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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE

 

A esperança, esta desconhecida

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 44 de 31 de Outubro de 2013

 

A esperança é a mais humilde das três virtudes teologais, porque se esconde na vida. Contudo, ela transforma-nos em profundidade, assim como «uma mulher grávida não deixa de ser mulher» mas é como se se transformasse porque se torna mãe. O Papa Francisco falou sobre a esperança na manhã de terça-feira, 29 de Outubro, durante a missa celebrada em Santa Marta, reflectindo sobre a atitude dos cristãos na expectativa da revelação do Filho de Deus.

A esta atitude está ligada a esperança, uma virtude, disse o Papa, que se revelou mais forte do que o sofrimento, assim como escreve são Paulo na carta aos romanos (8, 18-25). «Paulo — frisou o Pontífice — refere-se aos sofrimentos do tempo presente, mas diz que não são comparáveis com a glória futura que será revelada em nós». O apóstolo fala de «fervorosa expectativa», uma tensão rumo à revelação que se refere a toda a criação. «Esta tensão é a esperança — disse o Papa — e viver na esperança é viver nesta tensão», na expectativa da revelação do Filho de Deus, quando toda a criação, «e também cada um de nós», for libertado da escravidão «para entrar na glória dos filhos de Deus».

Dizem, prosseguiu, que é «a mais humilde das três virtudes, porque se esconde na vida. Vemos e sentimos a fé, sabemos o que é; praticamos a caridade, sabemos o que é. Mas o que é a esperança?». A resposta do Papa foi: «Para nos aproximarmos mais podemos dizer em primeiro lugar que é um risco. A esperança é uma virtude perigosa, uma virtude, como diz são Paulo, de uma expectativa fervorosa pela revelação do Filho de Deus. Não é uma ilusão. É aquela que os israelitas tinham», os quais, quando foram libertados da escravidão disseram: «parecia que sonhávamos. Então a nossa boca abriu-se num sorriso e a nossa língua encheu-se de alegria».

Paulo «mostra outro ícone da esperança — acrescentou o Papa — é o do parto. De facto, sabemos que toda a criação, e também nós com ela, «geme e sofre as dores de parto até hoje». Não só, mas também nós, que possuímos as primícias do espírito, gememos — pensai na mulher que dá à luz — gememos interiormente, esperando. Estamos na expectativa. Este é um parto». A esperança, acrescentou, põe-se nesta dinâmica do dar a vida. A esperança «é uma graça que deve ser pedida». O Papa frisou que «uma coisa é viver na esperança, porque na esperança somos salvos, e outra é viver como bons cristãos e nada mais, viver na expectativa da revelação, ou viver bem com os mandamentos»; estar ancorados nas margens do mundo futuro «ou estacionados na laguna artificial». Para explicar o conceito o Papa indicou como mudou a atitude de Maria, «uma jovem», quando soube que seria mãe: «Vai, ajuda e canta aquele cântico de louvor». Porque, explicou o Papa Francisco, «quando uma mulher está grávida, é mulher» mas é como se se transformasse profundamente porque agora «é mãe». E a esperança é algo semelhante: «muda a nossa atitude». Por isso, acrescentou, «peçamos a graça de sermos homens e mulheres de esperança».

Durante a missa celebrada na manhã de segunda-feira, 28 de Outubro, o Papa Francisco reflectiu sobre o valor da oração feita pelo nosso próximo que vive um momento de dificuldade. A reflexão do Pontífice iniciou com um comentário do trecho evangélico de Lucas (6, 12-19) no qual se narra a escolha dos doze apóstolos feita por Jesus. É um dia «um pouco especial — disse — devido à escolha dos apóstolos». Uma escolha, acrescentou, que só aconteceu depois que Jesus rezou «sozinho» ao Pai.

Para ajudar a compreender melhor o sentido da oração de Jesus, o bispo de Roma recordou «aquele bonito discurso depois da ceia de quinta-feira santa, quando reza ao Pai dizendo: eu rezo pelos meus discípulos; mas também rezo por todos, inclusive pelos que virão e que acreditarão». A oração «de Jesus é universal» e é também «uma oração pessoal». Mas, se é verdade que Jesus naquele tempo rezava, reza ainda hoje? «Sim, diz a Bíblia», respondeu. E explicou: «É o intercessor, aquele que reza», e reza ao Pai «connosco e diante de nós. Jesus salvou-nos. Fez esta grande oração, o sacrifício da sua vida para nos salvar. Fomos justificados graças a Ele. Agora não está aqui. Mas reza».

