Index

  Back Top Print

INTERVENÇÃO DO OBSERVADOR PERMANENTE DA SANTA SÉ
POR OCASIÃO DA 53ª SESSÃO DA COMISSÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SOCIAL

DISCURSO DO ARCEBISPO BERNARDITO AUZA
JUNTO AO CONSELHO ECONÓMICO E SOCIAL DAS NAÇÕES UNIDAS

Nova York
Segunda-feira, 9 de Fevereiro de 2015

 

Senhora Presidente!

Antes de iniciar, permita que me congratule com Vossa Excelência e com a direcção pela sua eleição. A minha Delegação, com prazer, espera trabalhar juntamente com as demais delegações, durante este ciclo político, a fim de redobrar os nossos esforços para ajudar quantos vivem em todas as formas de pobreza no mundo.

Senhora Presidente!

Embora o crescimento económico nos últimos anos tenha diminuído, milhões de pessoas continuam a sair da condição de pobreza, especialmente no mundo em vias de desenvolvimento. Contudo, a minha Delegação partilha a preocupação manifestada pelo Secretário-geral no seu recente relatório e reconhece que o crescimento económico, o qual provocou novos desafios, não ofereceu benefícios iguais a todos na sociedade. Continuam a existir graves desigualdades e muitos dos grupos mais vulneráveis da sociedade foram deixados para trás. Se não enfrentarmos tais desigualdades, especialmente na transição para a agenda de desenvolvimento pós-2015, corremos o risco de prejudicar o impacto do crescimento económico sobre a pobreza e o bem-estar da sociedade no seu conjunto.

A fim de que seja sustentável e em benefício de todos, o desenvolvimento social deve ser ético, moral e centrado na pessoa. Citamos de novo o relatório do Secretário-Geral, frisando que o crescimento económico não é um indicador suficiente de desenvolvimento social. Em vez disso, devemos prestar atenção aos indicadores que oferecem um cenário completo do bem-estar de cada indivíduo na sociedade, promovendo ao mesmo tempo políticas que encorajem uma abordagem deveras integral ao desenvolvimento total da pessoa humana.

A este propósito, por exemplo, não é suficiente ter um emprego rentável. O trabalho deve ser também digno e seguro. Os investimentos na educação, o acesso aos serviços médicos de base e a criação de redes de segurança social são factores primários, e não secundários, para melhorar a qualidade de vida da pessoa e garantir uma distribuição equilibrada da riqueza e dos recursos na sociedade. Pondo a pessoa humana no centro do desenvolvimento e encorajando investimentos e políticas que respondam às necessidades reais, os progressos realizados na direcção da erradicação da pobreza permanecem estáveis e a sociedade é mais resistente diante de eventuais crises.

Senhora Presidente!

A economia de mercado não existe para se servir a si mesma, mas para servir o bem comum de toda a sociedade. Tendo isto presente, devemos prestar atenção particular ao bem-estar dos mais vulneráveis entre nós, porque com frequência são ignorados em nome de uma maior produtividade, eficiência e crescimento económico geral. O desenvolvimento social não pode ser uma abordagem de «tamanho único»; portanto, as políticas e os programas universais devem ser reforçados através de uma aproximação mais decisiva que responda às exigências dos mais vulneráveis.

Como o Papa Francisco repetidamente nos recordou, «Deriva da nossa fé em Cristo, que Se fez pobre e sempre Se aproximou dos pobres e marginalizados, a preocupação pelo desenvolvimento integral dos mais abandonados da sociedade [...], e que envolve tanto a cooperação para resolver as causas estruturais da pobreza e promover o desenvolvimento integral dos pobres, como os gestos mais simples e diários de solidariedade para com as misérias muito concretas que encontramos» (Exortação apostólica Evangelii gaudium, nn. 186, 188).

Senhora Presidente!

O desenvolvimento integral autêntico da pessoa e a erradicação da pobreza só podem ser obtidos se nos concentrarmos na imensa importância da família para a sociedade, pois é nela que cada ser humano recebe a sua educação primária e o seu desenvolvimento mais formativo. A família é a rede de segurança social mais natural da sociedade, partilhando recursos para o bem de toda a unidade familiar e oferecendo um apoio intergeracional. Na família aprendemos a amar e a contribuir sem retribuição e, diversamente do que acontece na economia global, cada pessoa tem o seu lugar.

Senhora Presidente!

Para concluir, a minha Delegação pensa que devemos empreender uma abordagem estratégica para a erradicação da pobreza baseada na verdadeira justiça social, a fim de ajudar a reduzir o sofrimento de milhões dos nossos irmãos e irmãs. É nossa firme convicção que as políticas de desenvolvimento social devem enfrentar não só as necessidades económicas e políticas, mas também a dimensão espiritual e ética de cada pessoa. Deste modo, cada indivíduo na sociedade pode livrar-se de todas as formas de pobreza, quer material quer espiritual.

Obrigado, Senhora Presidente!