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MENSAGEM DA XI ASSEMBLEIA GERAL
 ORDINÁRIA DO SÍNODO DOS BISPOS
 
AO POVO DE DEUS

Eucaristia:  Pão vivo para a paz do mundo

 

Queridos irmãos Bispos
Queridos Sacerdotes e Diáconos
Amados Irmãos e Irmãs!

1. "A paz seja convosco!". No nome do Senhor, que na noite de Páscoa irrompe no cenáculo de Jerusalém, repetimos:  "A paz seja convosco!" (Jo 20, 21). O mistério da sua morte e ressurreição vos conforte, dando sentido a toda a vossa vida e vos preserve na alegria da esperança! Cristo está vivo na sua Igreja; segundo a sua promessa (cf. Mt 28, 20), ele estará sempre connosco até ao fim do mundo. No Santíssimo sacramento da Eucaristia, é Ele próprio que se doa a nós e nos oferece a alegria de amar como Ele, dando-nos o mandamento de partilhar o seu amor vitorioso com os nossos irmãos e irmãs espalhados pelo mundo inteiro. Eis a mensagem de alegria que vos anunciamos, caríssimos Irmãos e Irmãs, no final do Sínodo dos Bispos sobre a Eucaristia.

Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos reuniu de novo como no cenáculo com Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, para fazer memória da doação suprema da Santíssima Eucaristia.

2. Convocados em Roma por Sua Santidade João Paulo II de venerada memória e confirmados pelo Santo Padre Bento XVI, viemos dos cinco continentes da terra para rezar e reflectir juntos sobre a Eucaristia:  fonte e ápice da vida e da missão da Igreja. A finalidade do Sínodo era oferecer ao Santo Padre Propostas que servissem para requalificar a pastoral eucarística da Igreja. Pudemos expressar o que significa a Sagrada Eucaristia deste as suas origens:  uma só fé e uma só Igreja, alimentada por um único Pão de vida e em comunhão visível com o sucessor de Pedro.

3. A partilha fraterna entre os Bispos, os Auditores e as Auditoras, juntamente com os Representantes das outras Igrejas e Comunidades eclesiais, renovou a nossa convicção de que a Sagrada Eucaristia anima e transforma quer a vida das nossas Igrejas particulares do Oriente e do Ocidente, quer as numerosas actividades humanas nos contextos mais diversos nos quais vivemos.

Sentimos uma profunda alegria ao verificar a unidade da nossa fé eucarística, mesmo se no âmbito de uma grande diversidade de ritos, culturas e situações pastorais. A presença de tantos Delegados Fraternos permitiu-nos experimentar de modo ainda mais directo a riqueza das nossas diversas tradições litúrgicas que faz resplandecer a profundidade do único mistério eucarístico.

Convidamos-vos a rezar com mais intensidade, Irmãos e Irmãs cristãos, para que chegue o dia da reconciliação e da plena unidade visível da Igreja na celebração da Sagrada Eucaristia, em conformidade com a oração do Senhor na vigília da sua morte:  "para que todos sejam um só; como Tu, ó Pai estás em Mim e Eu em Ti, que também eles estejam em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste" (Jo 17, 21).

4. Profundamente reconhecidos ao Senhor pelo pontificado do Santo Padre João Paulo II e pela sua última encíclica Ecclesia de Eucharistia, à qual se seguiu a Carta apostólica Mane nobiscum Domine, com a qual abriu o ano eucarístico, rezamos ao Senhor para que multiplique os frutos do seu testemunho e do seu ensinamento. A nossa gratidão dirige-se também a todo o povo de Deus do qual sentimos a proximidade e a solidariedade durante estas três semanas de oração e de reflexão. As Igrejas particulares na China, e os seus Bispos que não puderam participar nos nossos trabalhos, ocuparam um lugar especial nos nossos pensamentos e orações.

A todos vós, Bispos, sacerdotes e diáconos do mundo inteiro, homens e mulheres consagrados, fiéis leigos e também a vós, homens e mulheres de boa  vontade,  paz  e  alegria  no  Espírito  Santo  em  nome  de  Cristo  Ressuscitado!

