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VISITA PASTORAL À PARÓQUIA ROMANA
DE SANTA MARIA LIBERATRICE
(NOSSA SENHORA DO LIVRAMENTO)

HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II

14 de Janeiro de 1979

 

Queridos Irmãos e Irmãs

1. Ouvimos a Palavra de Deus na liturgia de hoje, que nos fala, com a linguagem do livro de Samuel, da carta de São Paulo aos Coríntios e do Evangelho de São João. Embora estas linguagens, que ouvimos, sejam muito diversas, a Palavra de Deus do domingo de hoje fala-nos sobretudo duma questão: a «vocação», a «chamada». Vem isto acentuado na descrição que nos dá o livro de Samuel; Deus chama pelo nome um rapazinho; chama com voz perceptível, dizendo o seu nome. Samuel percebe a voz e desperta três vezes do sono, e três vezes não chega a compreender de quem seja aquela voz, quem o chama pelo nome. Só à quarta vez, ensinado por Heli, dá resposta adequada: Falai, Senhor; o vosso servo escuta (1 Sam. 6, 19-20).

Deus, que chama o homem ao seu serviço e lhe indica um encargo, tem para isso um direito fundamental. Só Ele tem esse direito, porque é Criador e Redentor de cada um de nós. Se nos chama, se nos convida a seguirmos um caminho determinado, fá-lo para nós não esbanjarmos a sua iniciativa; para nós respondermos com a nossa própria vida ao dom d'Ele recebido; para nós vivermos de modo digno do homem, que é «templo de Deus»; para nós sermos capazes de cumprir aquele dever particular que Ele deseja confiar-nos.

2. A Paróquia, que — segundo a afirmação do Concílio Vaticano II —é «como a célula» da Diocese (Cfr. Decr. Apostolicam Actuositatem, 10), é exactamente o ambiente, em que deve o cristão ouvir o chamamento que Deus lhe dirige, aceitá-lo e pô-lo em execução; e nisto é certamente ajudado pela fé e pela vida de fé de toda a comunidade paroquial. Vida de fé que tem início na família, dinamicamente inserida na paróquia, e se desenvolve, do Baptismo até ao encontro com Cristo na morte, seguindo o princípio da íntima colaboração entre família e paróquia, as quais cooperam juntas para a formação do cristão consciente e adulto.

Eis, portanto, a necessidade insuprimível da catequese paroquial, que integra e completa o ensino da Religião dado na Escola, e une o conhecimento religioso com a vida sacramental.

Exactamente neste contexto, cada um dos paroquianos — especialmente se for jovem — deve conscientemente fazer a si mesmo a pergunta fundamental da própria existência cristã: «Para que me chama Deus?». Poderá ser a chamada a uma determinada profissão, que ponha o chamado ao serviço dos outros e da sociedade, como ser médico, professor, advogado, profissional, operário ...; ou a vocação à vida familiar mediante o sacramento do Matrimónio; ou a chamada, para alguns, ao serviço exclusivo de Deus, como — é o que a liturgia nos recorda hoje — aconteceu com Samuel, com André e com Simão. Mas, toda a vida do homem e do cristão, fruto do amor infinito de Deus Pai, é uma «vocação», que abraça os diversos períodos da existência e imprime sentido nas diversas situações, mesmo ao sofrimento, à doença e à velhice. Sempre e em todas as circunstâncias, deve o cristão saber repetir, com fé e convicção, as palavras do jovem Samuel: Fala, Senhor, que o teu servo escuta (1 Sam. 3, 9).

3. Desejava que esta comovedora e generosa disponibilidade ao chamamento de Deus estivesse sempre actual em todos os numerosíssimos fiéis desta paróquia, para formarem uma comunidade cristã viva, alegre, e orgulhosa de saber dizer «sim» a Cristo e à Igreja.

O meu pensamento afectuoso vai primeiramente para o Pároco e seus colaboradores, que dedicam as suas energias com abnegação, ao bem da paróquia; para as crianças, que dão conforto e esperança; aos adolescentes, que vão dando os primeiros, talvez ainda difíceis, passos no sentido das obrigações da vida; para os jovens, que procuram a alegria, a plenitude da alegria; para os adultos ansiosos de contribuir, com todas as suas forças, para a construção duma sociedade mais justa e mais serena; para os pais e as mães, que desejam conservar e avivar a força da sua união indissolúvel; para os doentes, que sofrem no corpo e no espírito; para os anciãos, desejosos de compreensão, de afecto e de merecido respeito.

Uma recordação e saudação particular aos Religiosos e às Religiosas, que exercem o seu meritório apostolado no ambiente da paróquia: aos Salesianos de Don Bosco, que há 75 anos trabalham, com incansável dedicação, no bairro do Testaccio; às Filhas da Divina Providência; às Filhas de Maria Auxiliadora; à Comunidade da Congregação das Irmãs Mestras de Santa Doroteia Filhas dos Sagrados Corações.

4. A vossa paróquia, queridos Irmãos e Irmãs, é dedicada a Nossa Senhora do Livramento: do cimo do altar-mor sorri a sua imagem, fragmento duma antiquíssima pintura a fresco, que pertencia à igreja de «Santa Maria Liberatrice no Foro Romano», de que há notícias desde o século XII.

Este título, que usais para invocar aqui a Santíssima Virgem, é muito significativo: o homem aprecia muito a liberdade; mas simultaneamente não sabe muitas vezes usá-la; usa-a mal. Muitas vezes o uso desregrado da liberdade faz que o homem a perca; deixa de ser livre.

Cristo ensina-nos o bom e perfeito uso da liberdade. Disto tinha consciência de modo especial São Paulo, quando escrevia aos Gálatas: Foi para a liberdade que nos libertou Cristo (Gál. 5, 1).

A Mãe de Cristo colabora com o seu Filho nesta grande obra que Ele quer realizar em cada um de nós. E fá-lo de modo materno, e com tal amor que só a mãe pode exprimir.

Queridos Irmãos e Irmãs

Entreguemos a nossa liberdade a Maria. Ela nos ajudará a descobrir aquele bem verdadeiro que a liberdade encerra.

Ela nos ajudará a usar da liberdade do melhor modo; Ela que «liberta». assim como faz toda a mãe. Sabemos bem que muitas vezes basta o mesmo conhecimento existente n'Ela — que sente tudo quanto é capaz de embaraçar-nos, de aviltar-nos e de humilhar-nos — basta para aliviar os grandes pesos do nosso coração.

As vezes basta uma palavra sua, um olhar seu, um sorriso seu.

Ela «liberta» com bondade, de modo maternal.

Ao homem, caído no mais profundo e «enredado» nos muitos laços, é necessária esta segurança de haver Alguém diante de quem ele não perdeu o seu valor.

Mãe que «liberta» mediante o amor.

Suplico-vos, Mãe de Deus, Padroeira desta paróquia: A todos os teus filhos e às tuas filhas mostrai-Vos Libertadora.

Nossa Senhora do Livramento, rogai por nós!

 

© Copyright 1979 - Libreria Editrice Vaticana

 



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