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CARTA DO CARDEAL TARCISIO BERTONE
AO CARDEAL IVAN DIAS POR OCASIÃO
DO 50º ANIVERSÁRIO DA PUBLICAÇÃO
DA CARTA ENCÍLICA "FIDEI DONUM" DO PAPA PIO XII

 

Senhor Cardeal

Celebra-se hoje, 21 de Abril, o 50º aniversário da Carta Encíclica Fidei donum, do Papa Pio XII, de venerada memória (cf. AAS XLIX [1957], pp. 225-248). Com este Documento, o Sumo Pontífice quis orientar o olhar dos Pastores da Igreja para a África, na hora em que o Continente estava a abrir-se à vida do mundo moderno e atravessava talvez os anos mais graves do seu destino milenar (cf. ibid., pág. 227). Ao abordar no capítulo III, o tríplice compromisso missionária da Igreja (oração, assistência concreta e envio de pessoas), Pio XII referia-se, entre outras coisas, a um novo tipo de cooperação missionária, diferente dos tradicionais. Assim escrevia: "Outra modalidade de ajuda, certamente mais onerosa, é adoptada por alguns Bispos que, embora sintam o seu peso, autorizam que um ou outro dos seus sacerdotes deixem a diocese e, por um determinado período, colaborem com os Ordinários do lugar, na África. Com efeito, isto contribui em grande medida a fim de que ali se venha a estabelecer, com sabedoria e ponderação, novas e específicas formas de exercício do ministério sacerdotal, assim como a ajudar o clero de tais dioceses nas funções do ensino eclesiástico e profano, que o mesmo não consegue assumir. É de bom grado que encorajamos estas oportunas e fecundas iniciativas, que ainda devem ser aperfeiçoadas.

Preparadas e realizadas com prudência, elas poderão ser de grande utilidade para a Igreja católica que está na África, nesta época rica de dificuldades e de esperança" (AAS, op. cit., pp. 245-246).
Daquele apelo dirigido pelo Sumo Pontífice em favor da missão na África, nasceu um novo "sujeito" missionário, que da Encíclica recebeu precisamente o nome de "fidei donum". Este Documento pontifício lançou a semente que encontrou um terreno fértil e se desenvolveu, graças à profunda reflexão eclesiológica e missiológica do Concílio Vaticano II e do Magistério missionário pós-conciliar. Portanto, já estão consolidados tanto a nível de princípio como de prática, alguns elementos essenciais, que contribuem para definir a identidade e a configuração dos missionários "fidei donum". Tais elementos podem ser assim formulados: a Igreja é por sua natureza missionária; a Igreja universal concretiza-se e subsiste nas Igrejas particulares; as Igrejas particulares são missionárias desde a sua constituição; elas são responsáveis pela evangelização in solido e em comunhão com todas as outras Igrejas.

Desde aquela data já passaram cinquenta anos, durante os quais as Igrejas particulares, primeiro as de antiga fundação e depois as mais jovens, continuaram a enviar presbíteros e leigos diocesanos para outras Igrejas, em vista da missio ad gentes, para a nova evangelização ou simplesmente para irem ao encontro das necessidades de pessoal e de meios, sentidas pelas Igrejas mais pobres. Trata-se de uma modalidade que, com o passar do tempo, poderia vir a tornar-se a norma da co-responsabilidade missionária. Com efeito, através de tal cooperação toda a Igreja se torna efectivamente missionária, uma vez que a missio ad gentes é considerada uma tarefa e uma responsabilidade de todas as Igrejas particulares.

Por ocasião deste importante aniversário, a Pontifícia União Missionária, também devido aos insistentes pedidos apresentados pelos Directores Nacionais das Pontifícias Obras Missionárias, organizou em Roma um Congresso com duas finalidades principais: antes de mais nada, percorrer de novo o caminho traçado, com uma análise crítica das luzes e das sombras que o caracterizaram; em segundo lugar, contribuir para conferir uma renovada e mais autêntica identidade aos missionários "fidei donum", à luz das indicações provenientes da experiência, do magistério pontifício e dos documentos das várias Conferências Episcopais. Em particular, é oportuno voltar a considerar a comunhão e a co-responsabilidade das Igrejas pela missão, assim como as implicações metodológicas, como a exigência de um projecto conjunto, a inserção dos missionários "fidei donum" com tarefas e funções específicas, a reinserção nas Igrejas de origem, o intercâmbio recíproco de pessoas, de meios e de metodologias apostólicas, os percursos formativos para os missionários, a necessidade de instituir a nível nacional centros de formação missionária para os que devem partir e de coordenação para responder adequadamente aos pedidos de pessoal e de meios. Uma sua ulterior finalidade é a de pôr as Igrejas mais jovens, que actualmente devem confiar-se à assistência dos Institutos missionários, em condições de formar e de enviar os seus próprios missionários "fidei donum".

O Santo Padre apreciou esta iniciativa e avalia-a com confiança, enquanto formula votos a fim de que contribua para relançar o compromisso missionário promovido há cinquenta anos pelo Papa Pio XII com a Encíclica Fidei donum. Em vista de tal finalidade, ele assegura desde já a sua especial lembrança na oração, para que o Congresso possa alcançar os objectivos que se propôs previamente e, enquanto manifesta o seu profundo agradecimento a Vossa Eminência Reverendíssima, aos colaboradores e a quantos o promoveram e organizaram, de bom grado concede-lhes, bem como aos Directores Nacionais das Pontifícias Obras Missionárias, aos Encarregados das Conferências Episcopais e a todos os missionários "fidei donum" uma especial Bênção apostólica.

É com prazer que aproveito este ensejo para me confirmar, com sentimentos de distinto obséquio,
De Vossa Eminência Reverendíssima, devotíssimo no Senhor,

 

Card. TARCISIO BERTONE
Secretário de Estado

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