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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

Perfeito desconhecido

 Segunda-feira, 9 de maio de 2016

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 19 de 12 de maio de 2016

Um perfeito desconhecido ou até «um prisioneiro de luxo»: eis o que é o Espírito Santo para muitos cristãos que ignoram que é ele quem «move a Igreja», levando-nos a Jesus e tornando-nos «reais» e «não virtuais». O encorajamento a refletir sobre o papel central que o Espírito Santo desempenha na vida dos crentes, precisamente na semana que precede o Pentecostes, esteve no centro da homilia de Francisco.

No início da celebração o Papa, indicando a imagem de santa Luísa de Marillac posta ao lado do altar, recordou a comemoração da memória litúrgica. Com efeito, é a primeira vez que se celebra nesta data: desde a canonização, realizada em 1934, até hoje foi celebrada a 15 de março. Além disso, celebra-se também o aniversário da cerimónia de beatificação da santa, que teve lugar a 9 de maio de 1920. Um dia particularmente importante, explicou o Pontífice, porque Luísa de Marillac foi a fundadora das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, «as religiosas que trabalham e gerem» a Casa de Santa Marta. Desta forma, acrescentou Francisco, «ofereço esta missa pelas religiosas da casa».

Para a sua reflexão na homilia, o Papa inspirou-se no trecho dos Atos dos Apóstolos (19, 1-8). Paulo encontra-se em Éfeso com alguns discípulos que acreditavam em Jesus e pergunta-lhes: «Recebestes o Espírito Santo quando abraçastes a fé?». E eles, depois de se terem entreolhado surpreendidos, responderam-lhe: «Não, nem sequer ouvimos dizer que há um Espírito Santo!». Portanto, observou o Papa, «acreditavam em Jesus, eram bons discípulos, mas nem sequer tinham ouvido que existia o Espírito Santo».

Paulo retoma imediatamente o diálogo perguntando-lhes que batismo tinham recebido. E os discípulos: «O de João». Então, Paulo explica-lhes que «aquele era um batismo de penitência, de preparação». Ouvindo Paulo, os discípulos de Éfeso «foram batizados em nome do Senhor Jesus». Lê-se nos Atos: «E quando Paulo lhes impôs as mãos, o Espírito Santo desceu sobre eles, e falavam em todas as línguas e profetizavam». Portanto, explicou o Papa, «é um caminho: a via da conversão, mas faltavam o batismo e a imposição das mãos, para que viesse o Espírito Santo».

«Também hoje acontece o mesmo», afirmou o Pontífice. «A maioria dos cristãos» sabe pouco ou nada sobre o Espírito Santo, a ponto que se pode fazer própria a resposta dos discípulos de Éfeso a Paulo: «Não, nem sequer ouvimos dizer que há um Espírito Santo!». E se perguntássemos a tantas pessoas boas: «quem é o Espírito Santo para ti?» e «o que faz e onde está o Espírito Santo?», a única resposta será: «é a terceira pessoa da Trindade». Exatamente como aprendemos no catecismo. Certamente, «sabem que o Pai criou o mundo, porque a criação é atribuída ao Pai». E sabem também que «o Filho é Jesus, que nos redimiu e nos deu a vida». Portanto, «respondem assim» mas depois em relação ao Espírito Santo sabem que é «a terceira pessoa da Trindade». Mas se lhes perguntas: «o que faz ele?», respondem-te que «está ali!». «Os nossos cristãos são assim».

«O Espírito Santo — explicou Francisco — é quem move a Igreja; é quem trabalha na Igreja, nos nossos corações; quem faz de cada cristão uma pessoa diversa das outras, mas de todos faz unidade». Por conseguinte, prosseguiu, o Espírito Santo «é quem leva em frente, abre as portas de par em par e envia a dar testemunho de Jesus».

No início da missa, recordou o Pontífice, na antífona de entrada foi dito: «Recebereis o Espírito Santo e sereis minhas testemunhas em todo o mundo». Eis que «o Espírito Santo é quem estimula a louvar a Deus, a rezar: “Ora em nós”». O Espírito Santo «está dentro de nós e ensina-nos a olhar para o Pai e a dizer-lhe: “Pai”». E assim «liberta-nos desta condição de órfãos na qual o espírito do mundo nos quer manter». Por todas estas razões, explicou, o Espírito Santo «é tão importante: é o protagonista da Igreja viva: é ele quem trabalha na Igreja».

Neste ponto, o Pontífice advertiu sobre um perigo: «Quando não estamos à altura desta missão do Espírito Santo e não o recebemos desta forma», acabamos por «reduzir a fé a uma moral, a uma ética». E pensamos que cumprir todos os mandamentos é suficiente, «e nada mais». Assim, dizemo-nos: «posso fazer isto, não posso fazer aquilo; até aqui sim, até lá não!», caindo na «casuística» e numa «moral fria». Contudo, recordou o Papa, «a vida cristã não é uma ética: é um encontro com Jesus Cristo». E «quem me leva ao encontro com Jesus Cristo» é precisamente o Espírito Santo.

Deste modo, «nós, na nossa vida, temos no nosso coração o Espírito Santo como um “prisioneiro de luxo”: não deixamos que nos impulsione, não deixamos que nos mova». E no entanto «ele faz tudo, sabe tudo, sabe recordar-nos o que disse Jesus, sabe explicar-nos os temas de Jesus». Só há uma coisa que «o Espírito Santo não sabe fazer: cristãos de salão. Isto ele não sabe fazer! Não sabe fazer “cristãos virtuais”, não virtuosos». Pelo contrário, «faz cristãos reais: enfrenta a vida real tal como ela é, com a profecia do ler os sinais dos tempos, e leva-nos em frente desta maneira». Por isso «é o grande “prisioneiro do nosso coração” e dizemos que é a terceira pessoa da Trindade e ponto final».

«Esta semana — sugeriu Francisco — far-nos-á bem refletir sobre o que faz o Espírito Santo na nossa vida». Para ajudar este exame de consciência o Pontífice propôs algumas questões diretas: «Ensinou-me a estrada da liberdade? Aprendi-a por ele? Mas que liberdade? Qual liberdade? O Espírito Santo, que reside em mim, impele-me a sair: tenho medo? Como é a minha coragem, a que me dá o Espírito Santo, para sair de mim mesmo, para testemunhar Jesus? Como vai a minha paciência nas provações? Pois também a paciência é dada pelo Espírito Santo».

Precisamente «nesta semana de preparação para a solenidade de Pentecostes», o Papa convidou os cristãos a perguntar se deveras acreditam no Espírito Santo ou se para eles é só «uma palavra». E «procuremos — exortou — falar com ele e dizer: “Sei que estás no meu coração, que estás no coração da Igreja, que levas em frente a Igreja, que promoves a unidade entre todos nós, mas somos todos diversos, na diversidade de todos nós”». O convite é «dizer-lhe todas estas coisas e pedir a graça de aprender, mas na minha vida, o que faz ele de concreto». É «a graça da docilidade a ele, ser dócil ao Espírito Santo: esta semana façamos isto, pensemos no Espírito e falemos com ele».

 


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