À escuta do sofrimento do mundo

5. A Assembleia sinodal constituiu um período intenso de intercâmbios e de testemunhos sobre a vida da Igreja nos diferentes continentes. Tomámos consciência de situações dramáticas e de sofrimentos causados pelas guerras, pela fome, por várias formas de terrorismo e de injustiça, que atingem a vida quotidiana de centenas de milhares de pessoas. Os diversos focos de violência no Médio Oriente e em África tocaram-nos particularmente, mas também nos sensibilizaram mais face ao esquecimento deste continente na opinião pública mundial. As calamidades naturais, que parecem multiplicar-se com uma frequência cada vez maior, obrigam a considerar com mais respeito a natureza e a fortalecer os vínculos de solidariedade com as populações atingidas.

Não escondemos as consequências da secularização presentes sobretudo sobretudo no Ocidente, que levam à indiferença religiosa e às diversas expressões do relativismo. Recordámos e denunciámos as situações de injustiça e de pobreza extrema que proliferam em toda a parte, mas sobretudo em África e na Ásia. Todos estes sofrimentos bradam a Deus e provocam a consciência da humanidade. Este grito interpela-nos. O que se está a tornar, de facto, a aldeia global do nosso mundo que corre o risco de se autodestruir devido à ameaça que domina o ambiente? O que fazer para que nesta era da globalização a solidariedade possa triunfar sobre o sofrimento e a miséria? O nosso pensamento dirige-se a quantos governam as nações para que considerem com a devida atenção o bem de todos e sejam promotores da plena dignidade de cada pessoa, desde a concepção da vida até ao seu fim natural. A eles pedimos que promovam leis que respeitem o direito natural do matrimónio e da família. Por nosso lado, continuaremos a participar activamente no compromisso comum de criar as condições duradouras para um real progresso de toda a família humana, onde a ninguém falte o pão quotidiano.

6. Levámos estes sofrimentos e estes problemas à celebração e adoração eucarística. Nos nossos debates, ouvindo-nos profundamente uns aos outros, ficámos comovidos e abalados pelo testemunho de mártires que ainda estão presentes nos nossos dias, como em toda a história da Igreja, em diversas partes da terra. Os Padres sinodais recordaram que os mártires encontraram sempre a força para vencer o ódio com o amor e a violência com o perdão, graças à Sagrada Eucaristia.

"Fazei isto em memória de Mim"

7. Na vigília da sua Paixão, "Jesus tomou o pão e, depois de pronunciar a bênção, partiu-o e deu-o aos Seus discípulos, dizendo:  "Tomai, comei:  Isto é o Meu corpo". Tomou, em seguida, um cálice, deu graças e entregou-lho dizendo:  "Bebei dele todos. Porque este é o Meu sangue, sangue da aliança, que vai ser derramado por muitos para remissão dos pecados"" (Mt 26, 26-28); "Fazei isto em memória de Mim" (Lc 22, 19; 1 Cor 11, 24-25). A Igreja, desde as suas origens, faz memória da morte e ressurreição de Jesus, com as suas mesmas palavras e gestos da última Ceia, pedindo ao Espírito Santo que transforme o pão e o vinho no Corpo e no Sangue de Cristo. Nós cremos firmemente e ensinamos na tradição constante da Igreja que as palavras de Jesus, pronunciadas pelo sacerdote durante a Santa Missa, pelo poder do espírito Santo, realizam aquilo que significam. Estas palavras realizam a presença real de Cristo Ressuscitado (cf. CIC 1366). A Igreja vive deste dom supremo que a reúne, purifica e transforma no único Corpo de Cristo animado por um só Espírito (cf. Ef 5, 29).

A Eucaristia é o dom do amor, amor do Pai que enviou o seu Filho único para que o mundo seja salvo (cf. Jo 3, 17); amor de Cristo que nos amou até ao fim (cf. Jo 13, 1); amor de Deus derramado nos nossos corações mediante o Espírito Santo (cf. Rm 5, 5), que nos brada:  "Abbá, Pai" (Gl 4, 6). Portanto ao celebrar o Santo Sacrifício, anunciamos com alegria a salvação do mundo e proclamamos a morte vitoriosa do Senhor até à sua vinda. Comungando do seu Corpo, por fim, recebemos o "penhor" da nossa própria ressurreição.

