, enquanto os anima a enfrentar os desafios do seu tempo e afirma que os considera como "uma dádiva do Espírito de Deus" para a Igreja, e que se sente como que "surpreendido" pelo seu profundo anseio por aqueles valores autênticos que têm em Cristo a sua plenitude (cf. Carta Apostólica Novo millennio ineunte, 9).
São numerosos os jovens que vivem a experiência universitária, graças à qual podem ampliar os seus horizontes, apaixonar-se pela investigação científica e aprofundar a reflexão sobre os vários aspectos das complicadas vicissitudes humanas. É de importância fundamental que os jovens estejam conscientes de que fazem parte de um mundo herdado das gerações precedentes, mas que exige de cada um deles a contribuição criativa de uma personalidade amadurecida, o compromisso da investigação séria e a capacidade de sínteses originais.

Os jovens universistários "devem estar conscientes da seriedade da sua profissão, sentindo a alegria de ser os líderes qualificados do futuro, testemunhas de Cristo nos lugares em que hão-de desempenhar a sua tarefa" (Constituição Apostólica Ex corde Ecclesiae, 23). Hoje em dia, estes "lugares" abarcam o mundo inteiro, destinado a tornar-se uma família de povos co-responsáveis pelo bem comum universal. Neste sentido, um papel específico deve ser desempenhado também pela Itália e, ainda mais, pela Europa, que se está a preparar para "se alargar" a Leste; nisto, as Universidades católicas são chamadas a favorecer a integração cultural e científica, no reconhecimento das raízes religiosas, históricas e sociais de todos.

Hoje em dia, sente-se a necessidade de investir novamente no estudo, na pesquisa e no aprofundamento cultural, para promover a qualidade espiritual e ética da humanidade. Neste sentido, também a dimensão religiosa do homem oferece uma contribuição indispensável, capaz de conferir unidade à investigação especulativa, a partir da reflexão sobre o sentido da vida e da história.

A universidade oferece instrumentos e percursos para que esta dimensão essencial da vida se ponha em diálogo respeitoso e fecundo com a razão e com a história do homem. A Universidade católica apresenta-se sobretudo como um laboratório especializado, como nascente de inspiração e espaço de diálogo para todos os jovens que desejam pôr a sua própria consciência cristã ao serviço da comunidade, comprometendo-se num itinerário formativo exigente.

Por este motivo, na universidade é necessária a presença de professores que saibam dialogar com os estudantes, para valorizar a sua contribuição e, juntamente com eles, elaborar projectos praticáveis.

Nestes anos, os jovens foram obrigados a transformar o desemprego em precariedade, adaptando-se talvez a muitas formas de exploração, mas demonstrando capacidades escondidas e inventando possibilidades inéditas de emprego dos seus dotes de inteligência e de intuição. Pede-se que os adultos saibam orientar estas experiências, transmitir aos jovens a confiança e as sugestões necessárias para empreender trabalhos nos quais fazer fecundar os estudos por eles completados. Os jovens que sonham mundos novos devem ser acompanhados por adultos que os hão-de ajudar a tornar concretos os ideais:  a universidade constitui um dos lugares mais fecundos para este intercâmbio.

A Universidade católica tem uma rica história no campo da formação e ofereceu sempre recursos intelectuais, capazes de contribuir para a elaboração de uma visão cristã da convivência social na Itália. Por conseguinte, Sua Santidade formula votos a fim de que o 80º Dia da Universidade Católica seja a ocasião propícia para renovar o compromisso em benefício das jovens gerações, oferecendo-lhes a maravilhosa possibilidade de estudar e de elaborar o património cultural à luz da verdade revelada por Cristo, Redentor do homem. Esta é a contribuição específica do Ateneu para a construção da civilização do amor e da paz.

Ao apresentar-lhe estas reflexões, sinto-me feliz por assegurar a oração singular do Sumo Pontífice que, invocando a intercessão de Maria Santíssima, Sedes Sapientiae, concede do íntimo do coração uma especial Bênção Apostólica a Vossa Eminência, aos membros do Instituto "Giuseppe Toniolo", ao Senhor Reitor da Universidade Católica do Sagrado Coração, ao Corpo Académico, aos Estudantes e a quantos colaboram para os projectos promovidos pelo Ateneu.

Enquanto lhe transmito, juntamente com a presente mensagem, o dom que também no corrente ano o Sumo Pontífice desejou oferecer como renovada expressão da sua solicitude especial por esta Instituição académica, aproveito este ensejo para confirmar os sentimentos de distinto obséquio
de Vossa Eminência Reverendíssima devotíssimo no Senhor.

Card. Angelo SODANO