The Holy See
back up
Search
riga
INTERVENÇÃO DA SANTA SÉ NAS SANÇÕES UNIDAS
POR OCASIÃO DA 47ª SESSÃO DA COMISSÃO
PARA O DESENVOLVIMENTO SOCIAL DO CONSELHO ECONÓMICO
E SOCIAL DA ONU DEDICADA À INTEGRAÇÃO SOCIAL

DISCURSO DO ARCEBISPO CELESTINO MIGLIORE

Nova Iorque
Terça-feira, 5 de Fevereiro de 2009

Presidente!

Antes de tudo a minha delegação gostaria de agradecer ao Secretário-Geral o seu relatório sobre a Promoção da integração social na medida em que estabelece claramente o significado e o objectivo do tema na ordem do dia. Enquanto numa sociedade socialmente integrada existe um sentido de pertença, "numa sociedade socialmente coesa existe também um claro consenso sobre o que cria um pacto social com direitos e deveres reconhecidos por todos os cidadãos".

A coesão social, como expressão de justiça social é, antes de mais, uma condição que deve ser garantida a todas as pessoas por causa da sua altíssima dignidade. Além disso, é também uma condição indispensável para enfrentar as crises globais da humanidade de hoje.

Na sua análise pormenorizada das perspectivas regionais, o relatório do Secretário-Geral afirma que a ausência de integração social, que desemboca na marginalização social, é difundida quer nas regiões em vias de desenvolvimento quer naquelas desenvolvidas, e tem causas comuns, isto é, a pobreza, a desigualdade e a discriminação a todos os níveis.

A minha delegação está particularmente feliz por observar que as estratégias recomendadas para promover a integração social nas actuais circunstâncias derivam das linhas de acção propostas pela Cimeira Mundial sobre o Desenvolvimento Social de 1995, com o objectivo de promover e actuar políticas de inclusão social. A caracterizar tais propostas está a convicção de que a lógica da solidariedade e da subsidiariedade é a mais apta e útil para superar a pobreza e garantir a participação de cada pessoa e de cada grupo social nos ambientes cultural, civil, económico e social.

Neste último decénio, um amplo consenso sobre o empenho em promover o desenvolvimento expressou-se na luta à pobreza e na promoção da inclusão e da participação de todas as pessoas e de todos os grupos sociais. Este consenso também é formalizado na Declaração do Milénio de 2000. Os Objectivos de Desenvolvimento aí consagrados são definidos com referência a indicadores e fins determinados. A monitorização constante dos resultados obtidos é importante para tornar mais humanas as condições de vida de todos. Além disso, a preocupação em obter resultados quantitativos ou mensuráveis não deve distrair a nossa atenção e as nossas políticas da obtenção de um desenvolvimento integral.

Monitorizando os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio descobre-se que é relativamente fácil alcançar os fins perseguidos através de medidas de natureza técnica que requerem, sobretudo, recursos naturais e organização. Todavia, a perseguição dos objectivos, em conclusão, do desenvolvimento e da coesão social não exigem apenas ajuda financeira, mas também o envolvimento efectivo das pessoas.

A finalidade e o conteúdo dos programas de desenvolvimento devem oferecer às pessoas a possibilidade concreta de plasmar a própria vida e ser protagonistas do desenvolvimento. O que parece faltar na luta contra a pobreza, a desigualdade e a discriminação, não é tanto o apoio financeiro ou a cooperação económica e jurídica, por mais que sejam essenciais, quanto as redes relacionais e pessoas capazes de partilhar a vida com quantos se encontram em situações de pobreza e de exclusão, sujeitos capazes de presença e de acção, cuja actividade seja reconhecida pelas instituições locais, nacionais e mundiais.

Isto é exprimido de maneira semelhante pelo Papa Bento XVI que na Mensagem para o Dia Mundial da Paz, afirmou: "Os problemas do desenvolvimento, das ajudas e da cooperação internacional são às vezes enfrentados sem um verdadeiro envolvimento das pessoas, mas apenas como questões técnicas que se reduzem à preparação de estruturas, elaboração de acordos tarifários, atribuição de financiamentos anónimos. Inversamente, a luta contra a pobreza precisa de homens e mulheres que vivam profundamente a fraternidade e sejam capazes de acompanhar pessoas, famílias e comunidades por percursos de autêntico progresso humano".

As necessidades das famílias, das mulheres, dos jovens, dos analfabetos e dos desempregados, dos indígenas, dos idosos, dos migrantes e de todos os outros grupos que são mais vulneráveis à marginalização social devem ser enfrentados por estruturas legais, sociais e institucionais adequadas. Contudo, vivendo juntamente com quantos foram excluídos da sociedade e partilhando as suas experiências podemos encontrar maneiras para os integrar mais plenamente na comunidade, e ainda mais importante, afirmar a sua dignidade e o seu valor para que possam tornar-se verdadeiramente protagonistas do próprio desenvolvimento.

A Santa Sé e as várias instituições da Igreja permanecem empenhadas em cumprir esta missão. Através de programas, agências e organizações em cada continente, quantos foram esquecidos por muitos na sociedade são individuados e reinseridos no fluxo social. Com este esforço comum as lições aprendidas por quantos são marginalizados corroboram a verdade de que o desarreigamento da pobreza, o pleno emprego e a integração social se alcançam quando se acrescenta à clareza do objectivo um compromisso do espírito.

Obrigado, Presidente.

top