8. Quarenta anos após o Concílio Ecuménico Vaticano II fomos estimulados a fazer um exame de consciência pastoral, para verificar em que medida a fé é expressa e celebrada com coerência nas nossas Assembleias litúrgicas. O Sínodo reafirma que o Concílio Ecuménico Vaticano II lançou as bases necessárias para uma autêntica renovação litúrgica. Por conseguinte, é necessário cultivar os frutos positivos e corrigir os abusos que se infiltraram na prática. Estamos convictos de que o respeito do carácter sagrado da liturgia passa através de uma autêntica fidelidade às normas litúrgicas da legítima autoridade. Ninguém se considere dono da Liturgia da Igreja. A fé viva colhe a presença do Senhor e constitui a primeira condição para a beleza das celebrações e para o seu cumprimento no amen pronunciado para glória de Deus.

Luzes na vida eucarística da Igreja

9. Os trabalhos do Sínodo realizaram-se numa atmosfera de júbilo e de fraternidade que foi alimentada por um debate aberto dos problemas e por uma partilha espontânea dos frutos do ano eucarístico. A escuta e as intervenções do Santo Padre Bento XVI foram para todos nós um exemplo e uma ajuda preciosa. Muitos testemunhos referiram factos positivos que confortam; por exemplo, a renovada tomada de consciência sobre a importância da Santa Missa dominical, o aumento das vocações sacerdotais e de vida consagrada em várias partes do mundo, a forte experiência das jornadas mundiais da juventude que culminaram na Alemanha, em Colónia, o desenvolvimento de numerosas iniciativas para a adoração do Santíssimo Sacramento em todo o mundo, o renovamento da catequese do Baptismo e da Eucaristia à luz do Catecismo da Igreja Católica, o crescimento de movimentos e comunidades que formam missionários para a nova evangelização, a multiplicação de tantos grupos de ministrantes, viveiros de novas vocações, e muitas outras experiências que nos abrem para uma sincera acção de graças.

Por fim, nós, Padres sinodais desejamos que o ano eucarístico seja o início e um ponto de referência para a nova evangelização da humanidade, na era da globalização, a partir da Eucaristia.


10. Desejamos que o "enlevo eucarístico" (EE 6) estimule os fiéis a uma vida interior cada vez mais forte. Para esta finalidade, as tradições orientais ortodoxas e católicas celebram a Divina Liturgia, praticam a oração de Jesus e o jejum eucarístico, enquanto a tradição latina propõe uma "espiritualidade eucarística" que tem o seu ápice na celebração eucarística e na adoração do Santíssimo Sacramento fora da Missa, as bênçãos eucarísticas, as procissões com o Santíssimo Sacramento e as manifestações sadias de piedade popular. Tal espiritualidade será certamente fecunda no apoio à vida quotidiana e no fortalecimento do nosso testemunho.

11. Agradecemos ao Senhor porque muitos Países onde os sacerdotes estavam ausentes ou eram obrigados à clandestinidade, a Igreja hoje pode celebrar livremente os santos Mistérios. A liberdade de evangelização e os testemunhos de reencontrado fervor despertam pouco a pouco a fé em zonas profundamente descristianizadas. Saudamos com afecto e encorajamos quantos ainda sofrem as perseguições. Além disso, pedimos para que onde os cristãos são uma minoria possam celebrar o dia do Senhor em plena liberdade.

Desafios para um renovamento eucarístico

12. A vida das nossas Igrejas está marcada também por algumas sombras e problemas que não eludimos. Pensamos, em primeiro lugar, na perda do sentido do pecado e na crise persistente na prática do sacramento da Penitência. É importante redescobrir o seu significado profundo:  é uma conversão e um remédio precioso doado por Cristo Ressuscitado para a remissão dos pecados (cf. Jo 20, 23) e para o crescimento no amor para com Ele e com os irmãos.

Contudo, observamos com interesse que cada vez mais jovens, devidamente instruídos na catequese, praticam a confissão pessoal dos pecados e manifestam uma sensibilidade à reconciliação, exigida para receber dignamente a Sagrada Comunhão.

