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INTERVENÇÃO DO REPRESENTANTE DA SANTA SÉ
NA SEDE DO PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O AMBIENTE (UNEP)
 POR OCASIÃO DO «DIA MUNDIAL DO AMBIENTE»
A SER CELEBRADO DIA 5 DE JUNHO

DISCURSO DE MONS. PIERRE PHAN-VAN-THUON

Nairobi, 10 de Maio de 1982

 

O interesse dado pela Santa Sé ao programa das Nações Unidas para a protecção do ambiente manifestou-se desde o início da mesma iniciativa através da sua adesão à Conferência de Estocolmo, há dez anos. O Papa Paulo VI tinha, aliás, enviado nessa oportunidade uma mensagem muito importante, mensagem que foi lida no início da Conferência.

Considerando hoje os resultados obtidos como também os novos problemas que se põem, especialmente o que concerne à crise da energia e aos efeitos da contaminação à distância, a Santa Sé reafirma a sua vontade de apoiar um programa que, através da protecção do ambiente, se oriente para a defesa do homem.

Se, celebrando o décimo aniversário da Conferência de Estocolmo, os responsáveis são levados a avaliar novas propostas a fim de resolver as desconfianças surgidas do facto de uma industrialização desordenada e em virtude de exigências sempre novas ligadas ao desenvolvimento das populações, então é necessário regozijarmo-nos com este acontecimento e fazer dele uma ocasião de comum reflexão.

A Santa Sé, que situa a protecção do ambiente dentro do contexto do respeito pelo homem e suas necessidades, pensa que é preciso procurar, eventualmente a partir de novos estudos, as soluções capazes de assegurar um equilíbrio entre a defesa do ambiente e o desenvolvimento demográfico e cultural das populações, fazendo um uso inteligente dos recursos naturais, quer renováveis ou não.

Efectivamente, o mau uso dos recursos naturais acarreta, como todos podem constatar, a desertificação, a erosão e o desaparecimento de terras apropriadas para a agricultura e para a zootécnica; causa igualmente a contaminação da atmosfera, da água e do solo, atingindo portanto os animais e as plantas, bem como a saúde e o bem-estar do homem.

O uso desordenado das matérias-primas conduz, por sua vez, à destruição e à perda de recursos não renováveis, o que, nos próximos anos, porá graves hipotecas quanto ao futuro, e provoca o deterioramento do ambiente.

Se se quer proteger o ambiente, é necessário seguir uma orientação que, respeitando as necessidades e a personalidade do homem, assegure um equilíbrio entre o homem e o ambiente e evite a exploração cega e egoísta dos recursos quer sejam renováveis quer não.

Nos nossos dias a protecção do ambiente requer quase sempre, em virtude da própria natureza do fenómeno, uma cooperação internacional, no sentido de que o deterioramento do ambiente não depende somente de causas locais e bem circunscritas; e para ser eficaz, esta protecção exige ainda, além de meios adequados, uma cultura e uma educação das próprias populações. Nestas condições, a Santa Sé, graças às suas instituições — centrais e locais — espalhadas em todo o mundo e agindo até nas ramificações mais pequenas, poderá apoiar todas as iniciativas destinadas a promover simultaneamente o bem do homem e a protecção do seu ambiente.

Neste ano do oitavo centenário do nascimento de São Francisco, a Igreja católica e todos os amigos do "Poverello" de Assis querem recordar aquele que tinha tanto respeito e tanto amor pelas criaturas animadas e inanimadas e a quem o Papa João Paulo II, no dia 23 de Abril de 1980, declarou "Patrono da Ecologia". E o Santo Padre precisava então, no dia 28 de Março último, aos ouvintes de Roma e de Assis: Como não ver num tal exemplo um ensinamento particularmente urgente para os nossos dias, quando o homem, com uma preocupante ligeireza, está lentamente prestes a destruir o meio vital que a sabedoria do Criador construiu para ele? Que o testemunho de São Francisco convide os homens de hoje a não se comportarem como usurpadores insensatos da natureza, mas a assumirem a responsabilidade em relação a ela, procurando conservá-la sã e integra, isto é, capaz de oferecer a todos, inclusive às gerações vindouras, um ambiente acolhedor e confortável.

 

 

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