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DISCURSO DO CARDEAL TARCISIO BERTONE
NA INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO SOBRE
OS 145 ANOS DE "L'OSSERVATORE ROMANO"

Terça-feira, 24 de Novembro de 2006

 

Senhor Presidente da Província de Roma
Ilustres Membros da Junta
e do Conselho Provincial
Eminências Reverendíssimas
Excelências Reverendíssimas
Senhor Director de
L'Osservatore Romano
Autoridades presentes
Senhoras e Senhores

Estou particularmente feliz por participar na significativa celebração hodierna, que põe em evidência a colaboração entre a Administração da Província de Roma e a Santa Sé, enquanto agradeço a oportunidade que se me oferece, de dirigir a minha palavra aos presentes. Em primeiro lugar, estou grato ao Presidente, Dr. Enrico Gasbarra, que nos hospeda. Ouvi com atenção as suas palavras de boas-vindas, assim como a intervenção do Prof. Mario Agnes, Director de L'Osservatore Romano. É precisamente deste jornal que a interessante exposição, hoje aqui inaugurada, tenciona comemorar os 145 anos de história. Como deixar de reconhecer o mérito daqueles que a idealizaram, prepararam e organizaram? Transmito a todos vós o meu apreço e o meu elogio.

A este propósito, é digno de relevo o facto de tal acontecimento se realizar num edifício das Instituições Cívicas de Roma. Como mudaram os tempos desde quando, por iniciativa e paixão dos Advogados Nicola Zanchini de Forli e Giuseppe Bastia de Bolonha, nasceu L'Osservatore Romano num clima de oposição e de desafio aberto entre os promotores do Ressurgimento italiano e os defensores da necessidade do Estado Pontifício! Fundado para defender a Religião católica e o Pontífice Romano, em seguida este diário torna-se o órgão oficioso da Santa Sé Apostólica que, tendo compreendido o seu valor, fez dele o instrumento para a difusão dos ensinamentos do Sucessor de Pedro e para a informação acerca dos acontecimentos da Igreja. De resto, não se pode deixar de sublinhar que se deve a alguns fiéis leigos, animados por uma forte motivação missionária, se ele conseguiu dar os seus primeiros passos e começar intrepidamente a sua actividade, apresentando o rosto genuíno da Igreja e os ideais de liberdade que ela propõe e encarna. Desde então transcorreram 145 anos: esta exposição abarca um não breve lapso de tempo, com uma necessária consideração mais aprofundada das vicissitudes dos nossos dias.

A sucessão dos acontecimentos históricos demonstra que a Igreja, tanto no passado como no presente, para difundir a mensagem evangélica em todos os âmbitos da sociedade, para promover e defender os ideais da liberdade autêntica, da verdade, da justiça e da caridade, tem necessidade da diligência, da invectiva e do carisma dos leigos. Assim, no percurso que foi traçado pela presente exposição através da história do jornal podemos rever todo o caminho da Igreja, que neste período procurou propagar sempre o Evangelho e defender o valor do homem e a intangibilidade da sua dignidade e dos seus direitos.

Esta mostra documenta tudo isto, familiarizando-nos com a acção pastoral de onze Pontífices. O Beato Pio IX, que concedeu o assenso à fundação de L'Osservatore Romano; o longo e complexo Pontificado de Leão XIII, com as profundas mudanças sociais daqueles anos; São Pio X, o pároco do mundo, o Papa das grandes reformas realizadas no seio da Igreja; Bento XV, o Papa que promulgou a maior colectânea de normas eclesiásticas, e que precisamente no jornal do Vaticano publicou a urgente Nota aos Chefes dos povos beligerantes; Pio XI, que condenou os totalitarismos de todos os cunhos políticos, como fez também o seu Sucessor, o Servo de Deus Pio XII. Não esqueçamos que exactamente durante a segunda guerra mundial L'Osservatore Romano foi uma das poucas vozes livres (de maneira especial com os famosos "Acta diurna"), documentando a ingente obra humanitária promovida pelo Papa Pio XII e pela Santa Sé!

