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SECRETARIA DE ESTADO

INTERVENÇÃO DA SANTA SÉ
NO SEMINÁRIO DOS PAÍSES SIGNATÁRIOS
DA CONVENÇÃO CULTURAL EUROPEIA
REALIZADA EM CRACÓVIA-AUSCHWITZ

DISCURSO DE D. MICHAEL MILLER

4 de Maio de 2005

Senhor Presidente

Gostaria de começar, manifestando a gratidão da Delegação da Santa Sé às autoridades polacas por terem organizado esta oportuna Conferência, bem como pela amabilidade que nos demonstraram nesta histórica cidade de Cracóvia e na prestigiosa Universidade Jagelónica, coração cultural da Nação polaca.

1. Estamos aqui reunidos para comemorar o sexagésimo aniversário da libertação do campo de concentração de Auschwitz. No passado mês de Janeiro, na sua mensagem para essa circunstância, o Papa João Paulo II afirmou: "A ninguém é lícito, diante da tragédia do Shoah, ignorá-la. Aquela tentativa de destruir de maneira programada um povo inteiro estende-se como uma sombra sobre a Europa e sobre todo o mundo; é um crime que ameaça para sempre a história da humanidade" (Mensagem de 15 de Janeiro de 2005).

Um programa de ódio como este deve servir-nos, tanto no presente como também no futuro, de exortação para jamais cedermos a ideologias que, de alguma forma, justificam o desprezo pela dignidade humana, tendo como fundamento a raça, a cor, a língua ou a religião. No dia de hoje estamos a recordar aquele sofrimento, com a finalidade de honrar os mortos, reconhecer uma realidade histórica e, acima de tudo, assegurar que aqueles acontecimentos terríveis sirvam de admoestação a todos os homens e mulheres, a uma maior responsabilidade pela nossa história comum.

2. Em vários países europeus, muitas instituições educativas católicas quiseram participar na celebração do "Dia da memória e da prevenção dos crimes contra a humanidade", assim como noutras iniciativas análogas. Tais empreendimentos no âmbito das escolas e de outros centros de ensino contribuem para manter viva a lembrança daqueles acontecimentos trágicos, oferecendo deste modo renovadas oportunidades para a reflexão e para um exame individual.

A lembrança destes horrores inauditos leva-nos a recordar os exemplos heróicos do compromisso em prol do bem e da generosidade, que também acompanhou tal perseguição. Numerosas pessoas sofreram com dignidade, manifestando amor pelos seus companheiros de prisão e até mesmo pelos seus algozes. Um testemunho de valor espiritual tão excelso não pode deixar de despertar as consciências, a fim de que todos sejam inspirados a trabalhar pela paz.

3. A memória desempenha um papel necessário no processo de formação de um futuro em que as iniquidades passadas, de uma calamidade tão tremenda, jamais se repitam. Este aniversário exorta todos os homens e todas as mulheres de boa vontade a assumir a responsabilidade moral em vista de garantir que nunca mais o egoísmo e o ódio se possam desenvolver, a ponto de semearem tantos sofrimentos e mortes.

4. A Santa Sé está grata pelo compromisso no diálogo e na prevenção dos conflitos e dos crimes contra a humanidade. Mediante este compromisso, o ensinamento da memória através da herança cultural de uma determinada nação há-de tornar-se um instrumento cada vez mais útil para tirar lições do passado e para salvaguardar a dignidade humana. A Santa Sé acompanha também com grande interesse os programas do Conselho da Europa. Tais projectos manifestam um esforço comum em vista de contribuir, através da educação e da cultura, para a edificação de uma Europa mais unida e democrática, respeitadora da diversidade e também consciente do seu fundamento espiritual.

 

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