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VIAGEM APOSTÓLICA  DO PAPA JOÃO PAULO II
AO AZERBAIJÃO E À BULGÁRIA
 (22-26 DE MAIO DE 2002)

CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA

HOMILIA DO SANTO PADRE

Palácio de Desportos de Baku, Azerbaijão
Quinta-feira, 23 de Maio de 2002

 

1. "A honra, é, então, para vós que credes" (1 Pd 2, 7).

Sim, queridos Irmãos e Irmãs da comunidade católica de Baku, e vós, que provindes das comunidades católicas dos Países vizinhos, "honra... a vós que credes"! Saúdo também os cristãos da Igreja ortodoxa, que se uniram a nós neste momento solene de oração, juntamente com o seu Bispo Alexander. Dirijo também a eles a saudação feita pelo apóstolo Pedro aos primeiros cristãos: "honra... a vós que credes"!

A Igreja universal tributa a honra a todos os que souberam manter-se fiéis aos empenhos que derivam do seu Baptismo. Dirijo-me em particular a quantos habitam estavelmente neste País, e conheceram o drama da perseguição marxista, sofrendo as consequências da sua fiel adesão a Cristo. Vós, queridos Irmãos e Irmãs, vistes a vossa religião ridicularizada como uma superstição fácil, como uma tentativa de evitar as responsabilidades do empenho na história. Por isto fostes considerados cidadãos de segunda categoria e fostes, de muitas maneiras, humilhados e marginalizados.

2. "Honra... a vós que credes"! Honra aos vossos avós e às vossas avós, aos pais e às mães, que cultivaram em vós o rebento da fé, e o irrigaram de oração permitindo-lhe crescer e dar fruto. Honra também a ti, desejo repeti-lo mais uma vez, santa Igreja ortodoxa, que abriste as tuas portas aos fiéis católicos, que ficaram sem redil e sem pastor. O Senhor recompense a tua generosidade.

Saúdo com afecto os fiéis católicos que vieram dos Países vizinhos para partilhar hoje a alegria dos seus irmãos do Azerbaijão. Dirijo uma saudação particular ao Superior da "missio sui iuris" e à comunidade salesiana, que trabalha com ele no cuidado dos católicos. Queridos Irmãos e Irmãs, vós sois a prova viva de que a fé em Deus realiza prodígios. Sois poucos, pertencentes a vários grupos étnicos, espalhados num imenso território, mas o Bom Pastor fez com que permanecêsseis unidos.

3. "Eu sou o Bom Pastor, conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-me", diz o Senhor no trecho evangélico que ouvimos proclamar. Verdadeiramente, Senhor Jesus, tu conhecias as tuas ovelhas, mesmo quando eram perseguidas e obrigadas a esconder-se. Tu conhecia-las e estavas ao seu lado para as amparar quando, desencorajadas pelo duro isolamento físico e moral, sentiam a tentação de se espalhar.

Por seu lado, as tuas ovelhas não deixaram de Te conhecer e reconhecer, de sentir o conforto da tua presença, de te seguir, apesar das dificuldades do caminho. Que intercâmbio admirável!

Ofereceste a tua vida por elas, e elas ofereceram a sua vida por ti, rezando para que a sua fé não desfalecesse. E assim como tu retomaste de novo a tua vida, assim a comunidade dos que sobreviveram, tendo conquistado a liberdade, redescobriu a alegria de se reunir para celebrar a sua fé na tua casa, da qual agora se eleva de novo ao Céu, como perfume de incenso, a oração de louvor e de agradecimento.

4. Queridos Irmãos e Irmãs, filhos amadíssimos da Igreja católica, hoje o Papa está convosco. Também ele conhece os vossos sofrimentos, e trouxe-vos a todos no coração durante os anos da peregrinação no deserto da perseguição. Hoje veio aqui para participar da vossa alegria pela liberdade reencontrada e para vos apoiar no caminho que tem como última meta a terra prometida do Céu, onde o Senhor da vida enxugará todas as lágrimas: "Não haverá mais morte, nem luto, nem lamentos, nem dor, porque as coisas de antes passaram" (Ap 21, 4).

