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CARTA DO CARDEAL AGOSTINO CASAROLI,
EM NOME DO SANTO PADRE,
AO ARCEBISPO DE SEATTLE POR OCASIÃO
DO ENCONTRO INTERNACIONAL SOBRE O MATRIMÓNIO

 

Caro Arcebispo Hunthausen

O Santo Padre teve o gosto de ser informado do próximo Congresso Internacional do "Encontro Mundial sobre o Matrimónio" (Worldwide Marriage Encounter), que vai ser realizado em Seattle de 9 a 11 de Julho de 1982. Pediu-me para expressar o seu devoto apoio e pastoral interesse, por este importante acontecimento que reunirá representantes do movimento provenientes de cerca de 60 países.

Na sua Exortação Apostólica Familiaris Consortio, seguindo as propostas da V Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, Sua Santidade apelou para uma genuína renovação da vida matrimonial e familiar nas presentes circunstâncias da Igreja e do mundo. O obscurecimento de certos valores fundamentais e a perda generalizada do sentido da verdadeira liberdade e da responsabilidade moral, muitas vezes como consequência de uma falsa imagem do matrimónio e da vida familiar apresentada pelos meios de comunicação social, acentua a necessidade de mais visível e entusiástico testemunho das qualidades do matrimónio cristão. Sua Santidade expressa a ardente esperança de que o presente Congresso seja uma favorável oportunidade para a reflexão totalmente fiel sobre os valores essenciais do amor e da vida, e um tempo de graça e vocação para todos os participantes.

A família é comunidade de vida fundada e sustentada pelo amor. A base desta comunhão de vida, e a sua nascente de fortaleza e beleza, é o pacto matrimonial. Este pacto expressa o amor mútuo do marido e da mulher na própria disponibilidade pessoal em partilharem a sua vida inteira à imagem e segundo o exemplo da total doação de Cristo ao Seu Corpo, a Igreja (cf. Familiaris Consortio, 19). Não é atitude baseada em emoção contingente ou sentimentos transitórios. É uma doação responsável e livre de um ao outro, que imprime orientação invariável na vida do casal para uma união mais rica de pessoas. A esta luz, o matrimónio deve ser construído com o desejo de purificar e elevar a complementaridade natural do homem e da mulher. A vida matrimonial, portanto, é o trabalho diário do amor que procura defender, desenvolver e fortificar o dinamismo inerente ao pacto matrimonial. Sentimentos, decisões, interesses pessoais e comportamento, que sejam opostos a esta orientação, devem ser refreados e abandonados. Especialmente os casais cristãos, iluminados pela mensagem do Evangelho e sustentados pela graça do sacramento do matrimónio, deveriam estar convencidos de que todo o amor conjugal genuíno e vibrante requer constante esforço de purificação e renovação. O bom êxito do matrimónio cristão e da vida familiar obedece ao caminho da fidelidade diária ao Espírito de Vida e de Amor comunicado no sacramento do matrimónio.

Tal conceito de matrimónio leva ao reconhecimento da necessidade, ao longo da vida, de preparação, de amor dentro da família, que é a "primeira e insubstituível escola de vida social" (Familiaris Consortio, 43). A maturidade pessoal e o desenvolvimento da relação interpessoal do casal, são o resultado de um processo de educação a requerer atenção, esforço e amparo adequado, por parte da Igreja e da sociedade civil. O desenvolvimento pessoal e a maturidade são essenciais para a prosperidade do amor matrimonial, enquanto contribuem para um verdadeiro sentido de responsabilidade na liberdade, um sentido de realismo em julgar os acontecimentos, e um alto grau de domínio próprio e de fortaleza em momentos decisivos e quando surgem dificuldades. Uma verdadeira educação sobre relações interpessoais é necessária para conhecer como atingir, em perfeito desenvolvimento pessoal, todos os membros da família, com compreensão e sensibilidade para com a situação e as necessidades pessoais deles, dentro do âmbito do bem comum da família inteira.

A este respeito convém chamar a atenção apenas sobre a especial importância, para a vida familiar cristã, da educação da consciência moral, que torna cada um capaz de julgar e discernir os caminhos próprios para alcançar a auto-realização, a perfeição do amor e o pleno respeito pela vida em todas as fases e condições. Só mediante "a nova compreensão do sentido último da vida e dos seus valores fundamentais" resultará o "novo humanismo" vindo de profundas mudanças na sociedade, não afastando as pessoas das suas relações cora Deus mes conduzindo estas a maior aprofundamento (cf. Familiaris Consortio, 8).

Os participantes no Encontro Mundial sobre o Matrimónio compreendem que a comunhão de amor e vida, existente entre o casal e todos os membros da família, só pode ser renovada em profundidade quando o Senhor julgar o amor deles merecedor de especiais dons — melhorando, aperfeiçoando e exaltando os dons da graça e da caridade (cf. Gaudium et spes, 49). Estes dons, que derivam do sacramento do matrimónio e acompanham o casal ao longo da sua vida, devem ser continuamente invocados, bem acolhidos e aproveitados. A este propósito o Santo Padre compraz-se em pensar que os participantes no Congresso Internacional se irão sentir levados a reafirmar o seu empenho no que a Exortação Apostólica Familiaris Consortio diz a respeito da família cristã como comunidade em diálogo com Deus mediante os sacramentos c a oração familiar.

Em virtude da urgente necessidade de renovar o matrimónio e a vida familiar, o Congresso Internacional do "Encontro Mundial sobre o Matrimónio" constitui momento privilegiado para reflexão e empenho sobre os valores básicos, a vida e o amor. O Santo Padre, portanto, invoca a abundância da graça do Espírito Santo para todos os participantes no Congresso e para todos os membros do movimento em todo o mundo, e cordialmente concede a sua especial Bênção Apostólica. 

Tenho a honra de transmitir esta mensagem de Sua Santidade, e de bom grado aproveito a oportunidade para exprimir as minhas orações e os melhores votos pelo bom resultado do Congresso.

Sinceramente seu em Cristo

A. Card. CASAROLI
Secretário de Estado

 

 

 

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