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MANIFESTAÇÃO A FAVOR DOS CRISTÃOS PERSEGUIDOS PROMOVIDA PELA ORGANIZAÇÃO
"AJUDA À IGREJA QUE SOFRE"

DISCURSO DO CARDEAL SECRETÁRIO DE ESTADO
PIETRO PAROLIN

Roma, Coliseu
Sábado, 24 de fevereiro de 2018

 

Igreja de mártires

Permiti que eu dirija um agradecimento à Fundação Pontifícia “Ajuda à Igreja que sofre” por ter organizado esta iniciativa e pelo convite a participar nela. Saúdo cordialmente todos os presentes e de modo particular quantos nos seguem em ligação de Alepo e de Mossul. Através deles abraço idealmente quantos, no Médio Oriente e no mundo inteiro, estão provados por sofrimentos físicos e morais e continuam a pagar as consequências de conflitos de vários géneros, por vezes no silêncio, na indiferença e até na inércia da comunidade internacional.

Alepo e Mossul — dois lugares-símbolo do imane sofrimento causado por ideologias fundamentalistas, pelo ódio e por interesses geoestratégicos e económicos — estão esta tarde ligados com outro símbolo de grande ressonância para os cristãos e para o mundo inteiro, o Coliseu. No ano 2000 o Anfiteatro Flávio foi escolhido por João Paulo II para a comemoração ecuménica das Testemunhas da fé do século XX. O testemunho oferecido com o derramamento de sangue continua ainda nos nossos dias, também no nosso tempo, como não deixa de recordar com frequência o Santo Padre, afirmando que «hoje a Igreja é Igreja de mártires».

Esta tarde recordamos os cristãos perseguidos, sem esquecer os seguidores de outras religiões, que em diferentes partes do Oecumene são vítimas de violências, fruto de ódio cego, e sofrem as consequências de graves violações das suas liberdades fundamentais, entre as quais sobressai a liberdade de religião. Estes nossos irmãos e irmãs são as primeiras vítimas da propagação de uma mentalidade que não reconhece espaço ao outro, ao diverso, e prefere suprimir em vez de integrar tudo o que, de alguma forma, parece pôr em questão as próprias certezas.

O respeito da liberdade religiosa mais não é do que o reconhecimento da dignidade da pessoa humana. Ontem, convidados pelo Papa Francisco, rezámos e jejuámos invocando de Deus o dom da paz, sobretudo para a República Democrática do Congo, o Sudão do Sul e a Síria. Só voltando para Deus, fonte da dignidade de cada ser humano, nos podemos tornar artífices de paz e restabelecer as relações interpessoais e reagregar sociedades divididas pelo ódio e pela violência. Hoje, presenciamos a este gesto de apoio e proximidade. O simbolismo das imagens que vemos e que se apresentarão diante dos nossos olhos comove as consciências e desperta da indiferença, tornando-se um apelo à sensibilização e ao compromisso.

O recente achamento, numa das galerias superiores do Coliseu, de um símbolo cristão, uma pequena cruz encastoada entre duas letras daquele que parece ser um símbolo pagão de força e domínio, recorda-nos outra realidade: o poder salvífico de Cristo que, humilde e inerme age na história com uma linguagem e com gestos que não conhecem outra expressão a não ser a do amor. Recordar esta mensagem salvífica de esperança, que concerniu também as nossas vidas, é extremamente necessário.

Agora como nunca, muitos cristãos no mundo inteiro o testemunham, vivendo a dolorosa realidade do sofrimento por causa da sua fé, o preço a pagar para testemunhar Cristo, a sua mensagem de amor e de perdão. A eles dedicamos a nossa prece, o nosso apoio, a nossa solidariedade e encorajamento. É por eles que renovamos o nosso compromisso espiritual e material, a certeza de querer empreender todas as vias percorríveis para favorecer a paz, a segurança e um futuro melhor, e a quantos se comprometem a providenciar às necessidades humanitárias vai o nosso sentido agradecimento.

Juntamente com a nossa solidariedade, seja de conforto para os irmãos a esperança no poder salvífico do Senhor. Ele não age à maneira do mundo, mas de Deus: no amor humilde que, deixando cada um livre, está disposto a encarnar-se em cada situação, a assumir qualquer cruz para apoiar, abraçar e salvar. É o poder inerme do grão de trigo que, morrendo, dá muito fruto (cf. Jo 12, 24); é a laboriosa paciência do minúsculo grão de mostarda (cf. Mc 4, 30-32) que, semeado no campo do mundo, cresce todos os dias e com os seus ramos frondosos oferece, a quantos procuram abrigo, o conforto e a paz que só o amor pode dar.