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HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II
NA FESTA DOS SANTOS PEDRO E PAULO
E IMPOSIÇÃO DO PÁLIO

29 de Junho de 1997

 

1. «Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a Minha Igreja» (Mt 16, 18).

A Liturgia da Palavra na hodierna Solenidade dos Santos Pedro e Paulo apresenta dois elementos que aparentemente parecem contradizer-se, mas na realidade se completam reciprocamente. Com efeito, de um lado temos a extraordinária vocação dos Apóstolos Pedro e Paulo e, do outro, as dificuldades que eles tiveram de enfrentar no cumprimento da missão recebida do Senhor.

No trecho evangélico Jesus dirige-se assim a Simão Pedro, perto de Cesareia de Filipe: «Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu, e o que ligares na terra será ligado no Céu, e o que desligares na terra será desligado no Céu» (Mt 16, 19). Assim, Cristo prenuncia a instituição da Igreja, fundando-a sobre o ministério de Pedro, que para ela reveste, consequentemente, um significado essencial e permanente.

Quando Jesus perguntara quem era o Filho de Deus, para o povo, os Apóstolos apresentaram várias opiniões surgidas entre os judeus. Mas quando lhes perguntou directamente: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» (Mt 16, 15), Pedro respondeu em nome dos Doze: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo» (Mt 16, 16).

Pedro fez a sua profissão de fé em Cristo e esta sua fé constitui o sólido fundamento do Povo da Nova Aliança. A Igreja não é antes de tudo uma estrutura social; é a comunidade daqueles que compartilham a mesma fé de Pedro e dos Apóstolos; a Comunidade daqueles que proclamam a única fé apostólica. Esta comum profissão de fé representa a autêntica razão de ser da própria Igreja como instituição visível: esta motiva e sustém cada um dos seus projectos e iniciativas.

2. Voltamos a escutar estas palavras de Jesus no dia em que recordamos com veneração os Santos Pedro e Paulo. Os Padres gostavam de os comparar a duas colunas, sobre as quais assenta a construção visível da Igreja. Seguindo a antiga tradição, a Liturgia celebra-os juntos, fazendo memória do seu glorioso martírio no mesmo dia: Pedro, cujo túmulo se encontra junto desta Colina do Vaticano, e Paulo, cujo sepulcro é venerado perto da «Via Ostiense». Ambos selaram com o próprio sangue o testemunho oferecido a Cristo, com a pregação e o ministério eclesial.

Bem sublinha este testemunho a hodierna Liturgia, que deixa ainda entrever a profunda razão pela qual convinha que a fé professada pelos dois Apóstolos com os lábios fosse também coroada com a suprema prova do martírio.

3. Tal motivo emerge do trecho dos Actos dos Apóstolos, há pouco proclamado, bem como do Salmo responsorial e da perícope da Carta a Timóteo, e é proposta de modo sintético no refrão do Salmo responsorial: «Bendito é o Senhor que liberta os Seus amigos» (cf. Sl 34[33], 5).

A primeira Carta evoca a libertação milagrosa de Pedro da prisão de Jerusalém, onde fora apriosionado pelo rei Herodes. Na segunda Carta, Paulo, como que resumindo toda a actividade apostólica e missionária, afirma: «Fui libertado da boca do leão» (2 Tm 4, 17). Ambos os testemunhos mostram, num certo sentido, o comum caminho percorrido pelos dois Apóstolos. Ambos foram enviados por Cristo para anunciar o Evangelho num contexto hostil à obra da salvação. Pedro experimentou essa resistência já em Jerusalém, onde Herodes, para conquistar os favores dos judeus, o lançou na prisão com a intenção de «apresentar Pedro ao povo» (Act 12, 4). Todavia, foi salvo de modo milagroso das mãos de Herodes e assim pôde levar a termo a própria missão evangelizadora, primeiro em Jerusalém e depois em Roma, pondo todas as suas energias ao serviço da Igreja que nascia.

Também Paulo, enviado pelo Ressuscitado a muitas cidades e populações pagãs, pertencentes ao Império Romano, encontrou fortes resistências tanto da parte dos compatriotas como da parte das autoridades civis. As suas Cartas constituem um esplêndido testemunho de tais dificuldades e da grande luta que ele teve de sustentar pela causa do Evangelho.

No fim da sua missão, pôde escrever: «O meu sangue está para ser derramado em libação, e chegou o tempo da minha partida. Combati o bom combate, terminei a minha corrida, conservei a fé» (2 Tm 4, 6-7).

Pedro e Paulo, cada um com a própria vicissitude pessoal e eclesial, testemunham que, também no meio de duríssimas provações, o Senhor jamais os abandonou. Estava com Pedro para o libertar das mãos dos opositores em Jerusalém; estava com Paulo nas contínuas fadigas apostólicas, para lhe comunicar a força da Sua graça, a fim de o tornar intrépido anunciador do Evangelho em benefício das nações (cf. 2 Tm 4, 17).

4. A Igreja é chamada a aprofundar o próprio ligame com o testemunho dos Apóstolos Pedro e Paulo. Celebrando a hodierna solenidade litúrgica, as comunidades cristãs do mundo inteiro reforçam entre si os vínculos de unidade fundados sobre a profissão da mesma fé em Cristo e sobre a caridade fraterna. Sinal eloquente de tal comunhão eclesial é o rito da imposição do sagrado Pálio da parte do Sucessor de Pedro sobre os novos Arcebispos Metropolitanos provenientes de várias nações.

Caríssimos Irmãos no Episcopado! Estou feliz por vos acolher nesta solene Celebração, durante a qual recebereis o Pálio como sinal de unidade com a Sé de Pedro e de partilha da missão, confiada por Cristo aos Apóstolos e aos seus sucessores, de anunciar o Evangelho a todos os povos. Juntamente convosco, desejo saudar e abraçar com afecto as Comunidades eclesiais que vos são confiadas, pedindo ao Senhor para os vossos fiéis a abundância dos dons do Espírito Santo.

5. O testemunho de fé e a árdua luta que os Apóstolos Pedro e Paulo tiveram de enfrentar pela causa do Evangelho, se forem considerados em termos simplesmente humanos, terminaram com uma derrota. Também nisto seguiram com fidelidade o modelo de Cristo. Com efeito, ainda humanamente falando, a missão de Cristo, condenado à morte e crucificado, terminou com uma derrota.

Todavia, ambos os Apóstolos, tendo o olhar fixo no Mistério pascal, não duvidaram que precisamente esta, que aos olhos do mundo parecia uma derrota, na realidade constituía o início da realização do plano de Deus. Era a vitória sobre as forças do mal, conquistada em primeiro lugar por Cristo e depois pelos Seus discípulos, mediante a fé. A inteira comunidade dos crentes está assente sobre os fundamentos firmes da fé apostólica e dá graças a Cristo pela rocha sólida, sobre a qual estão edificadas tanto a sua vida como a sua missão.

O Senhor, que hoje nos alegra com a gloriosa recordação dos Apóstolos Pedro e Paulo, nos conceda escutar com coração dócil, conservar com devoção e transmitir com fidelidade o seu ensinamento, a fim de que o anúncio evangélico chegue a todos os confins da terra.

Amém!

 

© Copyright 1997 - Libreria Editrice Vaticana

 



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