13. Preocupa-nos em grande medida a falta de presbíteros para a celebração da Eucaristia dominical, o que nos convida a rezar e a promover mais activamente a pastoral para as vocações sacerdotais. Diversos sacerdotes, com grande dificuldade, são obrigados a multiplicar as celebrações e a transferir-se de um lugar para outro para corresponder do melhor modo possível às necessidades dos fiéis ao preço de grandes fadigas. Merecem a nossa estima e a nossa gratidão. Dirigimos um pensamento de reconhecimento também aos numerosos missionários cujo entusiasmo pelo anúncio do Evangelho permite até hoje ser fiéis ao mandamento do Senhor de ir por todo o mundo e baptizar no seu nome (cf. Mt 28, 19).

14. Por outro lado, estamos preocupados porque a ausência do sacerdote impede a celebração da Santa Missa no dia do Senhor. Em diversos continentes que sofrem pela falta de sacerdotes já existem várias formas de celebração. A prática da "comunhão espiritual", contudo, tão querida à tradição católica poderia e deveria ser em maior medida promovida e explicada, para ajudar os fiéis a melhor se comunicarem sacramentalmente quer para servir de verdadeiro conforto a quantos não podem receber a comunhão do Corpo e do Sangue de Cristo quer por várias razões. Pensamos que esta prática ajudaria as pessoas sozinhas, em particular os deficientes, os idosos, os presos e os refugiados.

15. Conhecemos a tristeza de quantos não podem ter acesso à comunhão sacramental devido a uma situação familiar não conforme com o mandamento do Senhor (cf. Mt 19, 3-9). Alguns divorciados que voltaram a casar aceitam com sofrimento não poder receber a comunhão sacramental e oferecem-no a Deus. Outros não compreendem esta restrição e vivem uma frustração interior. Reafirmamos que, mesmo se na irregularidade da sua situação (cf. CIC 2384), não estão excluídos da vida da Igreja. Pedimos-lhe que participem na Santa Missa dominical e que se dediquem assiduamente à escuta da palavra de Deus para que ela possa alimentar a sua vida de fé, de caridade e de partilha. Desejamos dizer que estamos próximos deles com a oração e com a solicitude pastoral; todos juntos pedimos ao Senhor que obedeçam fielmente à sua vontade.

16. Verificámos nalguns ambientes um baixo sentido do sagrado que diz respeito não só à participação activa e generosa dos fiéis na Santa Missa, mas também ao modo de celebrar e à qualidade do testemunho público de vida que os cristãos estão chamados a dar. Através da Sagrada Eucaristia procuremos despertar o sentido e a alegria de pertencer à comunidade católica porque em alguns Países multiplicam-se os abandonos. O facto da descristianização exige uma formação melhor da vida cristã nas famílias, de modo que a prática dos sacramentos se renove e exprima realmente o conteúdo de fé. Por conseguinte, convidamos os pais, os pastores e os catequistas a mobilizarem-se para abrir um grande canteiro de evangelização e de educação para a fé no início deste novo milénio.

17. Diante do Senhor da história, do presente e do futuro, os pobres de sempre e os novos, as vítimas cada vez mais numerosas da injustiça e todos os esquecidos da terra interpelam-nos; trazem à nossa mente a agonia de Cristo que dura até ao fim dos tempos. Estes sofrimentos não podem permanecer alheios às celebrações do mistério eucarístico que compromete todos nós a trabalhar pela justiça e pela transformação do mundo de modo activo e consciente, fortalecidos pelo ensinamento social da Igreja, que promove a centralidade da pessoa e da sua dignidade.
"Não podemos iludir-nos:  pelo amor recíproco e, em particular, pela solicitude por quem se encontra em necessidade seremos reconhecidos como verdadeiros discípulos de Cristo (cf. Jo 13, 35; Mt 25, 31-46). Eis o critério com base no qual será comprovada a autenticidade das nossas celebrações eucarísticas" (Mane nobiscum Domine, 28).

Sereis minhas testemunhas

18. "Jesus, que amou os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim". São João revela o sentido da instituição da Sagrada Eucaristia com a narração do lava-pés (cf. Jo 13, 1-20). Jesus inclina-se para lavar os pés dos seus discípulos como sinal do seu amor que vai até ao extremo. Este gesto profético antecipa o despojamento de si até à morte na cruz que tira os pecados do mundo e lava as nossas almas de qualquer culpa. A Sagrada Eucaristia é o dom do amor, um encontro com Deus que nos ama e uma fonte da qual jorra a vida eterna. Nós, Bispos, sacerdotes e diáconos somos as primeiras testemunhas e os servos deste amor.

