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INTERVENÇÃO DA SANTA SÉ
NA 62ª ASSEMBLEIA DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE

DISCURSO DE D. ZYGMUNT ZIMOWSKI,
PRESIDENTE DO PONTIFÍCIO CONSELHO
PARA A PASTORAL NO CAMPO DA SAÚDE

Genebra
Terça-feira, 19 de Maio de 2009

 

 

Senhor Presidente!

Apresento-lhe as congratulações da Santa Sé, juntamente com os nossos bons votos pela sua designação para este importante cargo.

Tendo sido nomeado recentemente por Sua Santidade Bento XVI Presidente do Pontifício Conselho para a Pastoral no Campo da Saúde, considero uma grande honra partilhar com os delegados presentes nesta 62ª Assembleia da OMS algumas reflexões e as preocupações da Santa Sé. No que diz respeito ao impacto da assistência e dos tratamentos na saúde humana neste período de crise económica global, a Santa Sé compartilha as preocupações já expressas por outros delegados.

A actual crise económica fez aflorar o espectro do cancelamento ou de uma drástica redução dos programas de assistência externa, sobretudo nos países em vias de desenvolvimento. Isto colocará dramaticamente em risco os seus sistemas de saúde, que já estão à beira do colapso devido à forte incidência de doenças endémicas, epidémicas e virais. Na sua mensagem ao G20, o Papa Bento XVI observou: "A saída da actual crise global só pode ser alcançada em conjunto, evitando soluções caracterizadas por qualquer egoísmo nacionalista ou proteccionismo", e exortou a "um refortalecimento intrépido e generoso da cooperação internacional, capaz de promover um desenvolvimento verdadeiramente humano e integral" (Bento XVI, Mensagem ao Primeiro-Ministro do Reino Unido, Gordon Brown, na vigília do G20, 30 de Março de 2009).

A minha delegação deseja evidenciar igualmente a grande importância e a particular responsabilidade de organizações de cunho religioso e de milhares de instituições no campo da saúde geridas pela Igreja, em oferecer apoio e tratamento a pessoas que vivem na pobreza. A carga económica que pesa cada vez mais na receita dos governos por causa da actual crise financeira, é sentida ainda mais profundamente pelas instituições suportadas pela Igreja, que com frequência não têm acesso aos fundos governamentais ou internacionais. Não obstante, elas continuam a lutar para servir quantos se encontram em maior necessidade. Os valores que motivam este serviço por parte das organizações de inspiração religiosa, além do valor de maior importância da sacralidade e da dignidade da vida humana, incluem alguns princípios articulados na Resolução sobre os cuidados médicos primários, examinada por esta Assembleia. Refiro-me a princípios como "igualdade, solidariedade, justiça social e acesso universal aos serviços" (http://www.who.int/gb/ebwha/pdf-files/eb124/b124-r 8-en.pdf).

Senhor Presidente!

Em 1998 o Pontifício Conselho encorajado neste sentido pela OMS promoveu uma pesquisa junto das Igrejas locais sobre os desafios que a comunidade internacional deve enfrentar para alcançar o objectivo da saúde para todos. Os resultados desta pesquisa mostraram que um dos maiores desafios é a aplicação do princípio de igualdade (Pontifício Conselho para a Pastoral no Campo da Saúde, Pesquisa sobre um Project de document de consultation pour l'actualisation de la stratégie mondial de la santé pour tous, Roma, 1998, [texto não publicado]).

Após uma década, infelizmente devo reconhecer que na maior parte dos países este desafio ainda é actual. A minha delegação olha, portanto, com particular atenção para a resolução relativa aos determinantes factores sociais da saúde, proposta na aprovação desta Assembleia, e está particularmente interessada no apelo urgente que ela dirige aos Governos "a desenvolver e alcançar os objectivos e as estratégias em vista de melhorar a saúde pública, com um olhar particular para as injustiças no campo da saúde" (http://www.who.int/gb/ebwha/pdf-files/eb124/b124-r 8-en.pdf).

Além disso, existe uma preocupação partilhada por milhões de crianças em todo o mundo que não alcançam o seu pleno potencial por causa das grandes diferenças e injustiças existentes no campo da saúde. O Santo Padre também transmitiu esta preocupação aos participantes na XXIII da Conferencia Internacional do Pontifício Conselho para a Pastoral no Campo da Saúde, pedindo "uma acção firme, destinada a prevenir na medida do possível as doenças e, quando elas já estão a decorrer, para curar os pequenos doentes mediante as descobertas mais modernas da ciência médica, assim como para promover melhores condições no campo da higiene da saúde, sobretudo nos países mais desvantajados" (Bento XVI, Discurso aos participantes na XXIII Conferência Internacional do Pontifício Conselho para a Pastoral no Campo da Saúde, Cidade do Vaticano, 15 de Novembro de 2008).

Senhor Presidente!

Não podemos permitir que estas crianças indefesas, os seus pais e os outros adultos das comunidades mais pobres do mundo se tornem cada vez mais vulneráveis por causa da crise económica global, amplamente alimentada pelo egoísmo e pela cobiça. Como ressaltou o Santo Padre, "é preciso uma forte solidariedade global, como também no âmbito interno de cada uma das nações, incluindo as ricas. É necessário um "código ético comum", cujas normas não tenham apenas carácter convencional, mas estejam radicadas na lei natural inscrita pelo Criador na consciência de todo o ser humano (cf. Rm 2, 14-15)" (Bento XVI, Mensagem para o Dia Mundial da Paz, 1 de Janeiro de 2009, n. 8), porque "não se pode criar no mundo a justiça apenas com modelos económicos bons, que são necessários. A justiça só se realiza se existem os justos" (Bento XVI, Discurso aos párocos e ao clero da Diocese de Roma, 26 de Fevereiro de 2009).

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