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DISCURSO DO PAPA BENTO XVI
AO SENHOR HAN HONG-SOON

NOVO EMBAIXADOR DA COREIA JUNTO DA SANTA SÉ
POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO
DAS CARTAS CREDENCIAIS

 

Excelência

É-me grato dar-lhe as boas-vindas ao Vaticano e aceitar as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Coreia junto da Santa Sé. Gostaria de manifestar a minha gratidão pelos bons votos que Vossa Excelência me transmitiu da parte do Presidente Lee Myung-bak, cuja visita ao Vaticano, no ano passado, recordo com muito prazer. Com efeito, a visita de Sua Excelência foi útil para aprofundar as relações, já deveras cordiais, que existem há praticamente meio século entre o seu país e a Santa Sé. Peço-lhe a amabilidade de transmitir as minhas cordiais saudações a Sua Excelência e ao Governo, assegurando-lhes as minhas preces contínuas por toda a população da Coreia.

É animador observar o notável crescimento económico que o seu país tem experimentado ao longo dos últimos anos, que transformou a Coreia de um simples receptor de ajuda num país doador. Tal desenvolvimento seria inconcebível sem um importante nível de industriosidade e generosidade da parte do povo coreano, e aproveito este ensejo para prestar homenagem às suas conquistas. Ao mesmo tempo, como o seu Presidente salientou durante a sua visita ao Vaticano, num progresso económico rápido existem perigos inerentes que demasiado facilmente podem subestimar as considerações éticas, com o resultado de que os elementos mais pobres da sociedade tendem a ser excluídos da sua justa participação na prosperidade da nação. A crise financeira dos últimos anos exacerbou este problema, mas também chamou a atenção para a necessidade de renovar os fundamentos éticos de todas as actividades económicas e políticas. Desejo encorajar o seu Governo no compromisso para assegurar que a justiça social e a solicitude pelo bem comum cresçam juntamente com a prosperidade material, e garanto-lhe que a Igreja católica na Coreia está pronta e desejosa de trabalhar com o Governo na busca da promoção destas dignas finalidades.

Com efeito, o compromisso da Igreja local de trabalhar em prol do bem da sociedade é ilustrado pela vasta gama de apostolados em que está comprometido. Através da sua rede de escolas e de programas educacionais, ela contribui enormemente para a formação moral e espiritual dos jovens. Através do seu trabalho a favor do diálogo inter-religioso, procura derrubar as barreiras entre os povos e fomentar a coesão social fundamental assente no respeito mútuo e no aumento da compreensão. Nas suas obras de caridade, ela procura assistir os pobres e necessitados, particularmente os refugiados e os trabalhadores migrantes, que muitas vezes são marginalizados pela sociedade. De todas estas maneiras, a Igreja local contribui para nutrir e promover os valores da solidariedade e da fraternidade, que são essenciais para o bem comum de qualquer comunidade humana, e reconheço com gratidão o apreço manifestado por parte do seu Governo pelo compromisso da Igreja em todas estas áreas.

Além disso, a Igreja «tem um papel público que não se esgota nas suas actividades de assistência ou de educação» (Caritas in veritate, 11). Trata-se de um papel que exige a proclamação das verdades do Evangelho, que nos desafia continuamente a olhar além do pragmatismo limitado e dos interesses de parte, que muitas vezes podem condicionar as opções políticas, e deste modo reconhecer as obrigações que incumbem sobre nós em vista da dignidade da pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus. Isto exige de nós um compromisso inequívoco na defesa da vida humana em todas as fases, desde a concepção até à morte natural, na promoção de uma vida familiar estável, em conformidade com as normas da lei natural, e na construção da paz e da justiça onde quer que haja conflitos. A importância que o seu Governo atribui às nossas relações diplomáticas demonstra o seu reconhecimento pelo papel profético da Igreja em tais campos, e agradeço-lhe a disponibilidade que Vossa Excelência expressou em nome do seu Governo, de continuar a trabalhar com a Santa Sé a fim de promover o bem comum da sociedade.

Neste contexto, gostaria de manifestar o apreço da Santa Sé pela função concreta desempenhada pela República da Coreia no seio da comunidade internacional. Fomentando a paz e a estabilidade da Península, assim como a segurança e a integração económica das nações em toda a região da Ásia e do Pacífico, através dos seus vínculos diplomáticos com os países africanos, e de modo especial hospedando no próximo mês o encontro do g20 em Seul, o seu Governo deu uma grande prova do seu papel de importante protagonista no cenário mundial, e tem contribuído para garantir que o processo de globalização seja orientado por considerações de solidariedade e fraternidade. Sob «a guia da caridade na verdade», a Santa Sé está ansiosa por cooperar com todos os seus esforços para guiar as poderosas forças que forjam a vida de milhões de pessoas, rumo àquela «“civilização do amor”, cuja semente Deus colocou em todos os povos e culturas» (Caritas in veritate, 33).

Vossa Excelência falou sobre o Congresso dos leigos católicos asiáticos, que teve lugar em Seul no início de Setembro, sob o patrocínio do Pontifício Conselho para os Leigos. Também eu vejo neste importante acontecimento um claro sinal da cooperação frutuosa que já existe entre o seu país e a Santa Sé, e que é promissor para o futuro das nossas relações. O Congresso centrou, justamente, a sua atenção nos fiéis leigos que, como o Senhor Embaixador quis frisar, não apenas lançaram as primeiras sementes do Evangelho no solo coreano mas também testemunharam em grande número a firmeza da sua fé em Cristo, através do derramamento do próprio sangue. Estou persuadido de que, inspirados e fortalecidos pelo testemunho dos mártires coreanos, os leigos e as leigas continuarão a edificar a vida e o bem-estar da Nação mediante «a sua solicitude amorosa pelos pobres e oprimidos, a sua disponibilidade para perdoar os próprios inimigos e perseguidores, o seu exemplo de justiça, de verdade e de solidariedade nos lugares de trabalho e a sua presença na vida pública» (Mensagem ao Congresso dos leigos católicos asiáticos, Seul — 2010).

Excelência, enquanto formulo os meus melhores votos pelo bom êxito da sua missão, gostaria de lhe assegurar que os vários departamentos da Cúria romana estão prontos a oferecer-lhe ajuda e apoio no cumprimento dos seus deveres. Sobre Vossa Excelência, a sua família e toda a população da República da Coreia, invoco cordialmente as abundantes Bênçãos de Deus.

 

© Copyright 2010 - Libreria Editrice Vaticana

 



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