Sexta-feira, 29 de Maio de 2009
Senhor Embaixador
É-me grato recebê-lo no Vaticano e aceitar as Cartas Credenciais que o nomeiam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Nova Zelândia junto da Santa Sé. Pedir-lhe-ia a cortesia de transmitir ao Governador-Geral, ao Primeiro-Ministro Senhor John Key e ao seu governo, assim como a todo o povo da Nova Zelândia, os meus sinceros bons votos e a certeza das minhas preces pelo bem-estar do país.
O compromisso da Igreja a favor da sociedade civil está ancorado na sua convicção de que o autêntico progresso humano como indivíduos ou comunidades depende do reconhecimento da dimensão espiritual que é própria de cada pessoa. É de Deus que os homens e as mulheres recebem a sua dignidade essencial (cf. Gn 1, 27), assim como a capacidade de transcender os interesses particulares para procurar a verdade e a bondade e deste modo encontrar a razão e o significado das suas vidas. Esta ampla perspectiva oferece uma moldura em que é possível contrastar qualquer tendência a adoptar abordagens superficiais para uma política social que se preocupa unicamente com os sintomas das inclinações negativas na vida familiar e no seio das comunidades, e não pelas suas raízes. Com efeito, quando se ilumina o cerne espiritual da humanidade, os indivíduos são levados para além de si mesmos, para ponderar sobre Deus e sobre as maravilhas da vida humana: o ser, a verdade, a beleza, os valores morais e os relacionamentos que respeitam a dignidade do próximo. Deste modo pode-se encontrar um fundamento sério para unir a sociedade e sustentar uma visão comum de esperança.
Os jovens de Aotearoa justamente gozam de uma reputação pela sua generosidade e por um sentido intenso do que é justo. Apreciando os numerosos privilégios que lhes são oferecidos, eles empenham-se prontamente nos trabalhos de voluntariado e no serviço ao próximo, enquanto aproveitam as grandes oportunidades que lhes são oferecidas para a realização pessoal e o desenvolvimento cultural e académico. A Jornada Mundial da Juventude, realizada pela primeira vez na Oceânia no ano passado, deu-me a oportunidade de experimentar um pouco do espírito de milhares de jovens neozelandeses que nela participaram. Rezo para que esta nova geração de cristãos na Nova Zelândia orientem o seu entusiasmo para forjar amizades além das divisões e para criar espaços de fé viva no nosso mundo e para o nosso mundo, como contextos de esperança e de caridade prática. Deste modo, eles conseguem ajudar outros jovens que podem ser desorientados pela ilusão de promessas falsas de felicidade e de realização, ou que se encontram a lutar às margens da sociedade.
Excelência, a diversidade cultural oferece uma grande riqueza ao tecido social da Nova Zelândia de hoje. A presença contínua no vosso litoral de comunidades de migrantes de diversas tradições religiosas, além da aumentada participação do seu governo nos assuntos do Pacífico e da Ásia, tem despertado a consciência dos frutos que podem ser alcançados através do diálogo inter-religioso. Com efeito, não há muito tempo, a sua nação foi a sede do terceiro Diálogo interconfessional regional da Ásia e do Pacífico, realizado na histórica sede de Waitangi. No entanto, alguns continuam a questionar o lugar da religião na esfera pública e têm dificuldade de imaginar como é que ela pode servir a sociedade, de maneira particular numa cultura altamente secular. Naturalmente, isto aumenta a responsabilidade dos fiéis, de dar testemunho do significado da relação essencial de cada homem e de cada mulher com Deus, à imagem da qual foram criados. Quando o dom divino da razão humana é exercido em referência à verdade que Ele nos revela, os nossos poderes de reflexão são adornados com a sabedoria e deste modo vão além do empírico e do fragmentário e, ao contrário, dão expressão às nossas mais profundas aspirações humanas comuns. Desta maneira o debate público, em vez de permanecer fechado no horizonte estreito de grupos de interesses particulares, é ampliado e torna-se responsável pela fonte do bem comum e da dignidade de cada um dos membros da sociedade. Longe de ameaçar a tolerância das diferenças ou da pluralidade cultural, a verdade torna possível o consenso, assegura que as opções políticas sejam determinadas por princípios e valores, e enriquece a cultura com tudo aquilo que é bom, nobre e justo.
A actividade diplomática da Nova Zelândia, predominante no Pacífico e considerada na Ásia e mais além, é caracterizada por um forte compromisso na justiça e na paz, no bom governo, no desenvolvimento económico e na promoção dos direitos humanos. O empenhamento generoso de pessoas dedicadas a iniciativas de manutenção da paz pode ser encontrado das Ilhas Salomão até ao Sudão, e as abordagens inovativas da Nova Zelândia à assistência estrangeira incluem o notável e recente exemplo do desenvolvimento do ecoturismo no Afeganistão. Como Vossa Excelência indicou, a Santa Sé tem trabalhado estreitamente com a Nova Zelândia no desenvolvimento da Convenção sobre a proibição das munições de fragmentação; uma conquista que explica muito bem a necessidade da ética, que deriva da verdade a respeito da pessoa humana, para permanecer no centro de todas as relações internacionais, inclusive nas de defesa.
Senhor Embaixador, a Igreja católica que está na Nova Zelândia continua a fazer tudo o que pode para promover os fundamentos cristãos da vida cívica. Ela está profundamente empenhada na formação espiritual e intelectual dos jovens, de maneira especial através das suas escolas. Além disso, as suas obras caritativas incluem as pessoas que vivem marginalizadas na sociedade, e estou convicto de que, mediante a sua missão de serviço, ela há-de enfrentar generosamente os novos desafios sociais, na medida em que eles se apresentarem. A este propósito, desejo aproveitar este ensejo para manifestar a minha proximidade espiritual àquelas famílias que na Nova Zelândia, assim como no mundo inteiro, estão a sofrer por causa dos efeitos da actual incerteza económica. Penso particularmente naqueles que perderam o seu trabalho e nos jovens que têm dificuldade em obter um emprego.
Excelência, estou persuadido de que a sua nomeação contribuirá para fortalecer ulteriormente os vínculos de amizade que já existem entre a Nova Zelândia e a Santa Sé. No momento em que Vossa Excelência está a assumir as suas novas responsabilidades, há-de descobrir que a diversificada gama de departamentos da Cúria Romana estará pronta para o assistir no cumprimento dos seus deveres. Sobre Vossa Excelência e sobre os seus compatriotas, invoco cordialmente as abundantes Bênçãos de Deus Todo-Poderoso.
*L'Osservatore Romano. Edição semanal em português n. 23 pp. 10, 11.
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