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CARTA DO SECRETÁRIO DE ESTADO
CARDEAL AGOSTINO CASAROLI, EM NOME
DO SANTO PADRE, AO SUPERIOR-GERAL
DOS REDENTORISTAS PADRE JOSEPH PJAB
POR OCASIÃO DO 250º ANIVERSÁRIO
DA FUNDAÇÃO DA CONGREGAÇÃO

 

Reverendíssimo Padre

Completam-se em breve os 250 anos de vida da "Congregação do Santíssimo Redentor" fundada a 9 de Novembro de 1732 por Santo Afonso Maria de Ligório, uma das personalidades mais fascinadoras da Igreja Católica e um dos protagonistas mais notáveis da história religiosa, alcandorada entre os atormentados e complexos séculos XVII e XVIII.

Nesta significativa oportunidade, Sua Santidade deseja por meu intermédio fazer chegar a Si e a todos os Membros da benemérita Congregação o testemunho da sua grata complacência por todo o bem que ela tem realizado na Igreja, em benefício das almas, nestes dois séculos e meio, a par de vivo incitamento e cordiais votos pelo futuro do Instituto, para continuar com renovado e crescente vigor o seu glorioso caminho, seguindo fielmente, embora com a necessária actualização, as clarividentes indicações do santo e intrépido Fundador.

O Sumo Pontífice, no discurso dirigido ao Conselho Generalício a 6 de Dezembro de 1979, já repropôs como fim primário da Congregação, segundo o projecto original de Santo Afonso, o anúncio da Palavra de Deus às "almas mais abandonadas", atraindo ao mesmo tempo a atenção para a oportunidade de que seja dado novo impulso às missões tradicionais, em que o Fundador colocava grandíssima confiança; e fez notar ao mesmo tempo que a vossa acção pastoral em serviço de tais almas, mediante o anúncio da Palavra de Deus, atingirá eficazmente as suas finalidades se se ativer a dois critérios, já fixados pelas Constituições: o do "comunitarismo'' na programação e execução das iniciativas apostólicas e o da abertura pronta e disponível, para as sugestões e os pedidos do Ordinário diocesano (cf. Insegnamenti di Giovanni Paolo II, II, 2, 1979, 1327 s.).

Nesta data jubilar o Santo Padre deseja insistir de maneira especial no esforço da Congregação em favor do sacramento da Penitência, tão intimamente ligado com a sua missão espiritual, a exemplo de Santo Afonso, indefesso "confessor" e também grande e equilibrado moralista, constituído por Pio IX, em 1871, Doutor da Igreja, e por Pio XII, em 1950, Patrono dos Confessores e dos Moralistas.

Não se insistirá nunca demais sobre a importância deste serviço ministerial para a vida mesma da Igreja; sobre a necessidade de um sério e profundo conhecimento da Teologia moral e ascética por parte dos confessores, para serem guias seguros no quotidiano caminho dos irmãos na fé cristã: problemas de tanto peso e tão grande actualidade no campo teológico e pastoral, sobre os quais o Sínodo dos Bispos está chamado a discutir e reflectir na próxima Assembleia Geral do ano que vem.

Sejam portanto todas as Igrejas, pertencentes ou confiadas à Congregação do Santíssimo Redentor, autênticos centros de irradiação da graça e misericórdia de Deus; sejam os Padres Redentoristas ainda mais e ainda melhor preparados e sempre disponíveis para o ministério, humilde e oculto mas preciosíssimo, das confissões, atendendo com bondade e compreensão a quantos desejam, no segredo da sua consciência, reatar o diálogo de amor com o Pai do céu. É este, em síntese, o encargo que lhes confiava também Sua Santidade Paulo VI de venerável memória, na Audiência concedida ao Capítulo Geral a 6 de Outubro de 1973: "A vossa Congregação foi instituída por Santo Afonso, Doutor piedosíssimo, para que os membros dela se santificassem com a assídua e cuidadosa imitação de Cristo e também para que insistissem na actividade apostólica, sobretudo exercendo a extraordinária cura de almas e assim também atingissem salutarmente as almas mais abandonadas" (AAS 65, 1973, 553).

