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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II A TORONTO,
À CIDADE DA GUATEMALA E À CIDADE DO MÉXICO
(23 DE JULHO-2 AGOSTO DE 2002)

CANONIZAÇÃO DO ÍNDIO JUAN DIEGO CUAUHTLATOATZIN

HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II

Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, Cidade do México
Quarta-feira, 31 de Julho de 2002

 

1. "Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado!" (Mt 11, 25-26).

Queridos Irmãos e Irmãs, estas palavras de Jesus no Evangelho deste dia constituem, para nós, um convite especial para louvar e dar graças a Deus pela dádiva do primeiro Santo indígena do Continente americano.

É com grande alegria que fiz a peregrinação até esta Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, coração mariano do México e da América, para proclamar a santidade de Juan Diego Cuauhtlatoatzin, o índio simples e humilde que contemplou o rosto dócil e sereno da Virgem de Tepeyac, tão querido a todas as populações do México.

2. Agradeço as amáveis palavras que me foram dirigidas pelo Senhor Cardeal Norberto Rivera Carrera, Arcebispo da Cidade do México, assim como a calorosa hospitalidade dos homens e das mulheres desta Arquidiocese Primaz:  dirijo-vos a todos a minha cordial saudação. Saúdo também com afecto o Senhor Cardeal Ernesto Corripio Ahumada, Arcebispo Emérito da Cidade do México, e os outros Purpurados, Bispos do México, da América, das Filipinas e de outras regiões do mundo. Agradeço igualmente, e de maneira particular, ao Senhor Presidente da República e às Autoridades civis a sua presença nesta celebração.

Hoje, dirijo uma saudação muito especial aos numerosos indígenas provenientes das diferentes regiões do País, representantes das diversas etnias que compõem a rica e multiforme realidade mexicana. O Papa manifesta-lhes a sua proximidade, o seu profundo respeito e admiração, enquanto os recebe fraternalmente em nome do Senhor.

3. Como era Juan Diego? Por que motivo Deus fixou o seu olhar nele? Como acabámos de escutar, o livro do Eclesiástico ensina-nos que somente "Deus é todo-poderoso e apenas os humildes o glorificam" (cf. 3, 19-20). Inclusivamente as palavras de São Paulo, também proclamadas durante esta celebração, iluminam esta maneira divina de realizar a salvação:  "Deus escolheu aquilo que o mundo despreza [e que é insignificante]. Deste modo, nenhuma criatura se pode orgulhar na presença de Deus" (cf. 1 Cor 1, 28-29).

É comovedor ler as narrações guadalupanas, escritas com delicadeza e repletas de ternura. Nelas, a Virgem Maria, a escrava "que proclama a grandeza do Senhor" (Lc 1, 46), manifesta-se a Juan Diego como a Mãe do Deus verdadeiro. Ela entrega-lhe, como sinal, um ramalhete de rosas preciosas e ele, mostrando-as ao Bispo, descobre gravada no seu manto ("tilma") a imagem abençoada de Nossa Senhora.

"O acontecimento guadalupano como afirmaram os membros da Conferência Episcopal Mexicana significou o começo da evangelização, com uma vitalidade que ultrapassou qualquer expectativa. A mensagem de Cristo através da sua Mãe assumiu os elementos centrais da cultura indígena, purificou-os e atribuiu-lhes o definitivo sentido de salvação" (14 de Maio de 2002, n. 8). Desta maneira, Guadalupe e Juan Diego possuem um profundo sentido eclesial e missionário, e constituem um paradigma de evangelização perfeitamente inculturada.

