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SECRETARIA DE ESTADO

CONFERÊNCIA INTERNACIONAL PROMOVIDA
PELA ORGANIZAÇÃO PARA A SEGURANÇA
E A COOPERAÇÃO NA EUROPA (OSCE)

«ANTI-SEMITISMO E OUTRAS FORMAS DE INTOLERÂNCIA»

DISCURSO DE D. ANTÓNIO CAÑIZARES
NA SESSÃO DE ABERTURA

Córdova, 8 de Junho de 2005

Senhor Presidente!

A delegação da Santa Sé deseja congratular-se com o Governo espanhol pelo grande interesse com o qual organizou esta Conferência, juntamente com a presidência eslovena.

1. Na emblemática cidade de Córdova, a OSCE vive uma nova e importante etapa do seu compromisso contra o anti-semitismo e outras formas de intolerância, que no ano passado teve como momentos de realce as Conferências de Berlim, Bruxelas e, sucessivamente, a instituição de 3 Representantes Pessoais do Presidente de turno.

A Santa Sé apoia este caminho, apreciando o desejo de actuar concretamente as actividades até agora empreendidas e as decisões adoptadas para promover a dignidade da pessoa humana.

2. A história mostrou, também recentemente, as trágicas consequências que são originadas quando se nega ou se reduz essa dignidade a uma proclamação meramente formal, enquanto se praticam medidas totalmente contrárias aos direitos humanos, que nela têm o seu fundamento e o seu fim.
Como recordou o Papa João Paulo II no sexagésimo aniversário da libertação dos presos do campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, aquela intenção de destruir sistematicamente todo um povo expande-se como uma sombra sobre a Europa e sobre o mundo inteiro; um crime que mancha para sempre a história da humanidade.

A enorme tragédia do holocausto é também uma dramática chamada a educar, sobretudo as jovens gerações, para que não cedam às ideologias que justificam a possibilidade de violar a dignidade humana baseando-se na diversidade étnica, linguística, nacional ou religiosa.

A Igreja Católica declarou solenemente o Concílio Vaticano II deplora todas as manifestações de anti-semitismo de que foram objecto os Judeus de todos os tempos da parte de qualquer pessoa (cf. Nostra aetate, 4), condena a discriminação e adverte para que se evite também a intolerância, que quase sempre se transforma em limite dos direitos e liberdades, e que pode chegar inclusivamente à marginalização e à opressão da pessoa humana e das comunidades às quais pertence.

A Santa Sé deseja também que o diálogo inter-religioso favoreça e promova a tolerância, o reconhecimento recíproco e, por conseguinte, uma coexistência entre os Povos que seja factor de paz. Precisamente porque deseja isto, recusa subordinar esse diálogo a uma finalidade meramente pragmática e política. De facto, isto degrada tanto Deus como o próprio homem, "mortifica" a tolerância em vez de a promover, porque a avalia com o parâmetro precário e mutável dos equilíbrios políticos, em vez de a confrontar com a medida segura da verdade e da dignidade humana.

Senhor Presidente!

3. A eficiência da acção da OSCE contra a discriminação e a intolerância depende em grande medida da credibilidade do mencionado compromisso e, por isso, também do seu carácter "inclusivo" e coerente com a reflexão e com o caminho até agora percorrido.

Por isso, a delegação da Santa Sé deseja realçar mais uma vez que, a área geográfica que esta organização inclui, a intolerância e a discriminação contra os cristãos e os membros das outras religiões são fenómenos preocupantes, aos que é necessário pôr fim com a mesma determinação com a qual se combate o anti-semitismo e a discriminação dos muçulmanos. De facto, seria paradoxal omitir medidas concretas para garantir aos cristãos e aos membros das outras religiões a liberdade religiosa sem qualquer forma de discriminação nem intolerância, precisamente quando num plano geral se trata de eliminar a discriminação e a intolerância.

Além disso, é preciso evitar que se faça do anti-semitismo, das discriminações dos muçulmanos ou dos cristãos uma espécie de hierarquia. Cada uma destas "chagas" faz com que o homem "se feche", degrada-o e, por isso, deve ser "curada" rapidamente. A fim de evitar eventuais reticências ou uma injustificada selectividade nas realizações por parte dos Estados-membro, é preciso garantir um equilíbrio correcto entre os compromissos adoptados por eles mesmos, na perspectiva das três orientações acima recordadas.

Por conseguinte, a Santa Sé deseja que a Conferência de Córdova seja uma ocasião propícia para que a OSCE se comprometa em estabelecer instrumentos e mecanismos eficazes para combater e contrastar preconceitos e falsas representações dos cristãos pelos membros das outras religiões nos mass media e no âmbito dos processos educativos, e estimule à contribuição concreta das Igrejas e das comunidades religiosas para a vida pública dos Países.

A Santa Sé continuará a colaborar com a OSCE para que o seu compromisso contra o anti-semitismo e outras formas de intolerância, também em matéria religiosa, tutele e promova a dignidade humana, que está no centro das grandes causas promovidas por esta Organização.

Obrigado, Senhor Presidente.

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