DISCURSO DO CARDEAL LOZANO BARRAGÁN
NA 58ª ASSEMBLEIA MUNDIAL
DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE

Genebra, 18 de Maio de 2005

Senhor Presidente

É com prazer que transmito a esta Organização Mundial da Saúde as saudações cordiais do novo Papa, Bento XVI. Sua Santidade manifestou a sua grande preocupação pelos problemas da saúde no mundo, e oferece todo o seu apoio e ajuda ao esforço mundial para a consecução da saúde para todos, especialmente a saúde para os mais desprotegidos, privilegiando os temas que agora nos preocupam, em particular a saúde materna infantil.

Infelizmente as enfermidades, sobretudo as infecciosas, apresentam-se mais virulentas nos países mais pobres, que devido à sua pobreza não têm recursos para poder obter os remédios que, graças ao actual progresso técnico, facilmente poderiam ser curadas. De facto, cada ano as enfermidades infecciosas são responsáveis pela morte de 17 milhões de pessoas, das quais 90% vivem nos países em vias de desenvolvimento. Por exemplo, 95% de enfermos de Sida não têm dinheiro para pagar os antiretrovirais. Actualmente não se encontram nem sequer no mercado de alguns destes países os remédios para curar as chamadas "enfermidades dos pobres", como por exemplo a tuberculose, o paludismo, a varíola, a enfermidade hemorrágica, a leishmaniasis, algumas formas de meningite, a enfermidade do sono, etc. Nos finais do século XX, de 1223 novos remédios introduzidos no mercado entre 1975 e 1997, em 22 anos, só 13 se destinam ao tratamento de enfermidades infecciosas tropicais. O pressuposto total para remédios no mundo calcula-se entre 50 e 60 biliões de dólares (E.U.A.) por ano, e deste pressuposto só 0,2% se destina a enfermidades respiratórias, tuberculoses e enfermidades diarreicas: calcula-se que estas enfermidades sejam a causa de 18% das mortes no mundo ¹.

Juntamente com estes problemas de saúde, referindo-nos em especial à saúde materna-infantil, é terrível verificar que dos 211 milhões de novos seres humanos que são concebidos, se verificam 46 milhões de abortos induzidos, 32 milhões de mortes prematuras ou no momento do nascimento e só 133 milhões conseguem nascer e viver ².

Senhor Presidente, conscientes na Santa Sé destas problemáticas e de outras semelhantes, o Papa João Paulo II estabeleceu uma Fundação, cujo nome é "O Bom Samaritano", para ajudar os enfermos mais necessitados do mundo. O novo Papa, Bento XVI, ratificou essa Fundação. O seu objectivo inicial concretizou-se comprando remédios para os mais necessitados, e actualmente já prestamos ajuda a enfermos de 11 países da África, um da Ásia e outro da América. No mundo, 26,7% dos Centros de assistência aos enfermos de Vih/Sida pertencem à Igreja Católica.

Desejamos assim cooperar de alguma maneira no grande trabalho que a OMS desempenha e contribuir com os nossos esforços para ajudar neste campo da saúde, especialmente os mais pobres e necessitados.

Notas

1 Cf. "Médecins sans frontière" www.accesmed-sf-org.