19. Queridos sacerdotes, nestes dias pensámos muito em vós, conhecemos a vossa generosidade e dedicação. Em comunhão connosco carregai o peso do serviço pastoral quotidiano junto do povo de Deus. Anunciai com vigor a Palavra do Senhor, procurando introduzir bem os fiéis no mistério eucarístico. Que graça é o vosso ministério! Rezamos convosco e por vós para que juntos possamos permanecer fiéis ao amor de Cristo. Pedimos-vos que sejais, juntamente connosco e a exemplo do Santo Padre Bento XVI, os "humildes trabalhadores na vinha do Senhor", com uma vida sacerdotal coerente. A paz de Cristo, que ofereceis aos pecadores penitentes e às assembleias eucarísticas, resplandeça sobre vós e sobre as comunidades que vivem do vosso testemunho.

Recordamos com gratidão o compromisso dos diáconos permanentes, dos catequistas, dos agentes de pastoral e dos numerosos fiéis leigos a favor da comunidade. Que o vosso serviço seja sempre fecundo e generoso, amparado por uma plena comunhão de intenções e de acção com os Pastores da comunidade.

20. Caríssimos irmãos e irmãs, qualquer que seja o estado de vida no qual somos chamados a viver a nossa vocação baptismal, revistamo-nos dos sentimentos de Jesus Cristo (cf. Fl 2, 2) e segundo o seu exemplo concorramos uns com os outros na humildade e no amor. A nossa caridade recíproca não é apenas uma imitação do Senhor, é uma prova viva da sua presença que age no meio de nós. Saudamos e agradecemos todas as pessoas consagradas, esta porção escolhida para a vinha do Senhor, que em plena gratuidade testemunha a boa notícia do Esposo que há-de vir (cf. Ap 22, 17-20). O vosso testemunho eucarístico no seguimento de Cristo é um grito de amor na noite do mundo, um eco do Stabat Mater e do Magnificat. A Mulher eucarística por excelência, coroada de estrelas e imensamente fecunda, Virgem Assunta e Imaculada Conceição, vos proteja na paz e na alegria da Páscoa para a esperança do mundo, no serviço que prestais a Deus e aos pobres.

21. Queridos jovens, o Santo Padre Bento XVI disse-vos e repetiu-vos que ao doar-vos a Cristo nada perdeis. Retomemos as suas palavras fortes mas serenas, pronunciadas para a Santa Missa de início do seu ministério, que vos orientam para a verdadeira felicidade, no maior respeito da vossa liberdade:  "Não tenhais medo de Cristo! Ela de nada priva e tudo doa. Quem se doa a Ele recebe o cêntuplo. Sim, abri de par em par as portas a Cristo e encontrareis a vida verdadeira". Confiamos nas vossas capacidades e no vosso desejo de desenvolver os valores positivos do mundo e de mudar quanto nele há de injusto. Contai com o nosso apoio e com a nossa oração para enfrentarmos juntos o desafio de construir o futuro com Cristo. Vós sois "as sentinelas da manhã" e os "exploradores do futuro". Não deixareis de haurir da fonte da energia divina da Sagrada Eucaristia para realizar as transformações necessárias.

Aos jovens seminaristas que se estão a preparar para o ministério sacerdotal e partilham com os seus coetâneos as esperanças pelo futuro, desejamos fazer chegar um pensamento particular para que a sua vida de formação seja impregnada de uma genuína espiritualidade eucarística.

22. Queridos casais cristãos com as vossas famílias, a vossa vocação à santidade, como igreja doméstica alimenta-se na sagrada Mesa da Eucaristia. A vossa fé no sacramento do matrimónio transforma a união conjugal num templo do Espírito Santo, numa nascente fecunda de vida nova ao gerar os filhos, fruto do vosso amor. Falámos com frequência de vós no Sínodo, porque estamos conscientes das fragilidades e incertezas do mundo presente. Tende coragem no vosso esforço por educar os filhos na fé. Sede rebentos de vocações para o sacerdócio e para a vida consagrada; não vos esqueçais que Cristo está presente na vossa união e a abençoa com todas as graças das quais tendes necessidade para viver santamente a vossa vocação. Encorajamos-vos a preservar o costume de participar com toda a família na Eucaristia dominical. Desta forma alegrais o coração de Jesus que disse:  "Deixai vir a mim as criancinhas" (Mc 10, 14).

