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SECRETARIA DE ESTADO

INTERVENÇÃO DA SANTA SÉ NA 60ª SESSÃO
DA ASSEMBLEIA GERAL DA ORGANIZAÇÃO
DAS NAÇÕES UNIDAS
SOBRE O TEMA
"APÓS O ANO INTERNACIONAL DAS PESSOAS IDOSAS"

DISCURSO DE D. CELESTINO MIGLIORE

Nova York, 4 de Outubro de 2005

 

Senhor Presidente

Há três anos, em Madrid, a Santa Sé descrevia as pessoas idosas como "os guardiães da memória colectiva, tutores dos relacionamentos entre as gerações e transmissores dos valores autênticos que definiram a sua existência". No entanto, temos o dever de recordar que estes nobres sentimentos permanecerão palavras vazias, se nos lembrarmos das pessoas idosas somente quando temos necessidade delas. O facto de hoje em dia as pessoas viverem mais longamente exige uma reconsideração do papel das pessoas idosas na sociedade contemporânea e no processo de desenvolvimento. Por conseguinte, seria bom criar uma vasta gama de oportunidades para utilizar as potencialidades, as experiências e as capacidades de tais pessoas. Esta abordagem e atitude torná-los-á capazes de permanecer vinculados à sociedade e de continuar a desempenhar um papel no mundo, tanto a nível de voluntariado como de trabalho. Além disso, e talvez de forma ainda mais importante, construir um lugar para as pessoas idosas, a começar pelo apreço simples e contínuo da sua presença por parte das respectivas famílias, contribuirá para evitar a sua estigmatização e exclusão.

Em muitas sociedades, são os idosos de modo particular as mulheres que cuidam dos indivíduos dependentes e enfermos. Em tal contexto, é importante que a disponibilidade e o acesso aos cuidados médicos essenciais sejam integrados no âmbito de um processo mais amplo de desenvolvimento, com atenção às necessidades médicas específicas e a uma alimentação adequada. Tais processos podem incluir uma rede segura de protecção, onde as aposentadorias e outros esquemas resultam inadequados.

Embora seja verdade que a protecção social dos idosos constitui uma das principais responsabilidades dos governos e das instituições privadas, a Santa Sé confirma o importante papel que também a família desempenha para a sua segurança completa, assim como para a sua saúde mental, física e espiritual.

Por sua vez, a Santa Sé oferece o seu apoio às pessoas idosas através de diversos programas de assistência. Actualmente, as agências e organizações católicas em todos os continentes cuidam dos idosos em mais de 13.000 sedes, incluindo mais de 500 centros na África, 3.000 nas Américas e 1.400 na Ásia.

Senhor Presidente

Não obstante os programas de segurança social e os benefícios médicos sejam essenciais, a minha Delegação observa neste contexto como são importantes a compaixão, o amor, o respeito, o apreço e a predilecção pelas pessoas idosas. Encorajamos os governos  a ensinar nas escolas estes valores de respeito pelos idosos, membros da sociedade civil, a colocá-los em prática em casa e a promovê-los incessantemente através dos meios de comunicação.

Os serviços de assistência social constituem uma extensão do dever comum de ajudar os membros mais idosos das famílias, que são esquecidos, a fim de reduzir o impacto da migração e da fragmentação das famílias, fenómenos estes que são provocados pela globalização. Nos países de baixa renda, onde as formas de emprego informal e a pobreza coexistem, muitas vezes as condições alimentares dos idosos são arriscadas, em virtude da própria pobreza, da responsabilidade pela assistência devida aos netos, da vida solitária e de uma vasta gama de impedimentos relacionados com a idade avançada. Uma aposentadoria social básica e a protecção dos direitos da aposentadoria são importantes maneiras de alcançar e ajudar as pessoas mais anciãs.

A projecção da transição demográfica demonstra que até 2050 haverá um aumento dramático do número de pessoas idosas, em que se pode observar a passagem de um regime de forte fertilidade e de alta mortalidade para uma baixa taxa de crescimento demográfico, tanto em países desenvolvidos como em nações em vias de desenvolvimento. Em conformidade com as estatísticas, hoje existe mais de seiscentos milhões de pessoas com mais de 60 anos de idade, enquanto se calcula que até 2050 este número será mais do que triplicado. Calcula-se ainda que até 2030, 71% desta população de idosos viverá nos países em vias de desenvolvimento, e que de 12 a 16% deles viverá nas nações mais desenvolvidas.

Estas tendências ensinam-nos duas coisas:  primeiro, que cada país deve tornar-se e permanecer como se afirmou oportunamente no Encontro de Madrid, realizado em 2002 "uma sociedade para todas as idades"; e segundo, que seria aconselhável uma maior precaução, quando as políticas fiscais e internacionais entram no campo da engenharia humana.

Obrigado, Senhor Presidente!

 

 

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