The Holy See
back up
Search
riga

 INTERVENÇÃO DO OBSERVADOR PERMANENTE DA SANTA SÉ
 JUNTO DAS NAÇÕES UNIDAS DURANTE A SEGUNDA SESSÃO
DO CONSELHO DOS DIREITOS HUMANOS

DISCURSO DE D. SILVANO TOMASI

Genebra(Suíça), 21 de Setembro de 2006

 

Senhor Presidente

Obrigado pela oportunidade que me foi concedida para discorrer sobre questões relativas à tolerância e à liberdade religiosas, temas que certamente exigem uma reflexão atenta e profunda nos anos vindouros. Entretanto, pode ser suficiente observar que, onde existem dúvidas, o melhor intérprete de um determinado texto é o seu próprio autor. O Santo Padre Bento XVI explicou o significado das suas palavras. É simplesmente uma questão de justiça considerá-lo segundo as suas palavras.

1. Há vinte e cinco anos, a comunidade internacional adoptou por consenso a importante Declaração sobre a eliminação de todas as formas de intolerância e de discriminação baseadas na religião ou no credo(1).

2. Hoje, a implementação desta Declaração ainda permanece de muitas formas uma meta distante, uma obra em fase de execução, que exige a acção concertada para promover os padrões de liberdade religiosa reconhecidos pela comunidade internacional. Em vários países, a intolerância e os actos de violência que visam de maneira particular os indivíduos e as comunidades de diferentes religiões violam os seus direitos de diversos modos.

3. A Delegação da Santa Sé observa que as estruturas legais não têm evoluído suficientemente em toda a parte, em vista de tutelar as minorias religiosas e os respectivos membros, mesmo quando eles são cidadãos dos países interessados.

4. O rápido impacto das tecnologias de informação e de comunicação dá um novo significado à aldeia global, para além das suas redes económicas. Numerosas ideias e culturas aproximam-se umas das outras e entrelaçam-se até nas regiões mais remotas do mundo, enquanto os vastos movimentos migratórios os tornam visíveis e concretos na vida de todos os dias. Aquilo que sobressai é uma potencialidade para temores e conflitos, ou então uma nova fase de enriquecimento recíproco e respeito mútuo, que oferece a oportunidade de compartilhar as contribuições de todos, em vista de uma justiça maior e de uma paz mais estável. Por conseguinte, uma atitude de abertura e de aceitação mútua é mais urgente do que qualquer lei que tende a impô-las; o coração e a mente devem ser educados para reconhecer e valorizar cada pessoa como um membro igualitário da família humana. Os meios de comunicação e os livros de texto deveriam contribuir para este esforço e não estimular as emoções com mensagens ambíguas ou falazes, que fomentam a intolerância e fecham as mentes para um futuro de sociabilidade.

5. Para construir este futuro, é necessária uma compreensão mais profunda acerca:  1) do papel e da contribuição fundamentais da religião para a vida dos indivíduos e das comunidades; 2) das diferenças entre as religiões, de tal maneira que se possa empreender um diálogo honesto e fecundo; 3) das geopolíticas actuais, dado que as identidades regionais e religiosas não coincidem necessariamente, e isto exige a correcção das percepções.

6. A religião e a razão da tolerância religiosa estão arraigadas na pessoa seja ela crente ou não crente. Quando centramos a nossa atenção nas ideologias, e não nas pessoas e nas comunidades, corremos o risco de transformar as reivindicações religiosas em interesses políticos pessoais.

Senhor Presidente

7. Em síntese, permita-me citar as palavras que, no ano passado, o Papa Bento XVI dirigiu aos Representantes das Comunidades Muçulmanas:  "As lições do passado devem ajudar-nos a evitar a repetição dos mesmos erros. Temos o dever de buscar caminhos de reconciliação e de aprender a viver com respeito pelas identidades uns dos outros. Neste sentido, a defesa da liberdade religiosa constitui um imperativo constante"(2).

Obrigado, Senhor Presidente!


Notas

1. A dignidade e a igualdade inerentes a todos os seres humanos um princípio fundamental da Carta da Organização das Nações Unidas eram consideradas essencialmente violadas, quando se desrespeitava o direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião que cada pessoa tem e exerce, "tanto individualmente como em comunidade, com outros e em público ou de forma particular, para manifestar a sua religião ou credo no louvor, na observância, na prática e no ensinamento" (Art. I, 1).

 2. Audiência aos Representantes das Comunidades Muçulmanas, durante a Viagem Apostólica de Sua Santidade o Papa Bento XVI a Colónia (Alemanha), por ocasião da XX Jornada Mundial da Juventude (18-21 de Agosto de 2005).

 

top