23. Desejamos dirigir uma palavra a quantos sofrem, em particular aos doentes e aos deficientes, que com o seu sofrimento vivido na fé se unem ao sacrifício de Cristo (cf. Rm 12, 2). Pelo sofrimento que levais no corpo e no vosso coração participais de modo especial no sacrifício eucarístico e sois testemunhas privilegiadas do amor que ele exprime. Estamos certos de que no momento em que fazemos a experiência da debilidade e dos nossos limites, a força da Eucaristia pode ser de grande ajuda. Unidos ao mistério pascal de Cristo, encontramos a resposta para as perguntas angustiantes do sofrimento e da morte, sobretudo quando a doença atinge as crianças inocentes. Estamos próximos de todos vós, mas sobretudo dos moribundos que recebem o Corpo de Cristo como viático para a sua derradeira passagem para a vida eterna.

Que todos sejam um só

24. O Santo Padre Bento XVI reafirmou o solene compromisso da Igreja pela causa ecuménica. Todos somos responsáveis por esta unidade (cf. Jo 17, 21) porque, mediante o Baptismo, somos membros da família de Deus, gratificados pela mesma dignidade fundamental e partilhando o inestimável dom sacramental da vida divina. Todos sentimos o sofrimento da separação que impede a celebração comum da Eucaristia. Desejamos intensificar nas nossas comunidades a oração pela unidade, o intercâmbio de dons entre as Igrejas e as comunidades eclesiais, assim como os relacionamentos respeitosos e fraternos entre nós, para que possamos conhecer-nos melhor e amar-nos, respeitando e apreciando as nossas diferenças e os valores comuns. Normas claras da Igreja estabelecem as condições para aceder à comunhão eucarística com irmãos e irmãs que ainda não estão em plena comunhão connosco. Uma disciplina sadia impede a confusão e os gestos improvisados que, ao contrário, podem prejudicar a verdadeira comunhão.

25. Como cristãos, estamos próximos dos outros filhos de Abraão:  dos judeus, herdeiros da primeira Aliança, e dos muçulmanos. Celebrando a Sagrada Eucaristia pensamos ser, como diz santo Agostinho, "sacramento da humanidade" (cf. De civ. Dei, 10, 6), a voz de todas as orações e súplicas que se elevam da terra para Deus.

Conclusão:  Paz repleta de esperança

Caríssimos Irmãos e Irmãs!

26. Agradeçamos ao Senhor esta XI Assembleia sinodal que nos permitiu voltar à nascente do mistério da Igreja, quarenta anos após o Concílio Vaticano II. Terminamos o Ano da Eucaristia, confirmando-nos na unidade e renovando-nos no entusiasmo apostólico e missionário.
No início do quarto século do cristianismo, o culto cristão ainda era proibido pelas autoridades do Império Romano. Alguns cristãos do Norte de África ligados à celebração do dia do Senhor desafiaram a proibição. Foram martirizados enquanto declaravam que não teriam podido viver sem a Eucaristia do domingo. Os quarenta e nove mártires de Abitene, juntamente com tantos santos e beatos que fizeram da Eucaristia o centro da sua vida, intercedem por nós no início do novo milénio. Ensinam-nos a fidelidade ao encontro na Nova Aliança com Cristo ressuscitado.

No final deste Sínodo experimentamos esta paz cheia de esperança que os discípulos de Emaús receberam com o coração ardente do Senhor ressuscitado. Eles levantaram-se e regressaram apressadamente a Jerusalém para partilhar a alegria com os irmãos e as irmãs na fé. Nós desejamos que possais ir repletos de alegria ao encontro da Sagrada Eucaristia e viver pessoalmente a verdade da sua Palavra:  "E Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo" (Mt 28, 20).

Caríssimos irmãos e irmãs, a paz esteja convosco!

 

 

 
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