O Religioso Redentorista, fiel aos conselhos evangélicos da pobreza, da castidade e da obediência deve conformar-se a Cristo, na absoluta entrega à vontade do Pai; no imenso amor pelos pequenos, os que sofrem no espírito, os desencaminhados; no incansável zelo das almas; na contínua atitude de oração, na síntese entre a vida contemplativa e a vida activa. Poderia parecer pleonasmo insistir no primado da vida interior e da oração pessoal e comunitária com os filhos de um Santo, como é Santo Afonso, que foi sacerdote e bispo de intensa e contínua oração, verdadeiro apóstolo da oração. A difundi-la dedicou o célebre livrinho "Do Grande Meio da Oração", que alimentou por quase três séculos a vida espiritual de tantos Sacerdotes, Religiosos e Fiéis. "Que perfeição queres tu encontrar porventura sem a oração? Esta é a bela escola, em que se aprende a bela ciência dos Santos. Tantos estudos... tantas erudições, tantas línguas, tantas ciências' diversas, são boas,... podem servir... Mas sobretudo é necessária a bela ciência dos Santos, a ciência de amar a Deus, que não se estuda nos livros, não; estuda-se diante do Crucifixo, diante do Santíssimo Sacramento" (o.c., Ed. di Storia e Letteratura, Roma 1962, p. 219). São palavras carregadas de convicção, que mantêm, a sua verdade e o seu valor teológico e ascético nesta época da história, em que os filhos da Igreja, e sobretudo as pessoas consagradas, devem perante o mundo dar generoso testemunho da mensagem evangélica.

À luz da gloriosa história do Instituto, na linha do carisma transmitido por Santo Afonso à sua Congregação, será necessário meditar sobre a necessidade de dar, aos Membros desta, uma profunda e adequada preparação para o seu ministério pastoral; de lhes oferecer contínuos auxílios para a sua vida espiritual, quer no período delicado do Noviciado, quer em toda a vida, mediante aquela "formação permanente", que torne os Religiosos instrumentos adequados, dóceis e disponíveis, para a glória da Santíssima Trindade e para a edificação do Povo de Deus.

O Sumo Pontífice gosta de recordar como ao longo dos sulcos escavados pela vigilante e multiforme actividade de Santo Afonso Maria de Ligório (1696-1787) se encaminharam escolhidas figuras de Redentoristas: São Geraldo Maiella (1726-1755), o apóstolo da humilde plebe da Itália meridional; São Clemente Maria Hofbauer (1751-1820), o apóstolo da Europa descristianizada pela revolução francesa; São João Nepomuceno Neumann (1811-1860), o apóstolo dos emigrados da América do Norte; como também, o novo Beato Pedro Donders (1809-1877), missionário no Suriname e apóstolo dos leprosos, elevado às honras dos Altares a 23 de Maio último, que habitualmente dizia: "Desde que morreu Cristo, as almas são resgatadas com o sangue. Oxalá eu pudesse fazer que, também a custo da vida, todos conhecessem e amassem Deus como Ele merece!".

Ao indicar estes maravilhosos exemplos, o Santo Padre faz votos por que, neste ano jubilar, a luz e a força provenientes deles se difundam sobre todos os Membros dessa Congregação para que, ao reflectirem estes últimos sobre o passado, tão glorioso e fecundo, olhem confiadamente para o futuro, e, procedendo com perseverança num só coração e numa alma só, consigam realizar cada vez mais eficazmente os compromissos que lhes confiou o Santo Fundador.

Em confirmação de tais votos o Santo Padre invoca sobre Si e sobre os 6.600 Redentoristas espalhados por todo o mundo a maternal protecção de Maria Santíssima Imaculada, Padroeira da Congregação, e concede de todo o coração a implorada e propiciadora Bênção Apostólica, sinal da sua afectuosa estima e da sua cordial benevolência.

Aproveito de boa vontade a circunstância para Lhe apresentar religiosos cumprimentos e me confirmar, de Vossa Paternidade Reverendíssima, devotíssimo no Senhor.

 

Agostino Card. Casaroli
Secretário de Estado

 

 

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