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MENSAGEM DO CARDEAL CASAROLI,
 EM NOME DO SANTO PADRE, AO PRESIDENTE
DA UNIÃO NACIONAL DAS ASSOCIAÇÕES
 DE PAIS DE ALUNOS DE ENSINO LIVRE DA FRANÇA
POR OCASIÃO DO CONGRESSO DE BAYONNE

 

Senhor Presidente
Caros Congressistas

A Santa Sé tem desde sempre dado o seu encorajamento às Uniões de pais do ensino católico, sejam nacionais ou internacionais, sem jamais pretender substituir as instâncias directamente competentes nos seus respectivos países. No que se refere à França, recordem-se as Cartas pontifícias dirigidas ao Congresso de Angers em 1971, de Estrasburgo em 1975, de Rennes em 1979. Os responsáveis da U.N.A.P.E.L. e do presente Congresso de Bayonne fizeram saber ao Santo Padre que apreciariam muito uma mensagem de apoio por ocasião da abertura dos seus trabalhos, consagrados a um tema fundamental e mais do que nunca actual: "Família e escola; caminhos de liberdade". Sua Santidade, que interveio recentemente diante dos delegados internacionais dos professores católicos, em favor de um necessário e judicioso pluralismo escolar e pela autenticidade de todos os estabelecimentos católicos de ensino, confiou-me o encargo de responder à vossa expectativa, exprimindo-vos a sua confiança, o seu apoio, bem como o pensamento do magistério da Igreja em matéria de educação cristã.

Na exortação apostólica Familiaris consortio de 22 de Novembro de 1981, os congressistas de Bayonne encontrarão uma página à qual serão certamente sensíveis: "O direito-dever educativo dos pais — escrevia o Santo Padre — qualifica-se como essencial, ligado como está à transmissão da vida humana; como original e primário em relação ao dever educativo dos demais, pela unicidade da relação de amor que subsiste entre pais e filhos; como insubstituível e inalienável, o qual portanto, não pode ser totalmente delegado ou usurpado por outros.

Para além destas características, não se pode esquecer que o elemento mais radical, que qualifica o dever de educar dos pais é o amor paterno e materno, o qual encontra na obra educativa a sua realização ao tornar pleno e perfeito o serviço à vida. O amor dos pais, de fonte torna-se alma e, portanto, norma, que inspira e guia toda a acção educativa concreta..." (n. 36).

É por isso que o Papa encoraja os congressistas de Bayonne e todas as famílias que eles representam, a interrogarem-se sobre o modo e as condições nas quais poderão desempenhar hoje esta missão que lhes pertence de forma prioritária e própria. É igualmente oportuno aprofundar a compreensão sobre o modo pelo qual eles relacionam esta missão com a da instituição escolar. Com efeito o bem das crianças e dos adolescentes, que se encontram no centro de todo o trabalho educativo, deve constituir a finalidade última dos esforços educativos, assegurados ao mesmo tempo pela família e pela escola.

Naturalmente, as mudanças contínuas que se realizam na nossa sociedade — bem como, é preciso dizê-lo, a crise moral que elas provocam — tiveram já e não cessam de continuar a ter consequências deploráveis sobre os costumes familiares. Muitos são os jovens que sofrem de perturbações afectivas resultantes de uma relação precária ou difícil entre os pais, ou mesmo da sua separação, ou provenientes também de dificuldades económicas, do desemprego, da ausência demasiado prolongada do pai ou da mãe, por vezes dos dois, ou ainda devido aos horários de trabalho. Todos estes elementos estão na base de uma real e dolorosa deficiência da educação familiar.

Em tal situação, é grande a tentação da colectividade pública de tomar à sua conta o trabalho educativo dificilmente assumido, se não abandonado, pelos pais. Pode-se compreender certamente que, em certas circunstâncias difíceis, a colectividade deva exercer neste domínio uma função deveras necessária. Mas uma tal função supletiva não deve nunca levar a esquecer ou a ignorar o princípio fundamental das responsabilidades da família. Ela é a "primeira célula" da sociedade, e portanto a primeira encarregada da tarefa educativa. Recusar uma tal missão seria colocar nas mãos do Estado a totalidade da missão educativa. A este respeito, não podemos deixar de discordar de certas interpretações dos direitos da criança, que tendem em última análise a subtrair aos pais os seus direitos fundamentais a exercer a sua responsabilidade de educadores.

É esta mesma lógica de responsabilidade dos pais que justifica o direito que assiste às famílias de "educar os filhos nas escolas que correspondam à sua própria visão do mundo" (Discurso do Papa João Paulo II na UNESCO, 2 de Junho de 1980, n. 18).

Alegrando-se particularmente por saber que um tão grande número de pais da França que confiam os seus filhos ao ensino católico estão reunidos em Bayonne, tanto em seu próprio nome como em representação de centenas de milhares de outros, o Papa deseja que estes dias de amizade, de reflexão e de oração, renovem as convicções e a fidelidade de todos na perspectiva de uma sã concepção dos direitos e dos deveres dos pais, bem como de uma harmoniosa complementaridade das respectivas funções entre a família e a escola. Este Congresso testemunhará sem dúvida, com firmeza e serenidade, em favor da liberdade efectiva na escola educativa necessária a uma justa ordem social. Unindo-se à oração dos congressistas, especialmente durante a celebração eucarística do domingo 22 de Maio, o Papa suplica ao Espírito de Pentecostes que ilumine e encoraje a consciência das famílias, em vista desta conversão das mentalidades e do estilo de existência, que levará a atribuir à função educativa da família a prioridade que ela deve naturalmente ter num lar cristão. A este seu encorajamento, às suas esperanças e às suas orações pela causa do ensino católico. Sua Santidade une a sua afectuosa Bênção Apostólica.

Feliz por vos poder transmitir esta mensagem em nome do Santo Padre, envio os meus próprios votos pelo êxito deste importante Congresso, e peço-vos, Senhor Presidente e caros Congressistas, que aceiteis os meus cordiais sentimentos de dedicação.

Vaticano, 14 de Maio de 1983.

 Cardeal Agostino Casaroli

 

 

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