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MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II
AOS FIÉIS DO BRASIL
PARA A CAMPANHA DA FRATERNIDADE DE 1982
 

 

Amados irmãos e irmãs do Brasil
Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!

1. Ao saudar-vos cordialmente, nesta abertura da Campanha da Fraternidade no vosso País, revive em meu espírito, na saudade, o encontro convosco, quando da minha visita pastoral. O Papa não vos esquecerá nunca mais, continua a pensar em cada um, e, com afeto em Cristo, a rezar por todos os brasileiros e a amar-vos.

Nessa viagem pelo vosso querido Brasil tive a satisfação de vos ver, num momento, todos unidos em comuns sentimentos junto do Papa. Hoje como então, tudo quero referir a Jesus Cristo Senhor, com o seu peculiar direito de cidadania na história do homem e da humanidade; e hoje como então, venho apelar para a vossa unidade, como irmãos, forte só com a verdade de Cristo: esta verdade tornar-vos-á livres.

É este o "slogan" da Campanha que hoje se inicia. Ela intenta levar os homens, numa nação imensa como a vossa, a sentirem-se todos irmãos, mediante a educação, como caminho para a verdade.

2. Mas o "que é a verdade?"

A pergunta não é nova, como não é nova a atitude do mundo diante das exigências da verdade. Vós recordais: um dia, o procurador romano dirigiu-se a Jesus Cristo (cf. Jo 18, 38); e, no caso, a resposta verbal fora por Ele dada em precedência (cf. Jo 14, 6) e a resposta real estava ali: o mesmo Cristo. Mas Pilatos não o reconheceu, como não o reconheceu o mundo (cf. Jo 1, 10). Ali, só foi "reconhecido como homem, por todo o seu exterior", e visto humilhado e obediente (cf. Flp 2, 6). Mas foi em Cristo e por Cristo que o homem adquiriu plena consciência da sua dignidade, do valor transcendente da própria humanidade e do sentido da sua existência. E para isto, para a Vida em plenitude. Ele continua a ser o Caminho e a Verdade: a verdade tornar-vos-á livres.

3. Na nossa época, marcada pelos contrastes do modelo predominante de sociedade industrial, a educação é desafio posto a todos os homens de boa vontade, desafio à atividade pedagógica da Igreja, que faz parte da sua missão evangelizadora. Bem se andou, pois, na escolha do campo de atuação da Campanha e da perspectiva que se lhe deu: "os quê ensinam os outros, um dia, como estrelas no céu brilharão" (Cântico de Entrada da Missa proposta).

Oxalá nesta Quaresma, buscando responder ao desafio "educação", todos saibam sentir-se irmãos e encarnar o papel do "Bom Samaritano" em relação ao próximo desprovido, despojado ou ferido "à margem

do caminho" por onde avança a civilização. O primeiro "Bom Samaritano", nós o sabemos, é Cristo com sua Verdade: Ele, sendo de condição divina, se aproximou de nós — "despojados" e "feridos" pelo pecado — fez de nós o Seu próximo, para nos ajudar, nos curar e nos salvar, restituindo-nos à liberdade e nobreza: "a verdade tornar-vos-á livres".

4. O tempo litúrgico da Quaresma chegou: tempo de conversão, de penitência e de verdade. Ele nos é proporcionado em Igreja e pela Igreja, para nos purificarmos do egoísmo e dos apegos excessivos a certos bens ou privilégios, materiais ou de outra ordem, que criam distâncias dos irmãos menos favorecidos; e estes têm direitos que nos dizem respeito, nos hão-de interpelar, porque também eles criados à imagem e semelhança de Deus, abrangidos na "renovada criação" operada por Cristo Redentor do homem.

Nos nossos atos penitenciais da Quaresma, guie-nos a certeza de que "na plenitude de justiça num coração humano, no coração do Filho Primogénito de Deus, se torna possível a justiça dos corações de muitos homens, predestinados desde a eternidade para se tomarem filhos de Deus" (Enc. Redemptor Hominis, n. 9). E no nosso "jejum e abstinência" para poder dar e darmo-nos, guie-nos o espírito de filhos de Deus, espírito de amor e de partilha, em comunhão com o Pai que está nos céus e em comunhão com todos os irmãos, buscando a "justiça" servindo, em diálogo, participação e colaboração.

5. Assim, ao tomardes parte, com intenções esclarecidas, no que se faz pela fraternidade no campo da educação em vossas Igrejas locais, sede generosos: vós estais a proporcionar os meios, incluindo os meios materiais, para cada um dos irmãos poder viver dignamente e chegar a assumir a tarefa da sua promoção humana integral, a nível de pessoa, de família e de pequeno grupo social.

Tende os olhos postos em Jesus, o "Bom Samaritano". Ele, ensinando como deverá ser a fraternidade, resumiu tudo na conhecida oração: "Pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino..." (Mt 6, 9). Este "reino", em que Cristo é Senhor, é uma família que, com o pão de cada dia, se preocupa com os valores do espírito, prevalecendo aí o sentido do perdão e da misericórdia, com a solicitude, por evitar ciladas e tentações do espírito do mal, demolidoras das bases do mesmo reino, "reino de verdade e de vida, de santidade e de graça, de justiça, de amor e de paz" (Prefácio da Solenidade de Cristo-Rei).

Que nesta Quaresma e sempre todos os brasileiros se sintam cada vez mais irmãos, cada vez mais na família dos filhos de Deus, com a minha Bênção Apostólica.

Em nome do Pai / e do Filho / e do Espírito Santo. /Amém! 



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