Amparados por esta certeza, vós sentis que chegou o tempo da alegria, o tempo da esperança. Sinal da sua manifestação é a primeira pedra da futura igreja paroquial, que vou benzer no final da Missa. Agradeço sentidamente ao Senhor Presidente da República a doação do terreno sobre o qual surgirá o novo edifício sagrado.

O Papa traz-vos a saudação e o apreço de toda a Igreja católica. Hoje o olhar de todos está voltado para ti, "pequeno rebanho" (Lc 12, 33). Não temas! Abre o teu coração, e tem confiança no Senhor. Já estás a experimentar a ressurreição, quase antecipando o encontro definitivo com Cristo glorioso.

5. Igreja que vives no Azerbaijão, hoje desejaria deixar-te como recomendação o que invocamos na Colecta da Eucaristia de hoje. Sente-te "povo reunido de todas as nações da terra na unidade de um só espírito".

A vossa comunidade, queridos Irmãos e Irmãs, exprime simbolicamente esta universalidade, constituída, como está, por pessoas de diversas proveniências, algumas com um passado e uma perspectiva de estabilidade, outras de passagem em direcção a outras terras. Todos formamos um só povo, animado por um só Espírito. Onde se celebra a Eucaristia, ali está presente a Igreja "una, santa, católica e apostólica".

Neste momento, parece-me que a colunata de Bernini, aqueles braços que da Basílica de São Pedro se abrem para abraçar o mundo, cheguem espiritualmente até nós para te apertar ao peito de Cristo e da sua Igreja também a ti, pequena comunidade católica do Azerbaijão. Neste abraço, o coração de toda a Igreja palpita de emoção e de amor por ti. Com ela e nela bate o coração do Papa, que veio até aqui para te dizer que te ama e que nunca se esqueceu de ti.

6. Sê fiel à tua missão! Conseguiste sê-lo na provação, quando levavas com lágrimas a semente para lançar à terra. Sê-o agora na alegria, quanto te preparas para colher os feixes das espigas (cf. Sl 125, 6). A tua missão consiste em conservar a fé e em testemunhá-la com uma vida que seja profecia, para que o mundo creia. Oxalá, olhando para ti, os teus irmãos e as tuas irmãs deste País, possam ver quanto crês, quanto esperas e quanto amas. Será esta a tua forma de mostrar a presença do Ressuscitado. O teu testemunho, que não pode contar com a abundância dos meios, se imponha pela força da graça de Cristo, fermento invisível, mas capaz de fermentar toda a massa.

Partilha as alegrias e as esperanças da humanidade que vive ao teu lado e contigo: tu fazes parte dela, e com ela deves esperar e trabalhar por um futuro que seja melhor para todos. Mesmo na prudência, tem a coragem da novidade. Há necessidade de novidades também aqui, nesta terra! Não a novidade que traz apenas a incerteza e a precariedade, não! Uma novidade que dê de novo a todos, sobretudo aos mais jovens, a vontade de viver e de lutar por um mundo mais justo e solidário.

7. Olha para estes jovens! Correm o risco de cair na miragem do ócio desmotivado, da riqueza fácil e desonesta. Mas também são capazes de vibrar por um ideal e de arriscar o heroísmo do sacrifício para fazer triunfar a justiça e favorecer a afirmação da liberdade e da paz. É necessário ensinar-lhes a serem corajosos. É preciso abrir-lhes a perspectiva luminosa da fé, da amizade de Cristo. Não há ousadia no bem que não encontre compreensão em Cristo, que é eternamente jovem!

Igreja que rezas, esperas e amas nesta terra do Azerbaijão, o Papa invoca sobre ti a bênção do Senhor. Leva-a aos teus pobres e doentes, às pessoas que sofrem. Leva-a a todos, como um contágio de graça e de amor. Nunca esqueças que és chamada a ser fermento que anima, porque o Senhor está contigo e precede-te no caminho. Amen!

  



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