Sucessivamente, L'Osservatore Romano descreveu a Primavera florescida na Igreja mediante a obra do Beato João XXIII e através do sopro do Concílio Vaticano II. O diário da Sé Apostólica fez-se intérprete deste extraordinário acontecimento eclesial, assim como da sábia e providencial acção do Servo de Deus Paulo VI, que governou a Igreja no período conciliar e durante os anos não fáceis do pós-Concílio. De Paulo VI, não podemos deixar de recordar o alto e premente apelo em favor da libertação de Aldo Moro e as comovedoras palavras pronunciadas durante o seu funeral: "Dirijo-me a vós, homens das Brigadas Vermelhas...". Ferido no coração mas não vencido na força da fé, o Papa Montini indicou à nação italiana o caminho do perdão, da reconciliação e da renúncia a toda a violência, como única vereda para a pacificação do nosso país.
L'Osservatore Romano
fez-se intérprete do breve Pontificado do Servo de Deus João Paulo I e, nos anos mais próximos de nós, também do renovado diálogo da Santa Sé com o mundo, que caracterizou o longo Pontificado do Servo de Deus João Paulo II. O jornal acompanhou a actividade quotidiana deste Papa, as suas numerosas iniciativas e as suas viagens apostólicas, que assinalaram uma fase nova na história do Papado e da Igreja. Enfim, o diário do Vaticano leva-nos até às vicissitudes destes nossos dias, em que a Igreja caminha orientada com sabedoria pelo Papa Bento XVI. Seria interessante averiguar a difusão e a influência de L'Osservatore Romano nas regiões do mundo e nos ambientes sociopolíticos e culturais mais diversificados, como também nos países e nas famílias mais simples e fiéis ao Papa. Eu, por exemplo, recordo que na minha cidade natal Romano Canavese, durante muitos anos chegavam apenas dois exemplares de L'Osservatore Romano: um em nome do Padre Paolo Bellono, um sacerdote ali residente, e o outro em nome do meu avô e depois do meu pai, Pietro Bertone.

Que me seja permitida uma ulterior observação. A história de L'Osservatore Romano está ligada à história desta nossa cidade: Roma. Não é por acaso que e este é um facto relevante! o jornal anota também a unificação administrativa realizada com a constituição da Província de Roma.

Desta Cidade, que constitui o berço da civilização ocidental e o coração do catolicismo, o jornal da Santa Sé continua a anotar factos de crónica quotidiana e fermentos de cristandade. Chama-se L'Osservatore Romano, como que para indicar o desvelo com que o Pastor universal da Igreja, Bispo de Roma, considera sobretudo a comunidade confiada aos seus cuidados, para que esta Cidade, abençoada pelo sangue de numerosos mártires e pela passagem de inúmeros santos, cumpra com determinação a missão que lhe é própria, de farol de civilização e de espiritualidade evangélica. A única e constante aspiração da Igreja e do seu supremo Pastor, de quem este jornal se faz porta-voz atento e fiel consiste, em última análise, em transmitir o Evangelho urbi et orbi, a Roma e ao mundo inteiro. Trata-se de uma preciosa herança que deve ser acolhida e continuada.

Dos primeiros passos corajosos dados no longínquo dia 1 de Julho de 1861, graças à intuição e à dedicação de um grupo de fiéis leigos diligentes, que se constituíram em associação às modernas tecnologias dos nossos dias, que permitem uma comunicação cada vez mais rápida e profunda, o espírito e o estilo com que o trabalho é levado a cabo permanecem os mesmos. Do compromisso entre uma instituição pública a Província de Roma e o nosso jornal nasceu um ulterior sinal de colaboração e de trabalho conjunto, ao serviço das importantes causas da dignidade humana e da paz, como Vossa Excelência, Senhor Presidente, quis recordar de maneira oportuna nas suas palavras introdutivas.

Roma, a Roma civil e a Roma cristã, traz inscrito no seu próprio destino o sinal do amor e da paz. Em última análise, a presente exposição evoca a imutável mensagem de esperança, a missão moral que aproxima as instituições civis e religiosas de Roma. No respeito pelas prerrogativas individuais e específicas e pelas tarefas de cada um, todos nós as Administrações públicas e a Igreja em geral somos chamados a uma profícua e recíproca colaboração para o bem desta Cidade, para que ela se coloque ao serviço do homem, de maneira especial quando ele é pobre e sofredor, a fim de que promova a justiça e a paz num contexto social em que ninguém se sinta marginalizado nem excluído.

No recente Congresso da Igreja que está na Itália, realizado em Verona, o Papa Bento XVI exortou os católicos presentes em todos os âmbitos da sociedade, a "abrir-se com confiança a novas relações, sem descuidar qualquer das energias que podem contribuir para o crescimento cultural e moral da Itália". Que este seja o fruto também da presente iniciativa: da gloriosa memória do passado, relançar e projectar novamente, com espírito profético, um instrumento de comunicação da Igreja universal eficaz e convincente, a fim de que se desenvolva a assembleia de homens e mulheres de boa vontade, decididos a trabalhar juntos em vista de construir um futuro de esperança para todos, para a nossa cidade e para o mundo inteiro.

 

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