Portanto, «Jesus é uma pessoa, é um homem com carne como a nossa, mas na glória. Jesus tem chagas nas mãos, nos pés e no lado. E quando reza mostra ao Pai o preço da justificação e reza por nós. É como se dissesse: Pai, que isto não se perca». Jesus, prosseguiu o Papa Francisco, tem sempre em mente a nossa salvação. E «por isso, quando rezamos dizemos: Por nosso Senhor Jesus Cristo vosso Filho. Porque ele reza primeiro, é o nosso irmão. É homem como nós. Jesus é intercessor».

Na missa celebrada na manhã de 25 de Outubro o Papa chamou a atenção para um dos sacramentos principais da salvação humana, a confissão. Experimentamos a graça da vergonha quando confessamos a Deus o nosso pecado, falando «face a face» com o sacerdote, «nosso irmão». E não pensando em dirigir-nos directamente a Deus, como se fôssemos «confessar-nos por e-mail».

Depois de ter tido a sensação de ser libertado pelo sangue de Cristo e de ser «recriado», são Paulo sente que algo ainda o torna escravo. E na carta aos Romanos (7, 18-25) — recordou o Pontífice — define-se «infeliz». «Ontem, Paulo anunciava a salvação em Jesus Cristo pela fé», e hoje «como irmão descreve aos seus irmãos de Roma a sua luta interior: “Sei que na minha carne não habita o bem”. Há o desejo do bem, mas não a capacidade de o realizar. Não faço o bem que quero, mas o mal que aborreço. E este mal é feito pelo pecado que habita em mim». Ele confessa-se pecador: «Cristo salvou-nos, somos livres. Mas eu sou um pobre pecador, um escravo».

Trata-se da «luta dos cristãos», da nossa luta diária. «Quando quero fazer o bem — explicou o Papa — o mal está ao meu lado! No meu íntimo, digo sim à lei de Deus, mas nos meus membros vejo outra lei, que luta contra a lei da minha razão e me escraviza». E nós «nem sempre temos a coragem de falar como são Paulo sobre esta luta. Procuramos sempre uma justificação: «Somos todos pecadores!». É contra esta atitude que devemos lutar. Aliás, «se não reconhecermos isto — admoestou — não poderemos receber o perdão de Deus, pois se ser pecador é uma palavra, um modo de dizer, não precisamos do perdão divino. Mas se é uma realidade que nos escraviza, temos necessidade desta libertação interior do Senhor».

Durante a missa celebrada na manhã de quinta-feira, 24 de Outubro, o Papa repropôs a atitude com a qual os cristãos devem aproximar-se do mistério da salvação actuada por Jesus. Ao comentar a carta aos Romanos, o Santo Padre fez notar que o apóstolo indica «um caminho para viver conforme a lógica do antes e do depois».

«O que Cristo fez em nós — afirmou ainda o Papa — é uma recriação; o sangue de Cristo nos recriou; é uma segunda criação. E se anteriormente a nossa vida, o nosso corpo, a nossa alma, os nossos hábitos estavam no caminho do pecado, da iniquidade; depois desta recriação devemos fazer o esforço para percorrer no caminho da justiça, da santificação. Paulo utiliza esta palavra: santidade. Todos nós fomos baptizados. Naquele momento — éramos crianças — os nossos pais, em nosso nome, pronunciaram o acto de fé: creio em Jesus Cristo que perdoou os nosso pecados».

Esta fé — exortou o Pontífice — «devemos reassumi-la nós e levá-la em frente com o nosso modo de viver. E viver como cristãos significa levar em frente esta fé em Cristo, esta recriação. Levar em frente as obras que nascem desta fé. O importante é a fé, mas as obras são o fruto desta fé: levar em frente estas obras para a santificação. Eis: a primeira santificação que Cristo fez, a primeira santificação que recebemos no baptismos, deve crescer, deve ir em frente».

Sem esta consciência do antes e do depois, «o nosso cristianismo não serve a ninguém». Aliás, torna-se «hipocrisia: digo a mim mesmo que sou cristão, mas depois vivo como pagão». Se não considerarmos seriamente esta santificação, tornar-nos-emos como os que o Papa definiu «cristãos tíbios».

 



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