The Holy See
back up
Search
riga

INTERVENÇÃO DA SANTA SÉ
NA XXVIII CONFERÊNCIA REGIONAL DA FAO
PARA O PRÓXIMO ORIENTE

DISCURSO DO REV.MO MONS. RENATO VOLANTE

Sana (República do Iêmen) 12-16 de Março de 2006

 

 

Senhor Presidente

1. Em primeiro lugar, desejo agradecer-lhe a oportunidade que me ofereceu de me dirigir à presente assembleia, e quero também congratular-me com Vossa Excelência pela sua nomeação. De modo particular, gostaria de manifestar ao Governo iemenita o meu agradecimento pela amabilidade com que desejou hospedar esta Conferência, chamada a intensificar a resposta aos desafios do desenvolvimento no Próximo Oriente, sobretudo nos campos do progresso rural e da produção alimentar.

Como sabeis, a Santa Sé é particularmente sensível ao problema do combate à pobreza, à fome e à subalimentação. Ela torna-se disponível com a sua contribuição na consulta e na acção, mas também encoraja os países-membro da região e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura a cumprirem a tarefa de garantir as necessidades fundamentais das populações.

Com efeito, o compromisso da Comunidade internacional na obtenção das chamadas Finalidades de Desenvolvimento do Milénio exorta a presente assembleia a propor linhas directrizes específicas, em ordem a garantir um desenvolvimento agrícola eficaz e consistente nos diversos países da região do Próximo Oriente. Isto só pode ser levado a cabo de maneira concreta, através da realização de um objectivo específico, ou seja, da apropriada segurança alimentar.

2. A este propósito, a Delegação da Santa Sé sugere alguns pontos de reflexão, que possam servir de ajuda para tomar decisões políticas adequadas e seleccionar acções concretas em vista de corresponder às necessidades contemporâneas.

Entre as causas da carência de um desenvolvimento agrícola, observamos o facto de que coube à FAO "constituir" o conceito de insegurança alimentar, levando-o gradualmente a evoluir de uma simples consideração de ordem técnica, ou seja, relativa à disponibilidade de alimentos armazenados, para uma situação que chega a negar um direito humano real e verdadeiro. Para nós, estes dados são uma fonte de profunda decepção, especialmente em consideração do facto que, de modo geral, o nosso mundo está a gozar de um progresso e de um desenvolvimento sem precedentes na história.

O significado da alimentação deveria ser especificado, especialmente no que diz respeito ao papel que o Estado deve desempenhar, garantindo a sua realização e, por conseguinte, o usufruto dos alimentos por parte das populações. Esta problemática refere-se de maneira directa aos deveres da direcção da FAO e, portanto, exige urgentemente a confirmação dos mesmos. Com efeito, para garantir o direito das pessoas e dos povos à alimentação, na ausência ou na falta de capacidade para que ele seja alcançado por cada um dos Estados, as demais nações e as instituições intergovernamentais são chamadas a prestar-lhes auxílio.

O dever assumido pelos diferentes países realiza precisamente este aspecto no conceito da segurança alimentar, enquanto prevê um esforço de solidariedade para garantir a alimentação a todos e pelo menos para reduzir, até 2015, para metade do número de pessoas subalimentadas ou famintas, através dos esforços conjuntos dos Estados e das Organizações internacionais.

Além disso, não há dúvida de que os métodos compreensivos de intervenção na luta contra a fome deveriam prestar a devida atenção a todos os aspectos da pobreza. No entanto, é importante ter em consideração o facto de que vincular a questão da segurança alimentar às outras situações, por mais importantes que sejam em virtude das suas diferentes finalidades e princípios pode contudo impedir-nos de mobilizar todas as forças que são necessárias para empreender esta luta. Hoje em dia, tal abordagem deveria ser considerada também em referência ao impacto do recente desenvolvimento na região do Próximo Oriente, sobre o ambiente comercial e as suas implicações para a segurança alimentar e para o desenvolvimento agrícola.

A Delegação da Santa Sé recorda também, a propósito desta questão, que um imperativo essencial é a adopção de medidas em vista de fazer com que as pessoas possam levar uma vida sustentável e promover o seu próprio crescimento rural e económico, vinculado a uma equidade social concreta e a uma atenção especial aos grupos mais vulneráveis. Para que as estratégias possam ser definidas, é necessário ter em consideração não apenas os direitos fundamentais das pessoas ou das comunidades, mas também o respeito pela consciência de cada um, naquilo que se refere às diferentes tradições e culturas no Próximo Oriente. Por conseguinte, tal acção deveria envolver a educação, a formação e uma abordagem compreensiva a propósito dos valores fundamentais.
Senhor Presidente

3. Ao levar a cabo este esforço, hoje necessário no compromisso envidado pelos países-membro da FAO, a Santa Sé confirma a disponibilidade da Igreja Católica, assim como dos seus vários departamentos e instituições, para colaborar nas actividades de humanização nas realidades da fome, do subdesenvolvimento e da pobreza. Trata-se de uma contribuição que deveria ser considerada não só como uma possibilidade ou um apoio logístico, mas também como uma fonte de inspiração ideal e programática.

Ao garantirmos a cada pessoa a possibilidade de dispor de um padrão qualitativo de vida e de uma adequada segurança alimentar, participamos no grande desígnio da Criação e temos a oportunidade de antepor os valores comuns aos interesses individuais. Hoje, as relações internacionais que se seguem à aspiração de cada pessoa à coexistência pacífica exigem novas formas de solidariedade e de comunhão, na implementação de programas e de acções, em conformidade com os princípios fundamentais da humanidade e da justiça.

Obrigado, Senhor Presidente!

 

 

top