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SANTA MISSA DA EPIFANIA COM O RITO DE ORDENAÇÃO EPISCOPAL

HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II

Basílica de São Pedro
Quinta-feira, 6 de Janeiro de 1983

 

1. "Levanta-te e resplandece (Jerusalém)! Chegou a tua luz, "a glória do Senhor levanta-se sobre ti" (Is. 60, 1).

Levanta-te, Jerusalém, recebe a luz! Esta luz vem a ti por um caminho distante, embora, esteja tão próxima. Próxima a não muitos quilómetros, ao Sul, veio a luz do Natal, e tu, Jerusalém, parece que não o sabes.

E foi até necessário que os Magos viessem do Oriente dizer-te, que viessem perguntar-te.

Tu, Jerusalém, pareces ignorá-lo.

E apesar disso os Magos dirigem-se a ti e interrogam-te:

porque "a glória do Senhor levanta-se sobre ti",

porque precisamente tu és a cidade, sobre a qual se concentrou toda a história da Revelação e da Aliança.

Em ti vêm procurar o Messias os Magos do Oriente.

E perguntam: "Onde está o rei dos Judeus que acaba de nascer? Vimos a Sua estrela no Oriente e viemos ado-rá-1'O" (Mt. 2, 2).

2. Tenhamos presente, caros irmãos e Irmãs, que os Magos viram uma estrela. Uma só estrela. E esta tornou-se para eles o sinal indicador. Decidiram segui-la.

Na noite de Belém os pastores que guardavam o seu rebanho viram um grande esplendor, "e a glória do Senhor refulgiu em volta deles, e tiveram muito medo" (Lc. 2, 9). Encontramo-nos, de facto, no centro mesmo da revelação, que havia séculos passava como uma vasta onda através da história do povo eleito. Os pastores de Belém pertencem a este Povo. Encontram-se no centro da Aliança. A glória do Senhor manifesta-se diante deles com uma grande luz e com as palavras da multidão do exército celeste (Cf. Lc. 2, 13).

Além deste circulo central da Revelação e da Aliança, uma só estrela no Oriente indica aos Magos que é preciso encaminhar-se para Jerusalém.

O caminho dos pastores foi breve. O caminho dos Magos é longo. Os pastores foram directamente rumo, à luz que refulgiu em volta deles na noite de Belém. Os Magos tiveram que procurar com perseverança, seguindo a estrela e deixando-se guiar pela sua luz.

Assim, diversos são os caminhos da fé que orientam os homens e os povos para Cristo.

3. Algumas vezes, todavia, é necessário que a luz venha de longe ao lugar onde deve resplandecer mais plenamente e que deve comunicá-la aos outros.

Assim era necessário que os Magos viessem do Oriente a Jerusalém e lhe anunciassem o nascimento do Messias.

E então aconteceu um facto ainda mais estranho. Herodes, "reunindo todos os príncipes dos sacerdotes e escribas do povo, perguntou-lhes onde devia nascer o Messias" (Mt. 2, 4).

Os príncipes dos sacerdotes e os escribas responderam logo. E responderam acertadamente: "em Belém da Judeia, pois assim foi escrito pelo profeta" (Mt. 2, 5). E releram uma passagem adequada do profeta Miqueias.

Por conseguinte, sabiam. Esta luz estava na sua própria casa. Havia tempo que iluminava o seu povo. Iluminava Jerusalém. Eles encontravam-se no centro mesmo da luz. E eis que imediatamente encontram as palavras justas no livro do profeta: "E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo nenhum a menor entre as principais cidades de Judá; porque de ti sairá o Príncipe que apascentará o Meu povo, Israel" (Mt. 2, 6).

Eles releram estas palavras, enrolaram as páginas do livro — e ficaram lá. Nenhum deles partiu para Belém. Uma grande luz encerrada no livro do Profeta parece não brilhar para eles. Só Herodes anuncia que vai a Belém; mas com que intenção? Todos o sabemos.

Entretanto os Magos partem. As palavras do livro de Miqueias reconfirmaram a luz, pela qual foram guiados. A estrela continua a guiá-los. Até ao lugar "onde estava o Menino" (Mt. 2, 9).

4. "Levanta-te (Jerusalém) e resplandece! Chegou a tua luz" (Is. 60, 1).

Caros Irmãos, que hoje recebeis a Ordenação Episcopal! São dirigidas a vós estas palavras:

Levanta-te Jerusalém! Acolhe a luz. Acolhe à luz da fé a tua nova vocação! Acolhe juntamente com ela a nova missão entre o Povo de Deus da Igreja!

Acolhe-a com fé n'Aquele que Te guia — do mesmo modo que os Magos do Oriente acolheram a luz da estrela que os guiava.

E acolhei também Vós, caros Irmãos, a nova vocação e a missão responsável para guiar na fé a Igreja de Deus nascida em Belém.

Vós representais vários Países: a Itália, a Polónia, a Espanha, a Alemanha, a Checoslováquia, a Nigéria, a Guiné Equatorial, o Panamá, o Uganda e a Coreia. Levai a todos a luz da Epifania!

Quão diversos são os caminhos da fé dos homens contemporâneos. Procurai com eles estes caminhos: seja com os que vêm de longe, seja com os que permanecem no centro mesmo da tradição cristã. Embora esta tradição não pareça; às vezes, animar os seus pensamentos e as suas obras. Sabem onde estão escritas as palavras sobre o Messias, e todavia não partem para Belém.

Vós, caros Irmãos, parti e guiai outros! Guiai todos aqueles que a Providência colocou no caminho da vossa vocação. Fazei tudo o que está nas vossas mãos para que cheguem a Belém.

E, sobretudo, detende-vos onde vos guia a luz da fé — e fazei tudo o que fizeram os Magos do Oriente; oferecei-Lhe os dons: ouro, incenso e mirra. O ouro do amor, o incenso da oração e a mirra do sofrimento.

5. Todos vós, que fostes chamados para receber hoje das mãos do Bispo de Roma a Ordenação Episcopal, inscrevei profundamente no vosso coração o mistério da Epifania.

Para a glória de Deus eterno e a salvação das almas.

Amém.

 

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