4. Com o salmista, acabámos de recitar: "Do céu, o Senhor contempla e vê todos os homens" (Sl 33 [32], 13), professando uma vez mais a nossa fé em Deus, que não considera as diferenças de raça ou de cultura. Ao acolher a mensagem cristã, sem renunciar à sua identidade indígena, Juan Diego descobriu a profunda verdade da nova humanidade, em que todos são chamados a ser filhos de Deus em Cristo. Desta forma, facilitou o encontro fecundo de dois mundos e transformou-se num protagonista da nova identidade mexicana, intimamente vinculada a Nossa Senhora de Guadalupe, cujo rosto mestiço dá expressão da sua maternidade espiritual que abarca todos os mexicanos. Por isso, o testemunho da sua vida deve continuar a dar impulso à edificação da Nação mexicana, a promover a fraternidade entre todos os seus filhos e a favorecer cada vez mais a reconciliação do México com as suas origens, os seus valores e as suas tradições.

Esta nobre tarefa de edificar um México melhor, mais justo e mais solidário, exige a colaboração de todos. Em particular, hoje em dia é necessário apoiar os indígenas nas suas aspirações legítimas, respeitando e defendendo os valores autênticos de cada um dos grupos étnicos. O México tem necessidade dos seus indígenas e os seus indígenas precisam do México!

Amados Irmãos e Irmãs de todas as etnias do México e da América, ao exaltar neste dia a figura do índio Juan Diego, desejo expressar-vos a proximidade da Igreja e do Papa em relação a todos vós, enquanto vos abraço com amor e vos animo a ultrapassar com esperança as difíceis situações por que estais a passar.

5. Neste momento decisivo da história do México, tendo já passado o limiar do novo milénio, recomendo à valiosa intercessão de São Juan Diego as alegrias e as esperanças, os temores e as angústias do querido povo mexicano, que trago com muito afecto no íntimo do meu coração.

Ditoso Juan Diego, índio bondoso e cristão, em quem o povo simples sempre viu um homem santo! Nós te suplicamos que acompanhes a Igreja peregrina no México, para que seja cada dia mais evangelizadora e missionária. Encoraja os Bispos, sustenta os presbíteros, suscita novas e santas vocações, ajuda todas as pessoas que entregam a sua própria vida pela causa de Cristo e pela difusão do seu Reino.

Bem-aventurado Juan Diego, homem fiel e verdadeiro! Nós te recomendamos os nossos irmãos e as nossas irmãs leigos a fim de que, sentindo-se chamados à santidade, penetrem todos os âmbitos da vida social com o espírito evangélico. Abençoa as famílias, fortalece os esposos no seu matrimónio, apoia os desvelos dos pais, empenhados na educação cristã dos seus filhos. Olha com solicitude para a dor dos indivíduos que sofrem no corpo e no espírito, de quantos padecem em virtude da pobreza, da solidão, da marginalização ou da ignorância. Que todos, governantes e governados, trabalhem sempre em conformidade com as exigências da justiça e do respeito da dignidade de cada homem individualmente, para que desta forma a paz seja consolidada.

Amado Juan Diego, a "águia que fala"! Ensina-nos o caminho que conduz para a Virgem Morena de Tepeyac, para que Ela nos receba no íntimo do seu coração, dado que é a Mãe amorosa e misericordiosa que nos orienta para o Deus verdadeiro.

No final da celebração, antes de conceder a Bênção apostólica a todos os fiéis ali presentes, o Santo Padre disse:

Ao concluir esta Canonização de Juan Diego, desejo renovar a minha saudação a todos vós que nela pudestes participar, alguns nesta Basílica, outros nos arredores e muitos outros ainda através da rádio e da televisão. Agradeço de coração o afecto de todas as pessoas que encontrei pelas ruas que percorri. No novo Santo, encontrais o maravilhoso exemplo de um homem justo, de costumes rectos, leal filho da Igreja, dócil aos pastores, amante da Virgem e bom discípulo de Jesus. Ele seja um modelo para vós, que muito o amais, e oxalá interceda pelo México, a fim de que seja sempre fiel. Levai a todos quantos a mensagem desta celebração, além da saudação e do afecto do Papa a todos os mexicanos.

 



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